quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Cinema-denúncia numa verdade filmada

A exploração sexual e conseqüente prostituição infantil é crime. Isso o já mundo sabe. Mas em alguns casos por todo o Brasil não existe denúncia ou ação que dê jeito. E o que acontece diariamente é exposto nesse novo Anjos do Sol, produção brasileira e estréia do gaúcho Rudi Lagemann em longas.

No início tomamos logo um tapa na cara: aliciador (Chico Diaz, nojentamente perfeito) chega numa aldeia de pescadores para levar menininhas para trabalhar. Um casal tenta vender filha mais velha, mas como está com piolhos, joga Maria (Fernanda Carvalho) de apenas 12 anos na negociação. Detalhe: eles supõem que ela irá trabalhar para famílias em outro estado. Transportadas às escondidas e como carga, Maria se junta a outras mercadorias, meninas assim como ela, prestes a serem mais uma vez colocadas à venda.

Agora vem o soco no estômago: repassadas para uma madame (Vera Holtz), elas serão tratadas para irem a leilão, compradas por poderosos, políticos e fazendeiros. Aí tome, bebidas goela abaixo, estupro, violência e prostituição. E acreditem, ainda fica pior.

Funcionando incisivamente como denúncia o filme é perfeito, cruel e real, fazendo uso de cenas fortes e de apelo social, mas dramaticamente a estória escorrega um pouco, tentando fazer com que o espectador torça para que algo de positivo aconteça as protagonistas. Mas temos que lembrar que todo o tema abordado pelo filme infelizmente acontece com maior ou menor gravidade no nosso país, naturalmente.


O elenco infantil está bem calibrado, com uma dose de inocência permeando os olhares e atitudes das meninas, apesar do clima pesado atingido pelo filme. Os veteranos Vera Holtz e Chico Diaz estão ótimos, mas é impossível não ficar enojado (no bom sentido) com as atuações fantásticas de Otávio Augusto e de Antônio Calloni, esse sim, o dono do filme, simplesmente genial.

A ferida está aberta, e o que o diretor pretende com o filme é alertar para algo que já sabemos, mas que parecemos não nos importar. E o que Lagemann coloca na tela implora para ser discutido e denunciado, assim como todo problema social no Brasil.

Deve ser muito dolorido para uma mãe assistir ao filme e inevitavelmente não pensar em suas filhas, mas ainda assim merece ser visto por todos pelo tema duro e real, como uma verdade filmada.

INFORMAÇÕES ESPECIAIS

Festival de Gramado: Anjos do Sol (dividindo com Serras da Desordem) levou o Kikito de Melhor Filme 34º Festival de Gramado. Ganharam também Antonio Calloni (ator), Otávio Augusto (coadjuvante), Mary Scheila (atriz coadjuvante.), roteiro e edição;

Festival de Miami: No Festival Internacional de Cinema de Miami, em março de 2006, Anjos do Sol ganhou pelo júri popular como melhor longa de ficção ibero-americano;

Elenco: Vera Holtz, Chico Diaz, Antônio Calonni e Otávio Augusto, participaram do filme pela causa, topando ganhar um cachê simbólico, não revelado;

Rudi Lagemann: diretor de Anjos do Sol, escreveu também o roteiro, fez a co-edição e produziu o longa.

> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 25/10/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Se no meio do que você tá fazendo você pára, Arnaldo Antunes.

Quebra-Cabeça

Para quem gosta de um enredo com várias reviravoltas, vai se deliciar com esse Xeque-Mate. Emoldurando um quebra-cabeça intricado e bem escrito, um elenco de caras conhecidas: Josh Hartnett, Bruce Willis, Morgan Freeman, Ben Kingsley, Lucy Liu, Stanley Tucci e Danny Aiello.

Contar muito sobre o filme antes de assisti-lo não seria nem um pouco bacana, aqui conto apenas um esboço da história: confundido com outra pessoa, Slevin (Hartnett) entra num jogo de mortes e traição entre dois gângsters (Freeman e Kingsley) e um matador profissional (Willis). Ao mesmo tempo envolve-se com sua vizinha, uma bela legista (Liu).

A cada passo os desdobramentos vão aumentando e as cenas tornam-se cada vez mais interessantes, com um detalhe: é um filme policial, mas quase não contém cenas de ação e ainda assim consegue prender o espectador. Esse é o poder de uma boa história.

Tentar adivinhar o que sucede a cada cena é bobagem. Concentre-se e receba tudo que passa na tela como um grande blefe, mas positivamente. Assim, você poderá absorver todas as surpresas que são jogadas na tela com bastante estilo pelo diretor Paul McGuigan (de Amor à Flor da Pele).

Com um final imprevisível, Xeque-Mate lembra muito os filmes do diretor Guy Ritchie (Snatch - Porcos e Diamantes; Jogos, Trapaças & Dois Canos Fumengantes) e funciona como algo entre Jackie Brown e um sub Pulp Fiction - Tempo de Violência.

XEQUE-MATE (Lucky Number Slevin, EUA/ALE, 2006). De Paul McGuigan.
Com Josh Hartnett, Bruce Willis, Morgan Freeman, Ben Kingsley, Lucy Liu, Stanley Tucci, Danny Aiello, Mykelti Williamson e Sam Jaeger.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 29/09/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Nonono, Conjunto Roque Moreira.

Uma vez já é demais

em 2005 foi lançado uma comédia chamada Penetras Bons de Bico. Foi um estouro e consolidou a carreira do grandalhão Vince Vaughn e do aloirado Owen Wilson, dando cacife para que eles fossem produtores de seus próximos filmes. Vaughn produziu e atuou em Separados pelo Casamento, uma comédia romântica bacana que obteve sucesso de público e crítica.



Já Wilson produziu e estrelou nesse novo Dois É Bom, Três É Demais que se denomina uma comédia. Uma comédia que ora quer ser pastelão, ora tenta ser uma comédia inteligente, uma pitadinha de romance, mas que de tão irregular não consegue achar seu tom ideal.

