sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Oscar 2006 e seus desdobramentos


O número mágico da noite do Oscar foi 3.

Vejamos.

Coube a King Kong o que era seu de direito, três prêmios técnicos: Melhor Edição de Som, Mixagem de Som e Efeitos Visuais.

Memórias de Uma Gueixa também cumpriu bem seu papel. Mesmo sendo esquecido na indicação de Melhor Atriz, o filme levou para casa três Oscars: Melhor Fotografia, Figurino e Direção de Arte & Cenários. Todos um show à parte.

O Segredo de Brokeback Moutain perdeu o principal prêmio da noite, é verdade, mas levou com honras três estatuetas douradas: Melhor Diretor para Ang Lee, Roteiro Adaptado e Trilha Sonora. Digamos que para um filme muito bom, mas nada de espetacular já está de bom tamanho. O burburinho pela perca da principal categoria foi gigantesco, mas temos de ser justos: mesmo quebrando paradigmas com seu tema de amor universal, O Segredo de Brokeback Moutain não é o melhor filme do ano. Posso citar pelo menos outros cinco filmes superiores a ele: O Jardineiro Fiel, Marcas da Violência, Ponto Final – Match Point (esses três injustamente não indicados para Melhor Filme), Boa Noite e Boa Sorte e Crash – No Limite. Para finalizar o assunto, Capote e Syriana são tão bons quanto o filme de Ang Lee, mas nem por isso receberam tantos prêmios ou badalação.

Philip Seymour Hoffman ganhou o Oscar de Melhor Ator pela sua personificação em Capote. Nada contra, ele está perfeito, assim como David Strathairn em Boa Noite e Boa Sorte. Será que podia dar empate? Vamos dizer que está em boas mãos. Os demais indicados têm atuações sóbrias, mas nada que superem os dois citados acima.

Mas Melhor Atriz, sei não... A indústria e suas estrelas fabricadas. Lembram de Gwyneth Paltrow?

Sim, aquela que venceu Fernanda Montenegro por Central do Brasil e Cate Blanchett por Elizabeth. Então. Temos mais uma americana vencedora do prêmio. Reese Whitherspoon, estrela de comédias românticas bobinhas como Doce Lar, Legalmente Loira 1 e 2, E Se Fosse Verdade, entre outros, abocanhou o prêmio de Melhor Atriz e transforma-se em estrela de primeira grandeza. A queridinha da América do momento. Felicity Huffman (da série de sucesso Desesperate Housewifes) arrasa como uma transexual em Transamérica, mas sabe como é, no momento Hollywood não está precisando de uma estrela feia e quarentona.

E George Clooney? Parecia que estava adivinhando. Quando recebeu sua estatueta de Melhor Ator Coadjuvante por Syriana – A Indústria do Petróleo, ele disparou sorrindo: “Isso quer dizer que não vou levar como Melhor Diretor”. Sim, seu filme Boa Noite e Boa Sorte, indicado em seis categorias sairia de mãos abanando, infelizmente. Elementar meu caro Clooney, você foi afagado com esse prêmio de consolação. Não que ele esteja mau no filme, longe disso, mas se tivéssemos merecimento para a categoria o vencedor seria Paul Giamatti, por A Luta Pela Esperança. E isso serviria como um ‘jab’ duplo, pois ano passado ele nem foi lembrado pela bela atuação em Sideways – Entre Umas e Outras. Fica para a próxima compensação.

Não esqueçamos de Rachel Weisz e sua representatividade em O Jardineiro Fiel. Ela venceu com méritos o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, mas parecia em conjunto, para ela e seu diretor, o esquecido do ano Fernando Meirelles, ao qual ela agradeceu merecidamente. Sim, a Academia nem chegou a indicar o brasileiro, num dos melhores e mais representativos filmes do ano.

E o que dizer da vitória, por que não, surpreendente de Crash – No Limite? Foram três Oscars: Melhor Filme, Roteiro Original e Edição. Bem, primeiro o filme que marca a estréia de Paul Haggis (roteirista oscarizado ano passado por Menina de Ouro) na direção é excepcional. Sem estrelas, sem efeitos especiais nem superprodução. O principal trunfo é seu roteiro engenhoso. A intolerância racial e humana, a violência das grandes cidades, o dia-a-dia tumultuado, o sistema que não funciona, o senso de não ser e ter. Tudo isso num mosaico de emoções e situações que nos colocam em contato com nossa própria realidade. Personagens tão diferentes e iguais, que se cruzam em estórias entrelaçadas pelo amor e ódio em doses bem distintas. Um filme para ser visto e estudado como um retrato do nosso tempo.