A história gira em torno de Carl (Matt Dillon, indicado para o Oscar de Coadjuvante por Crash - No Limite) e Molly (Kate Hudson, linda!), que após casarem têm de agüentar o padrinho de casamento (Wilson) instalado na sua casa temporariamente.

O amalucado Wilson têm algumas tiradas cômicas, todas elas físicas e de pouca sutileza, mas nada que faça o filme decolar, beirando até a forçação de barra.

Com um enredo que a gente sabe onde vai dar, tudo que esperamos é que surja uma cena que nos faça pelo menos dar uma bela risada. Mas o que vemos na tela causa apenas alguns sorrisos amarelos. Muito pouco para quem já fez meio mundo se esbaldar de rir com Penetras Bons de Bico (com Owen Wilson) e se divertir com uma inteligente comédia romântica Como Perder Um Homem Em 10 Dias (com Kate Hudson).

Ah, e Michael Douglas faz uma ponta como o pai (durão) da noiva. Nessas alturas, já não importa tanto. Para quem curte uma comédia bobinha, vale arriscar.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 22/09/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Vendedor de Cajuína, Conjunto Roque Moreira.

Trash, trash, trash!

Os produtores tinham tudo planejado para fazer mais um filme cult. Escolheram um roteiro podreira que ninguém queria filmar há anos. Soltaram na internet notícias que o filme era um conceito de sucesso. Contrataram um diretor afeito ao tema sangue versus risos (David R. Ellis, de Premonição 2) e um astro que topa qualquer parada (Samuel L. Jackson, indicado ao Oscar de melhor coadjuvante por Pulp Fiction, lembram?).


Sim, topa qualquer parada, porque esse novo Serpentes à Bordo é simplesmente um lixo!

O fiapo de história: testemunha ocular de um perigoso criminoso embarca num avião escoltado pelo agente do FBI Neville Flynn (Jackson) rumo à Los Angeles. Para eliminá-lo, o mafioso Chen solta em pleno vôo mais de 400 serpentes venenosas prontas para atacar.

E agora, o que fazer? Chamar o Chapolin Colorado? Não! Samuel L. Jackson (com a maior pose de bonzão) resolve a parada! Além de ser um filme extremamente previsível, o que assistimos na tela é um festival de frases toscas e atuações (ou gritos) dignas de Framboesa de Ouro, com uma série de cenas nojentas, bizarras e absurdamente engraçadas (o cachorrinho, as mortes no banheiro, o braço podre do pirralho e uma 'homenagem' a outro trash Anaconda...), refletindo tudo isso na sua bilheteria, bem aquém do esperado.

Se você tiver tempo não o perca nesse filme, a não ser que masoquismo e dinheiro sobrando para torrar numa porcaria não seja um problema.

SERPENTES À BORDO (Snakes on the Plane, EUA/ALE, 2006).
De David R. Ellis. Com Samuel L. Jackson, Julianna Margulies e Nathan Phillips. 105 min.


> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 08/09/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Insônia, Cosmotone.

Tensão Inútil

Hollywood anda mesmo sem idéias. Mais uma refilmagem chega aos cinemas, Poseidon (no original O Destino de Poseidon de 1972) sem novidades, apenas com efeitos especiais de primeira e uma estória ainda mais rala que o original.

Vamos ao fiapo de roteiro: Uma onda gigante e traiçoeira faz o milionário transatlântico Poseidon tombar em plena comemoração de Ano Novo. Submersos em agonia, os passageiros tentam desesperadamente sobreviver a todo custo. Inundações, incêndios, explosões, desabamentos e uma contagem de corpos altíssima comprovam a intenção de ser filme-catástofre, que só não é realmente uma catástofre graças a duas coisas: ao veterano diretor Wolfgang Petersen (de Mar em Fúria e Tróia), que tem habilidade de sobra para manejar cenas com alto nível de tensão e conta com um arsenal de efeitos especiais de última geração. Toda tensão que U$ 160 milhões de dólares possam pagar.

Mas tudo isso não consegue comprar um roteiro em que apenas acompanham-se as cenas de perigo, mas sem o envolvimento dramático com os personagens (diferentemente do original). Percebem-se atores sem rumo (Kurt Russell, Richard Dreyfuss, Emmy Rossum e Josh Lucas) com personagens nada trabalhados e afogados em diálogos pífios e risíveis.

Se fosse um filme mudo seria perfeito, vale como diversão passageira e só.

POSEIDON (idem, EUA, 2006). De Wolfgang Petersen.
Com Kurt Russell, Richard Dreyfuss, Emmy Rossum e Josh Lucas. 96 min.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Vida & Arte, em 30/06/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Liar, Cliftons.

Narfs, Scrunts, Tartutics e a grande Eatlon

Bem vindo ao mundo mágico de M. Night Shyamalan. Você pode não ter ouvido falar nesse nome, mas com certeza já assistiu a algum filme dele. Diretor, roteirista e produtor de seus filmes (além de fazer pontas como ator), Shyamalan nos apresenta em A Dama na Água mais uma vez um mundo particular com personagens estranhos e de situações incomuns. Tão diferente quanto igual aos anteriores. De diferente percebe-se o tema, de uma mitologia tão irreal como qualquer outra. De igual percebemos temas subjetivos (alguns até demais), sustos e seu clima de mistério.

Cleveland Heep (Paul Giamatti, tímido e cômico naturalmente) descobre uma Narf (Bryce Dallas Howard, maravilhosa de tão pura e frágil), uma criatura vinda do Mundo Azul para ajudar os homens, em especial um escritor, que tem como missão escrever algo que vai inspirar toda a humanidade a escutar sua voz interior, a voz da razão, do sentimento puro e da paz.

Sabe quem interpreta o escritor? O próprio Shyamalan! Será uma mensagem que ele precisa de inspiração? Bem, inspiração ele tem de sobra e suas viagens estão cada vez mais altas (mas isso não é sinônimo de cada vez melhores).

De narrativa irregular, seu roteiro por vezes consegue transparecer com simplicidade suas mensagens de fé, mas seus sentimentos nem sempre fazem da sua fábula uma perfeita estória de ninar. À medida que a estória avança, seu nível de suspense compete de igual para igual com lances de comédia involuntária e frases de efeito.

Como cenário temos um condomínio, que funciona como um microcosmo do mundo, habitados por tipos esquisitos que beiram o caricatural, com analogias a sentimentos de perda, proteção e sua busca de um sentido maior para a vida.

Mas quem são os Scrunts, os Tartutics e a Grande Eatlon? Personagens do seu mundo particular que habitam esse A Dama na Água, onde tudo que Shyamalan pede é que escute sua voz interior e acredite no que se passa na tela grande. Afinal, o cinema ainda é um lugar mágico em que podemos sonhar.

INFORMAÇÕES ESPECIAIS

M. Night Shyamalan: Diretor, roteirista, produtor e ator em seus filmes, Shyamalan possui grandes sucesos no currículo (O Sexto Sentido – indicado para o Oscar, Corpo Fechado, Sinais e A Vila);

Livro: Após gerar mais de 1 bilhão de dólares para os cofres da Disney, Shyamalan foi removido de fazer A Dama na Água na Disney por que a mesma queria modificar a essência de sua estória e não queria que ele participasse do filme como um de seus atores. O livro chama-se The Man Who Heard Voices: Or, How M. Night Shyamalan Risked His Career on a Fairy Tale ("O Homem que Ouvia Vozes ou como M. Night Shyamalan Arriscou Sua Carreira com um Conto de Fadas") e foi escrito em parceria com o jornalista Michael Bamberger;

Bryce Dallas Howard: Filha do diretor de cinema Ron Howard (Oscar por Uma Mente Brilhante), Bryce já foi dirigida por Shyamalan com destaque em A Vila e por Lars Von Trier no polêmico Manderlay (continuação do explosivo Dogville);

*Paul Giamatti: Indicado para o Oscar de Melhor Ator por Anti-Herói Americano, brilhou também em O Mundo de Andy e Sideways – Ente Umas e Outras;

James Newton Howard: Indicado em 6 oportunidades ao Oscar, Howard colaborou em outros filmes de Shyamalan e teve sua última indicação ao Oscar por A Vila (2004).

> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 20/09/2006.

*Coreção: Indicado ao Oscar de ator coadjuvante por A Luta Pela Esperança (2004).

Trilha sonora nas caixetas: Rótulo, Enverso.

O Mundo Mágico de Shyamalan

M. Night Shyamalan. Você pode não ter ouvido falar nesse nome, mas com certeza já assistiu a algum filme dele. Diretor, roteirista e produtor de seus filmes (além de fazer pontas como ator), Shyamalan surpreendeu o mundo com O Sexto Sentido, intrigou com Corpo Fechado, assustou com Sinais e espantou com A Vila. Agora Shyamalan nos traz A Dama na Água, tão diferente quanto igual aos anteriores. De diferente percebe-se o tema, de uma mitologia tão irreal como qualquer outra. De igual percebemos temas subjetivos (alguns até demais), sustos e seu clima de mistério.

Cleveland Heep (Paul Giamatti, tímido e cômico naturalmente) descobre uma Narf (Bryce Dallas Howard, maravilhosa de tão pura e frágil), uma criatura vinda do Mundo Azul para ajudar os homens, em especial um escritor, que tem como missão escrever algo que vai inspirar toda a humanidade a escutar sua voz interior, a voz da razão, do sentimento puro e da paz.

De narrativa irregular, seu roteiro por vezes consegue transparecer com simplicidade suas mensagens de fé, mas seus sentimentos nem sempre fazem da sua fábula uma perfeita história de ninar. À medida que a história avança, seu nível de suspense compete de igual para igual com lances de comédia involuntária e frases de efeito.

Como cenário temos um condomínio, que funciona como um microcosmo do mundo, habitados por tipos esquisitos que beiram o caricatural, com analogias a sentimentos de perda, proteção e sua busca de um sentido maior para a vida.
Mas quem são os Scrunts, os Tartutics e a Grande Eatlon? Personagens do seu mundo particular que habitam esse A Dama na Água, onde tudo que Shyamalan pede é que escute sua voz interior e acredite no que se passa na tela grande. Afinal, o cinema ainda é um lugar mágico.


A DAMA NA ÁGUA (Lady in the Water, EUA, 2006).
De M. Night Shyamalan. Com Paul Giamatti, Bryce Dallas Howard, Jeffrey Wright, Bob Balaban, Freddy Rodriguez e M. Night Shyamalan. 110 min.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 08/09/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Temporal, Enverso.

É pra rir ou pra assustar?

Ano 2000. Após uma enxurrada de fitas de terror adolescente que vieram na cola do sucesso-surpresa de 1996, Pânico, estreava na cidade outro do gênero. Os mais novos vibraram com mais um filme em cartaz que pudessem assustá-los. Tudo apontava para o lugar comum. Foi aí que aconteceu a (boa) surpresa. Com o título de Premonição, o filme era dirigido por um veterano da série de tv Arquivo X e trazia uma história de jovens que escapavam de um desastre de avião graças a uma visão premonitória de um dos rapazes. A partir daí, a morte passa a persegui-los e nós contemplados com boas doses de sustos e cenas morbidamente bem boladas. Com seu sucesso de bilheteria, fazer uma continuação foi inevitável.


Premonição 2 trazia no elenco apenas uma sobrevivente do filme anterior e dessa vez somos apresentados a um acidente rodoviário, numa incrível seqüência de colisões numa auto estrada. O início prometia, mas depois a seqüência dá uma descambada para cenas em que o riso é inevitável. Ficou no meio termo, assim um terror engraçadinho. Alguns milhões de dólares depois chegamos a esse Premonição 3.