Mas apesar da premiação-surpresa de Crash - No Limite, a Academia continua apostando em coisas certinhas, aqui temos dois casos distintos para comentar: Quando será que Tim Burton vai levar seu Oscar para casa? No ano que tínhamos a maravilhosa obra de humor negro Noiva-Cadáver do mestre da imaginação Burton, a academia premiou o bacaninha Wallace e Gromit e a Batalha dos Vegetais como Melhor Animação. Sim, fazer o quê... E o melhor filme estrangeiro ficou para o melodrama Sul-Africano Tsotsi, vencendo o polêmico filme Israelense sobre os homens-bombas Paradise Now (vencedor do Globo de Ouro).

É Isso aí. É o prêmio da indústria americana. E ano que vem tem mais. Mais injustiças, mais compensações, mais barbadas, mais surpresas, mais coisas certinhas, mais tudo de ‘novo-outra-vez-novamente’.

> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 08/03/2006.

Trilha Sonora nas Caixetas: Don´t No Why, Norah Jones.

O Prêmio da Indústria do Cinema, Também Conhecido Como Oscar


Bem, saíram as indicações para o Oscar 2006, o prêmio da indústria do cinema, ou como preferem os americanos, o maior prêmio do cinema. Ta bom, se fosse artisticamente justo, eu também diria isso.


Como já era de se esperar, O Segredo de Brokeback Moutain lidera a lista com 8 indicações, em todas as principais categorias. È favorito em pelo menos três: Filme, Diretor-Ang Lee e Roteiro Adaptado. Talvez Trilha Sonora, vamos ver.


Como havia escrito, Munique (que foi considerado pela revista Time como o melhor filme do ano) de Spilberg conseguiu figurar entre os principais indicados. Tem 5 indicações (Melhor Filme, Diretor-Spilberg, Roteiro Adaptado, Edição e Trilha Sonora), é favorito para edição, mas sua campanha para as principais categorias está apenas começando.


Dando uma arrancada e levando 6 indicações temos o excelente Crash – No Limite, estréia na direção do roteirista de Menina de Ouro, Paul Haggis. Disputa Melhor Filme e Direção, entre outros, mas deve levar mesmo a estatueta de Melhor Roteiro Original.


Um grande destaque nas indicações chama-se George Clooney. Ele obteve 3 indicações no total. Pelo seu segundo filme na direção, Boa Noite e Boa Sorte, sobre a caça ás bruxas do comunismo nos EUA, foi indicado como Melhor Filme e Clooney está concorrendo como Melhor Diretor e na categoria de Melhor Roteiro Original. O filme concorre ainda em outras 3 categorias, mas deve levar apenas a estatueta pela sua belíssima fotografia em preto e branco. Sua terceira indicação para a premiação ocorre no inédito Syriana, agora como Ator Coadjuvante. Seu principal concorrente nessa categoria é Paul Giamati, em A Luta Pela Esperança, que pode tanto ser recompensado tanto pela não indicação em Sideways – Entre Umas e Outras, como também ser agraciado por seu belo trabalho na película.


Acertei em cheio em dois filmes na previsão das indicações: King Kong, que está apenas concorrendo (merecidamente) em Oscars técnicos, e Johnny & June (a história da vida do cantor country Johnny Cash e sua esposa June), que não conseguiu ser indicado como Melhor Filme, mas emplacou outras 5 indicações. Seus protagonistas, Joaquim Phoenix e Reese Whiterspoon (ambos ganhadores do Globo de Ouro), estão indicados, com amplo favoritismo para Whiterspoon como melhor atriz, apesar de concorrer com a também vencedora do Globo de Ouro Felicity Huffman, que faz um transexual em Transamerica (também indicado para Melhor Canção). Phoenix tem um concorrente de peso, Philip Seymour Hoffman, que também faz um personagem real, no caso o escritor Truman Capote, em Capote (indicado em outras 4 categorias, incluindo Filme e Diretor-Bennet Miller). Sua vitória pela personificação do escritor é praticamente certa.


Agora vamos para as decepções nas indicações: Começando pela mais dolorida ausência: O Jardineiro Fiel do brasileiro Fernando Meirelles. Ele está nas principais listas de melhores filmes do ano, mas falhou em ser indicado nas categorias mais importantes. O filme obteve apenas 4 indicações: Roteiro Adaptado, Edição, Trilha Sonora e Atriz Coadjuvante para Rachel Weizs, que por sinal é franca favorita para levar a estatueta para casa (além de merecido, vale também como consolação ao grande trabalho de Meirelles).


Descrito pelo próprio Woody Allen como seu melhor filme já feito, para Ponto Final - Match Point restou-lhe apenas no fim uma mísera indicação, à de Roteiro Original.