Agora não existe mais nenhum personagem de ligação entre os filmes, apenas o nome como franquia e a mesma história contada de novo. Garota prevê um acidente fatal para todos os ocupantes de uma montanha-russa. Desacreditada é retirada do brinquedo na companhia de alguns conhecidos, porém sua premonição torna-se realidade. Aí começa uma luta pela sobrevivência. Tudo que os anteriores tinham de bacana (mortes criativas, cenas aterrorizantes e um sentido para a história) transformam-se em coisa nenhuma. Aqui temos personagens estereotipados em situações forçadas e tudo que esperamos acontecer são novas formas de morrer estupidamente. Nem mesmo o retorno do diretor original, James Wong, ajudou no produto final. Na verdade esse é o pior filme dos três.

O mote da série Premonição é que os personagens sempre tentam enganar a morte, mas dessa vez com mais risos (involuntários) do que sustos.

PREMONIÇÃO 3 (Final Destination III, EUA, 2006).
De James Wong. Com Mary Elizabeth Winstead, Ryan Merriman, Kris Lemche, Alexz Johnson, Sam Easton e Jesse Moss. 93 min

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 21/07/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Asas, Maskavo.

Garfield para as crianças

Ele é o rei do pedaço. Fofo e inteligente. Seu prato predileto é uma bela lasanha. Odeia as segundas-feiras. Adora se esticar no sofá. O controle remoto da TV sempre fica com ele. Suas falas são cínicas e cheias de graça. Seus maus modos são apenas detalhes. É folgado e está sempre metido em confusões. Quem é? Garfield, é claro! Criado em 1978 por Jim Davis no formato de tirinhas para jornal, o personagem aparece mais uma vez nos cinemas, agora com sua segunda aventura, Garfield 2 (Garfield: A Tail Of a Two Kities, EUA, 2006) e com um enredo feito para atingir ainda mais a criançada.

Jon (Breckin Meyer) viaja para a Inglaterra com a intenção de pedir sua namorada Liz (Jennifer Love Hewitt) em casamento. Como não poderiam ficar de fora, Garfield e o cachorro Odie também embarcam e acabam se envolvendo numa troca de identidades. Garfield é confundido com Prince, um gato de uma família real e herdeiro de uma fortuna. Preterido no testamento, Lord Dagis (Billy Connolly) tenta a todo custo livrar-se do gato afortunado, para transformar toda a propriedade num spa e hotel, destruindo assim fazenda e eliminado todos os animais.

O início até agrada aos adultos, parecendo ser melhor que o primeiro exemplar, com um Garfield falastrão em cena. Mas logo em seguida o filme mostra-se extremamente infantil, com a adição de muitos animais falantes como personagens na tentativa de deixar os menores ainda mais interessados na película. Centrando no objetivo de entreter as crianças, beneficia-se também de sua curta duração e da utilização do humor físico. Garfield 2 foi feito para levar a criançada ao cinema como uma diversão ligeira. E consegue. E os adultos que agüentem.

GARFIELD 2 (Grafield: A Tale of a Two Kitties, EUA/ING, 2006).
De Tim Hill. Com Breckin Meye, Jennifer Love Hewitt, Billy Connolly e Bill Murray (voz). 76 min.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 23/06/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Balança a Pema, Jorge Ben Jor.

Mais do Mesmo

Beleza é fundamental?

Na (mais) comédia (do que) romântica Apenas Amigos (Just Friends, EUA, 2005), a questão da beleza exterior versus a beleza interior é mais uma vez apresentada na tela grande, sem grandes novidades.


O adolescente Chris Brander (Ryan Reynolds) é inteligente, gordinho e apaixonado por Jamie Palamino (Amy Smart), a garota mais bonita da escola. Ao finalmente declarar seu amor, é vítima de chacota de toda sua turma, além de perceber que todos seus sentimentos não passam de uma bela amizade para Jamie. É nesse momento que decide mudar o rumo da sua vida, saindo da suburbana New Jersey para a metrópole de Nova York.

Anos depois, Chris é um bem sucedido executivo do mercado fonográfico, sarado e mulherengo. Numa viagem de negócios seu avião tem problemas e faz um pouso forçado justamente em New Jersey, mas com um agravante: traz consigo uma jovem popstar (Anna Farris), ninfomaníaca que insiste em comporta-se como sua namorada. O retorno à pequena Jersey transforma-se num ajuste de contas com seu coração.

Ryan Reynolds tem lá seu carisma, mas com um roteiro repleto de clichês seu personagem perde força junto com a história, afundando as possibilidades com cenas forçadamente sem graça (como a seqüência do jogo de hóquei no gelo com as crianças). Numa clara alusão do que seria uma junção parodiada de Britney Spears e Christina Aguilera, temos Anna Farris como a popstar Samantha James. Suas intervenções beiram o exagero, mas são inspiradamente engraçadas.

Mesmo não ambientada nos anos 80, percebe-se claramente o uso da mesma fórmula desgastada de duas décadas atrás, cheia de situações banais e frases da profundidade de um pires. A abordagem inicial, cheia de bom humor, não salva o filme do lugar comum, passando simplesmente para o escracho trivial e apinhado de situações previsíveis. Mais do mesmo.

APENAS AMIGOS (Just Friends, EUA, 2005).
De Roger Kumble. Com Ryan Reynolds, Amy Smart, Anna Farris e Chris Klein. 96 min.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 16/06/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Cool, Gwen Stefani.

A Profecia do Marketing

A 20 Century Fox, detentora dos direitos da série A Profecia, iniciada em 1976, não podia perder essa oportunidade. No dia 06, no mês 06, do ano de 2006... Lançar uma refilmagem do clássico de suspense, utilizando novos efeitos, astros em ascensão, um diretor sedento pelo sucesso e um garotinho de olhos assustadores. A Fox teve até o cuidado de refazer a trilha aterradora do primeiro filme. Pronto, a receita básica está completa, apenas esperando que a profecia do marketing aconteça e os mais curiosos possam fazer desse novo filme um grande sucesso de bilheteria.

Vamos a história do 'novo' A Profecia (The Omen, 2006). Ao saber da morte de seu filho lodo após o parto, o embaixador americano (Liev Schreiber), aceita um recém-nascido órfão (Seamus Davey-Fitzpatrick), sem que sua esposa (Julia Stiles) saiba do ocorrido. Depois de estranhos fatos, os pais suspeitam que a nova criança é o anticristo.

Um susto aqui, uma cena movimentada ali, e muito jogo de cena, com a trilha sonora cortando as imagens e o uso de cores e visual bem frio. O roteiro atualiza sua história original, atrelando fatos cruciais da história moderna (tsunamis, o atentado de 11 de setembro, a explosão de um foguete, etc...) a profecias religiosas, inicialmente deixando o terror bem vivo no nosso dia-a-dia. Mas depois, apenas restam mortes até impressionantes, que não mudam o resultado final de um filme bem morno e com uma resolução bastante previsível. O trailer simples e assustador não passou de um blefe muito bem feito.

Tudo isso apenas atesta mais uma vez a falta de criatividade de Hollywood. Refilmagens são feitas sem nenhum objetivo artístico, senão o de lucrar com franquias já existentes, ou filmes com nomes gravados na história da sétima arte. A conta é fácil: os produtores sempre esperam atrair tanto uma parte da base dos fãs originais, quanto atingir os novos espectadores, que não tiveram a oportunidade de acompanhar os clássicos na tela grande.

A PROFECIA (The Omen, EUA, 2006).
De John Moore. Com Julia Stiles, Mia Farrow, David Thewlis. 110min

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 09/06/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Little Wild One, The Wonders.

A Doce Volta por Cima

Mais um exemplar do bom cinema argentino aporta nos cinemas. Depois dos bem sucedidos O Filho da Noiva, Nove Rainhas e O Clube da Lua, a boa safra hermana continua com o engraçado Não é Você, Sou Eu (No Sos Vos, Soy Yo), filme produzido em 2004, que só agora ganha exibição na cidade.

Na história ecoam elementos da última crise econômica Argentina: Javier e Maria moram juntos há dois anos, mas a condição financeira do casal não é das melhores. Decidem então repetir uma experiência passada de Maria: passar uma temporada em Miami e tentar o sonho americano, a terra das oportunidades. Para isso casam-se formalmente e planejam que, Maria vai antes, fica um tempo na casa de amigos da família até equilibrar-se, para depois viabilizar a ida de Javier. Mas quando ele decide ir, um surge algo inesperado.

Na abertura já se percebe o tom do filme, com créditos coloridos e música descontraída. Proveniente de seriados da TV Argentina, o diretor e co-roteirista Juan Taratuto imprime um ritmo ligeiro, com uma série de situações seqüenciais, permeando o filme com cenas cotidianas e casuais, tornando-o mais leve e espirituoso.

Indicado em 2005 para a premiação Argentina Silver Condor, na categoria de Melhor Primeiro Filme, a película ensina ao seu protagonista que a volta por cima pode ser difícil, mas quando ela finalmente acontece, é doce. E o caminho até o fim dessa jornada mostra-se muito divertida para o espectador.

NÃO É VOCÊ, SOU EU (No sos vos, soy yo, ARG/ESP, 2004).
De Juan Taratuto. Com Diego Peretti, Soledad Villamil, Cecilia Dopazo, Hernán Jiménez, Marcos Mundstock, Luis Brandoni, Ricardo Merkin. 105 min.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 02/06/2006.
Trilha sonora nas caixetas: Feelin´Alright, Joe Cocker.

A Construção de um Mito

Bob Dylan, apontado como poeta maldito de uma geração para os americanos mais puritanos, mas para os verdadeiros apreciadores da arte de versos e sons aprisionados em sua música, um gênio.

No Direction Home (Idem, EUA, 2005), é um documentário musical que direcionam suas câmeras e microfones desde o início, na infância dessa lenda viva da música até a chegada do sucesso em meados dos anos 60. Mas não pára por aí, temos um vasto material para ser apreciado no recheio da história, com entrevistas de diferentes épocas de Dylan, apresentações raras somam-se a interpretações de inúmeros sucessos e depoimentos de personalidades do mundo da música. São cerca de 208 minutos distribuídos em DVD duplo com altíssima qualidade de imagem e som.

Importante lembrar que a direção da película ficou a cargo de nada mais nada menos que o Sr. Martin Scorsese, que depois de quase de três décadas retorna ao gênero do documentário musical (em 1978 dirigiu The Last Waltz), e em grande estilo. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes de Melhor Filme por Taxi Driver (1976) e de Melhor Direção por Depois de Horas (1985), do Globo de Ouro de Melhor Diretor por Gangues de Nova York (2002), mas sempre esnobado em todas as ocasiões pelo Oscar (O Aviador de 2004, Gangues de Nova York de 2002, Os Bons Companheiros de 1991, A Última Tentação de Cristo de 1988), Scorsese imprime um ritmo agradável ao filme, exatamente evitando com que a experiência do espectador nessa verdadeira viagem musical não esbarre na chatice, mas sim, seja repleto de descobertas agradáveis.
Imprescindível para os fãs e indispensável para aqueles que desejam saber mais sobre o homem, a artista, o poeta, o trovador moderno, a lenda e único Bob Dylan.

> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 23/11/2005.
Trilha Sonora nas Caixetas: Like a Rolling Stone, Bob Dylan.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Melhores (e Piores) Filmes de 2007

Nesse ano listei os dez melhores e uma dupla menção honrosa, um para os músculos e outro para o coração, além dos lixos, os piores. Depois de mais de 300 filmes vistos no decorrer no ano, fazer a lista dos melhores parece estar cada vez mais difícil, enquanto o número de porcarias cresce assustadoramente.

Em 2007, o cinema nacional se destacou positivamente, pontuando três filmes dentre os melhores, com nível de realização internacional. Importante ressaltar a ausência de vários filmes que disputarão os principais prêmios internacionais, porque suas estréias estão programadas apenas para 2008. Portanto que me atenho a escrever sobre os filmes que foram lançados comercialmente no Brasil durante o ano de 2007 (em cartaz a partir de 1º de janeiro de 2007 a 31 de dezembro de 2007), independente do ano de produção dos mesmos.