Marcas da Violência, uma grande obra do mestre David Cronemberg, foi indicado para Melhor Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante para o ótimo William Hurt, mas esqueceram de lhe conferir indicações de Filme, Diretor e (principalmente) Atriz para Maria Bello, que está magnífica.


E por fim, temos Memórias de uma Gueixa, superprodução de Rob Marshall (de Chicago), que está indicado em 6 categorias, mas nenhuma de grande expressão. Ainda assim deve levar Melhor Figurino, Direção de Arte e Trilha Sonora.


E para os favoritos, em termos de comparação, vale lembrar que os vencedores Chicago, Gladiador, Shakespeare Apaixonado e Conduzindo Miss Daisy, levaram Melhor Filme, mas não Diretor. Isso sem falar nos filmes de maiores nominações no ano que não repetiram a premiação como O Aviador, Gangues de Nova York, Bugsy e Apollo 13, que não levaram nada de significativo ou coisa nenhuma.


Agora é apreciar os indicados nos cinemas e acompanhar a premiação (não adianta torcer, aprendi isso com os anos), que acontecerá no dia 5 de Março, um domingo.


> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 01/02/2006.


Trilha Sonora nas Caixetas: Make Your Own Kind of Music, Mama Cass.

Vencedores e Perdedores rumo ao Oscar 2006


Todo ano é assim. Após a premiação do Globo de Ouro 2006 (que funciona como uma prévia do Oscar), críticos e analistas apontam seus palpites sobre a maior premiação da indústria cinematográfica.


Sim, porque o Oscar é mais uma premiação de indústria do quê artística. Temos casos e mais casos que, ao longo dos anos, comprovam essa teoria. Temos exceções? Claro, mas como diz o dito popular: toda regra tem sua exceção, e no Oscar não poderia ser diferente.


Depois de abocanhar os principais prêmios da crítica do ano (a lista é grande: Leão de Ouro no Festival de Veneza 2005, Melhor Filme e Diretor pela Associação dos Críticos de Los Angeles, de Boston, de Dallas, de São Francisco, pelo Círculo de Críticos de Nova York e do Sudeste, e Melhor Diretor pelo National Board of Review. Ufa!), O Segredo de Brokeback Moutain (Brokeback Moutain, 2005), confirmou seu favoritismo e levou também 4 Globos de Ouro: Melhor Filme-Drama, Diretor-Ang Lee, Roteiro e Canção Original. Todas as previsões apontam que a estória do romance incomum entre dois cowboys nos EUA dos anos 60, receberá o maior número de indicações no próximo Oscar, refletindo também na premiação.


Mas ainda não terminamos com os vencedores. George Clooney ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante por Syriana - A Indústria do Petróleo (Syriana, 2005), um filme corajoso sobre a indústria do petróleo e suas politicagens. Clooney, aliás, está muito cotado para sua primeira indicação ao Oscar tanto como Coadjuvante por Syriana, quanto como Diretor e Filme pelo muito bem recebido Boa Noite e Boa Sorte (Good Night and Good Luck, 2005), já que ganhou como Melhor Filme pelo National Board of Review, além de outras indicações.


O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener, 2005), produção internacional dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, ganhou apenas na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, para Rachel Weisz, mas vai com muita força para receber indicações nas principais categorias no próximo Oscar. E louvemos uma questão até então não levantada: Indicação também já é um prêmio. Sim, claro. Vejamos o caso do próprio Meirelles. Vamos repassar a lista dos indicados ao Globo de Ouro de Melhor Diretor: Woody Allen, por Ponto Final - Match Point (Match Point, 2005); Peter Jackson, por King Kong (Idem, 2005); Steven Spilberg, por Munique (Munich, 2005) e George Clooney, por Boa Noite e Boa Sorte (Good Night and Good Luck, 2005). Entrar nesta seleta lista já uma grande vitória.


Johnny & June (Walk The Line, 2005), cinebiografia do cantor de músicas country Johnny Cash, levou 3 Globos de Ouro: Melhor Filme-Comédia/Musical, Ator-Comédia/Musical (Joaquim Phoenix) e Atriz-Comédia/Musical (Reese Whiterspoon), alçando assim seus protagonistas a favoritos a indicações. Não creio muito na força do filme, mas com certeza Phoenix e Whisterspoon serão indicados.


Dois filmes saíram enfraquecidos da disputa, mas, que merecem toda a atenção são Ponto Final - Match Point (Match Point, 2005) de Woody Allen, e Crash – No Limite (Crash, 2005) de Paul Haggis. Suas indicações devem ficar restritas a Roteiro e Coadjuvantes, ficando de fora dos prêmios de Direção e Filme.