Que venham mais e melhores filmes em 2008, que possam transmitir emoções e sentimentos através do som e das imagens em movimento, enfim a magia do cinema.

Abaixo segue a lista dos MELHORES FILMES de 2007:


1. Ratatouille (Ratatouille, 2007).
Nas mãos do chef, ops, diretor e roteirista Brad Bird (de Os Incríveis) o que poderia parecer mais um prato feito hollyodiano ganha contornos de receita especial, feita para ser apreciada sem contra indicação e com muito apetite.


2. O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum, 2007).
Quem disse que um filme de ação não precisa ser inteligente e ter um roteiro redondo? Direção insana de Paul Greengass, edição inebriante, trilha sonora frenética, cenas absurdamente perfeitas e de tirar o fôlego, onde não se percebe a adição de efeitos especiais, tudo na marra. Um filmaço de adjetivos, com força suficiente para ser eternizado, sem exagero, como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos.


3. Tropa de Elite (2007).
Fenômeno antes mesmo da estréia (cópia vazada), crava seu nome na história do cinema nacional (e quiçá mundial) com sua história crua (que por vezes até faz rir), cenas nervosas em estilo documental, roteiro muito bem costurado com a ação e atuações de perder o fôlego. Aqui missão dada, é missão cumprida!


4. Saneamento Básico (2007).
Uma comédia inteligente, com um roteiro de rara perspicácia, que faz rir com maestria e que ainda possui elenco inspirado. Livre das saídas fáceis com seu roteiro criativo, recheando as cenas com seus diálogos excepcionais, o filme é imperdível e muito bo-ni-to de se ver. Assista e entenda o por quê.


5. Medo da Verdade (Gone Baby Gone, 2007).
A estréia na direção de Ben Affleck é surpreendente em todos os sentidos. Baseado num livro do mesmo autor de Sobre Meninos e Lobos, o filme sobre o desaparecimento de uma garotinha investigada por um detetive particular vai além, com atuação marcante de Casey Affleck, resolução engenhosa, denso e elenco de apoio sensacional.


6. O Cheiro do Ralo (Idem, 2007).
O texto é genial (baseado num livro de Lourenço Murtarelli), repleto de diálogos e frases que fazem efeito (“a vida é dura”, entre outras). Um Selton Mello visceral, situações bizarramente divertidas e até mesmo com ecos criativos variando entre Tarantino e Guy Ritchie, transformando o filme numa experiência insana e imperdível.


7. O Hospedeiro (The Host,2007) O que você diria ao se deparar com um filme de monstro vindo da Coréia do Sul? Nem pense em desistir. É envolvente, tem trilha sonora flertando com Hitchcock, cenas de paralisar o coração e que ao mesmo tempo consegue divertir com suas piadas ingênuas. Extremamente bem dirigido, funciona como suspense (na maioria das vezes), funciona como comédia (em alguns momentos) e ainda dá uma clara cutucada nos EUA.


8. Conduta de Risco (Michael Clayton, 2007) Com uma edição que valoriza muito o início e final, consegue equilibrar bem o drama (em doses maiores) e suspense. Mesmo com um bom tom de conspiração no roteiro, o coração pulsante do filme são as atuações do trio Clooney (destroçado por dentro e forte por fora), Wilkinson e Swinton.

9. Os Simpsons – O Filme (The Simpsons Movie, 2007).
Consegue fazer graça de tudo que se passa na tela (no filme os principais temas são meio-ambiente e família), onde citar as cenas mais engraçadas torna-se uma covardia. O filme TODO é estupidamente hilário.

10. Zodíaco (Zodiac, 2007).
Prende a atenção do espectador com atuações de primeira e tem em David Fincher um diretor que consegue subverter todas as questões de filmes policiais a favor de uma história (baseado em fatos reais) bem contada e de clima angustiante. E que atuação de Robert Downey Jr.!
(Dupla) Menção Honrosa:
300 (300, 2007).
Adaptação da graphic novel de Frank Miller impressiona com o visual arrasador, cenas de ação incríveis e frases de efeito. Preparem-se para a glória. Isso é Esparta!

Piaf – Um Hino ao Amor (La Vie en Rose/La Môme, 2007).
Concentrado nas principais passagens da vida de Edith Piaf, promove uma verdadeira ressurreição na interpretação arrebatadora de Marion Cotillard. E se possível lembrem do conselho de Piaf, e façam como ela fez com sua vida, em cada momento: ame.
INFORMAÇÕES ESPECIAIS: OS PIORES FILMES de 2007
Em 2007 as salas de cinema também receberam filmes que não valem nem o ingresso. Em 2006 Nicolas Cage apareceu na lista dos piores com o sonolento O Sacrifício, e nesse ano ele aparece em outros dois fiascos. Abaixo as bombas:

1. O Magnata (2007).
De Chorão ou de chorar? Precisa dizer mais alguma coisa? Tem alguma nota abaixo de ZERO?

2. Turistas (Turistas, 2007).
Polêmica em torno de um filme ruim só faz com que as pessoas percebam mais ainda tamanha ruindade, um filminho de terror que faz piada com o Brasil. E aqui nós falamos espanhol. Risível.

3. Norbit (Norbit, 2007).
Eddie Murphy numa comédia que não faz rir, apenas embaraça o espectador com situações de mau gosto e muitas doses de incorreção, no pior sentido possível. Dizer que é ruim é elogiar.

4. Desbravadores (Pathfinder, 2006).
Filme de aventura que sonha em ser épico. Um arremedo de uma violenta sessão da tarde ou apenas uma ridícula tentativa de fazer cinema. Os dois.

5. A Última Legião (Last Legion, 2007).
Aventura capa e espada classe Z, caracterizações toscas dos personagens, com perucas e barbas postiças ao estilo Zorra Total. Até Sir Ben Kingsley está pífio.

6. As Férias de Mr. Bean (Mr. Bean´s Holiday, 2007).
Foi anunciado como a última aparição de Rowan Atkinson como o personagem Mr. Bean. Para o bem da humanidade, tudo tem seu limite. Pelo menos no cinema, já vai tarde Mr. Bean. Talvez as crianças bem pequenas curtam uma ou outra cena quase engraçada.

7. Motoqueiros Selvagens (Wild Hogs, 2007).
Comédia completamente patética, onde até Peter Fonda tenta fazer piada de si mesmo e do clássico Sem Destino, mas de tão vergonhoso nem escapa um sorriso amarelo.

8. A Estranha Perfeita (Perfect Stranger, 2007).
Halle Berry e Bruce Willis. Pense num casal sem química num suspense onde não existe suspense, apenas provoca risos das idiotices de um roteiro infantil que tenta a todo custo surpreender o espectador com suas ‘reviralvoltas’. Tá bom...

9. A Colheita do Mal (The Reapering, 2007).
Suspense com um pé no sobrenatural, que mistura pragas bíblicas, ceticismo e maldições seculares, que funciona como uma montanha russa sem graça e com sustos-clichê. Com uma conclusão tranqueira, ainda temos que testemunhar Hilary Swank fazendo caras e bocas. Pode?

10. Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider, 2007) e O Vidente (Next, 2007).
Dose dupla de Nicolas Cage. No primeiro: clima juvenil, efeitos razoáveis e um herói desconhecido, num filme para esquecer. No segundo: roteiro cheio de rombos, atuações desastrosas e efeitos não tão especiais. E que peruca ridícula Cage!
(Dupla) Menção Desonrosa:
A Lenda de Beowulf (Beowulf, 2007).
Robert Zemeckis dirigiu a Trilogia De Volta Para o Futuro e o premiado Forrest Gump, mas aqui o arremedo de lenda e contos aventurescos do guerreiro Beowulf e a captura de movimentos dos atores resultou numa obra que beira o tosco. E dá sono.

Jogos Mortais IV (Saw IV, 2007).
A saga de Jigsaw está cada vez mais sangrenta. E pior. O filme afunda no seu próprio sangue, que jorra sem dó na tela.
Trilha sonora nas caixetas: Flourescente Adolescent, Artic Monkeys.
> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 09/01/2008.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Melhores (e Piores) Filmes de 2006

Depois de 200 filmes vistos no decorrer no ano chego à conclusão de que o ano que passou foi um pouco pior que o anterior (não tive grandes indecisões no top 10), enquanto da lista com os piores (que vêm nas Informações Especiais), poderia ter sido facilmente um top 20 ou 30.

Lembrando que me atenho a escrever apenas sobre os filmes que eu assisti e foram lançados comercialmente no Brasil durante o ano de 2006 (em cartaz a partir de 1º de janeiro de 2006 à 31 de dezembro de 2006), independente do ano de produção dos mesmos.

Sem bajulação nem indo na corrente de ninguém, apenas levando em consideração minhas percepções sobre o que assisti nos cinemas e que de certa forma contribuíram para a sétima arte, trazendo imagens e sons carregados de emoção e significados especiais, com a mente e os olhos abertos para mais e melhores filmes em 2007.

Seguem abaixo os 10 mais do ano de 2006:

1. Os Infiltrados (The Departed, 2006).
Martin Scorsese volta ao submundo da violência policial, com agentes duplos, máfia irlandesa, cenas memoráveis, interpretações poderosas de um elenco irrepreensível, que incluem DiCaprio, Jack Nicholson Matt Damon, Alec Baldwin, Mark Whalberg e Martin Sheen. 6 Indicações para o Globo de Ouro (filme, diretor-no qual venceu, roteiro, ator-drama para DiCaprio e coadjuvantes para Nicholson e Whalberg) e rumo ao Oscar.
2. Vôo United 93 (United 93, 2006).
Baseado em fatos acontecidos durante os atentados de 11 de setembro de 2001, quando um quarto avião seqüestrado teria como alvo a Casa Branca e foi desviado pelos passageiros numa insurreição sufocante. Dirigido habilmente por Paul Greengass (de A Supremacia Bourne), com um elenco desconhecido e num tom documental, o filme é permeado de imagens tensas e que parecem ser reais de tão brutas.

3. O Grande Truque (The Prestige, 2006).
Uma batalha entre dois mágicos no século passado. De um lado Christian Bale (o novo Batman), do outro Hugh Jackman (o Wolverine). Dando suporte a beleza de Scarlett Johanson e a classe de Michael Caine. Na direção o talentoso fomentador de imagens Christopher Nolan (de Amnésia, Insônia e Batman Begins). Imperdível e surpreendente.

4. O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006).
Aos olhos de uma garota vemos parte da ditadura de Franco na Espanha do início do século. Mas o que ela percebe, e é envolvida numa fábula, na qual aparecem criaturas mágicas, um Fauno com missões a serem cumpridas e um tom de horror fantástico. Co-produção entre Espanha e México dirigida habilmente por Gullermo Del Toro (de Hellboy). Atuações envolventes e produção de primeira fazem um filme de cair o queixo.

5. O Ano que Meus Pais Saíram de Férias (Idem, 2006).
Brasil 1970. Um garoto é deixado pelos pais na casa do avô enquanto passam suas férias fora do Brasil (na verdade eles estão fugindo da ditadura militar). Suas vivências e descobertas são tão gostosas de assistir que dá vontade até de ser criança de novo.

6. Volver (Idem, 2006).
Pedro Almodóvar e suas mulheres. Com uma estória de cunho familiar, entre mãe, filhas, neta e tia, Almodóvar volta a casar adequadamente e sem atropelos o fazer rir (sem exageros) e o emocionar (naturalmente). Tocante quando tem que ser tocante (Penélope Cruz cantando é brincadeira), fazendo rir quando deve fazer rir, com sutileza.

7. Ponto Final – Match Point (Match Point, 2005).
Uma estória de paixão avassaladora (quem não se apaixonaria por Scarlett Johanson?), ambição, traição e mortes. Sim, é um filme de Woody Allen, e um senhor drama com traços do livro Crime & Castigo de Dostoievski. A que ponto chega a ambição humana?

8. Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006).
Com um elenco encantador (que inclui Steve Carell, Greg Kinnear, Alan Arkin, Toni Colette, Paul Dano e a revelação Abigail Breslin) e um estória que inclui uma família desajustada numa kombi velha cruzando o país para levar a filhinha em busca do seu sonho de ser uma pequena miss. Engraçado e emocionante, um filme para se ver deliciando cada cena.

9. Munique (Munich, 2005).
Spilberg dirige com gosto um filme sobre uma vingança. E que vingança. Depois do assassinato de 11 atletas israelenses na Olimpíada de Munique em 1972, armado pelo grupo terrorista palestino Setembro Negro vem o contra-ataque. O grupo israelense Mossad vai atrás dos palestinos, e tome tensão. Com grande elenco (Eric Bana, Daniel Craig e Geoffrey Rush), Munique é um filme obrigatório. Sua alma tem preço?
10. Obrigado Por Fumar (Thanking For Your Smoking, 2006).
Comédia ácida até a última ponta, com atuação de primeira de Aaron Eckhart e diálogos fantasticamente inteligentes. Indicado para o Globo de Ouro de melhor filme-comedia e ator-comédia para Eckhart, o filme conta a estória do lobbista da indústria de tabaco e suas agruras ao se envolver com uma jornalista com segundas intenções. Acenda essa idéia.

Menção Honrosa: V DE VINGANÇA (V for Vendetta, 2006).
Filme de ação politizado, com a delícia Natalie Portman (Evey) como o objeto de desejo do anti-herói mascarado Hugo Weaving (V) Baseado numa graphic novel de Alan Moore, adaptado e produzido pelos Irmãos Washowski (da Trilogia Matrix), o filme se passa num futuro não muito distante no qual “V” comete atos de terrorismo contra um regime totalitário. Faz pensar e diverte muito.

INFORMAÇÕES ESPECIAIS: OS PIORES FILMES DE 2006.

Em 2006 o cinema sofreu muito, por causa dos PIORES filmes que passaram (infelizmente) pela tela grande. È difícil até enumerar, mas enfim abaixo segue a relação das bombas:
1. Muito Gelo e Dois Dedos D´Agua (Idem).
Na tentativa (frustada) de repetir o êxito comercial do filme anterior (Se Eu Fosse Você), o diretor Daniel Filho fez uma comédia imbecil, cheias de situações bizarras e atuações ridículas. Muita besteira e dois dedos de bobagem. Um lixo completo.
2. Bandidas (Idem).
Um misto de western, com comédia pastelão e aventura que traz Penélope Cruz e Salma Hayek como uma dupla de bandidas que assaltam bancos para dar aos pobres no Novo México do início do século. Situações constrangedoras e piadas sem graça permeiam todo o longa.
3. Protegida por um Anjo (Half Light).
Suspense patético, com atuação pífia da decadente Demi Moore. Estorinha que mistura mortes inexplicáveis, possíveis reencarnações, almas que salvam os vivos e sustos inexistentes. Porcaria sem futuro.
4. O Grito 2 (The Grudge 2).
Continuação caça níqueis do já muito ruim O Grito, que não passa de conversa para qualquer um dormir travestido de terrorzinho adolescente. Não provoca sustos, apenas muito sono, além de ser totalmente sem sentido.
5. Armações do Amor (Failure to Launch).
Pretensa comédia romântica com inteligência que afunda em clichês e bobagens sem limite. Pais contratam uma especialista em tirar de casa os quarentões acomodados, mas eles acabam se apaixonando. Sarah Jessica Parker e Matthew McConaughey têm charme de sobre, o filme nenhum.
6. Instinto Selvagem 2 (Basic Instinct 2: Risk Addiction).
O que seria a volta por cima de umas das atrizes mais sexy da estória do cinema transformou-se num retumbante (e merecido) fracasso. Ruim e com uma estória que praticamente repete (mal) o primeiro, onde nem as cenas de sexo se salvam. Sharon Stone continua linda e em forma, mas seus filmes há muito não prestam.
7. Serpentes a Bordo (Snakes on the Plane).
Trash até o último segundo, Serpentes… têm cenas grotescas e totalmente risíveis e conta com um Samuel L. Jackson fazendo pose de fodão. Um filme de terror que não mete medo em ninguém e uma estória sem pé nem cabeça. Trash, trash e trash, bisonho e risível.

8. Menina.Má.Com (Hard Candy).
Quando um filme tenta fazer barulho por causa do tema polêmico abordado (aqui no caso a pedofilia), mas simplesmente não consegue nem atingir um nível de coerência ou crível com as situações expostas, torna-se um martírio suportar os pouco mais de noventas minutos de filme. Triste (de ruim).
9. Tudo Por Dinheiro (Two for the Money).
Um tremendo remendo (mas cheio de rombos) de Wall Street, Adovogado do Diabo, A Firma e de outros filmes, Tudo Por Dinheiro não vale o elenco que tem (Al Pacino, René Russe, Matthew McConaughey e Armand Assante) e nem o dinheiro do ingresso/ locação.

10. O Sacrifício (The Wicker Man).
Bem que Nicolas Cage tentou. Comprou os direitos de um suspense obscuro dos anos 70 chamado O Homem de Palha, produziu e atuou no longa, mas o resultado passa longe de satisfatório, tornando-se quase um sacrifício de assistir. Cage tenta de novo, dessa vez não deu.

Menção Desonrosa: O CÓDIGO DA VINCI (The Da Vinci Code, 2006).
Sem ritmo, frouxo, chato e muito longo. Blá blá blá interminável que não faz jus ao seu sucesso estrondoso de bilheteria.

> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 22/01/2007.
Trilha Sonora nas Caixetas: Show Me How To Live, Audioslave.