Philip Seymour Hoffman levou o prêmio de Melhor Ator-Drama, pela sua personificação do Truman Capote por Capote (Idem, 2005). Eis aqui um forte concorrente para o prêmio de Melhor Ator (juntamente com Russel Crowe por A Luta Pela Esperança e o já citado Phoenix). Melhor atriz-Drama foi para Felicity Huffman em Transamérica (Idem, 2005), mais conhecida pela série de sucesso Desesperate Housewifes, e com grandes chances de indicação no próximo Oscar.


Um filme que pode surpreender e ainda não citado é Memórias de uma Gueixa (Memoirs of a Geisha 2005) de Rob Marshall (do oscarizado Chicago). Venceu com Melhor Trilha Sonora Original, mas deve levar algumas indicações, incluindo o de Melhor Atriz para Ziyi Zhang (revelada por Ang Lee em O Tigre e o Dragão).


Marcas da Violência (A History of Violence, 2005) de David Cronemberg, saiu de mãos vazias, mas com sua estória forte e de grande tensão dramática, deve estar também entre os principais indicados (Filme e Atriz, principalmente).


Não esqueçamos de também de Munique (Munich, 2005) de Spilberg, que mesmo com um tema muito complicado nos EUA (o combate ao terrorismo, e também por ser longo, com pouco mais de 2 horas e 30), vem recebendo boa recepção dos críticos e público, além do Blockbuster King Kong, que para mim deve ater-se a figurar apenas nas categorias técnicas.
E será que teremos surpresas, azarões? Sim, claro. Principalmente nas indicações, que na minha opinião também funciona como uma forma de premiar os melhores da indústria cinematográfica mais rentável do mundo.


Ou seja, no Oscar, perder também é ganhar.


> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 18/01/2006.


Trilha Sonora nas Caixetas: Tristes Versos, Enverso.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Pecado é não assistir

O que dizer além do que já foi dito?

“Melhor filme do ano!”.
“Melhor adaptação de quadrinhos já feita!”.

Bem, vou tentar expressar apenas minha impressão sobre a película então. Sin City – A Cidade do Pecado (Sin City, EUA, 2005), a adaptação de algumas de uma série de estórias publicadas em forma de graphic novel de mesmo nome do mestre dos quadrinhos Frank Miller, tem muitos méritos.


Primeiro louvemos o multi-funcional Robert Rodriguez, o cara é diretor, roteirista, produtor, músico e editor dos próprios filmes (ele mesmo tem uma fábrica de filmes na própria casa!). Rodriguez insistiu e não só conseguiu realizar o filme com a benção de Frank Miller, como também o convenceu a estrear na co-direção do longa. E ainda teve a honra de ter Quentin Tarantino como diretor convidado (!) Sim, é isso mesmo. Ele dirige apenas uma cena, e ganhou 1 dólar por isso, simbólico, sabe. Quer saber qual é a cena? Uma seqüência na qual Clive Owen (Closer - Perto Demais) e Benicio Del Toro (21 Gramas) dialogam.



Então, e nem chegamos ainda no elenco...
Além dos já citados (Owen e Del Toro), temos ainda Bruce Willis (Duro de Matar), Britanny Murphy (8 Mile – Rua das Ilusões), Rosário Dawson (Alexandre - O Grande), Michael Clarke Duncan (À Espera de Um Milagre), Michael Madsen (Cães de Aluguel), Jessica Alba (Quarteto Fantástico), Nick Stahl (Entre 4 Paredes), Mickey Rouke (9 ½ Semanas de Amor), Rutger Hauer (Blade Runner - O Caçador de Andróides), Elijah Wood (Trilogia O Senhor dos Anéis), Carla Gugino (Olhos de Serpente), Josh Hartnett (Pearl Harbor)...


A historia, ah sim, temos um prólogo, três estórias entrelaçadas e um pequeno epílogo, todos banhados de sangue, ação e altas doses de humor negro, com mocinhas em apuros, bandidos boa-praça, sujeitos deploráveis, anti-heróis, policiais corruptos, mulheres fatais e assassinos. Nada convencional, apenas sensacional. Parece que estamos vendo quadrinhos em movimento, com tamanho grafismo e um uso soberbo do preto e branco, enquanto as cores e as luzes servem exatamente para nos subjetivar idéias, cutucar o espectador.




O que posso escrever mais: o que é que vocês estão esperando?
Vão logo assistir.
Já viram?
Então vejam de novo, nunca é demais.


Que venham os já prometidos Sin City 2 e 3.

Nota: 9,0

> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 07/12/2005.

Trilha Sonora nas Caixetas: Black Dog, Led Zeppelin.

Tim Burton e Sua Fábrica de Sonhos

Willy Wonka é um recluso, milionário, esquisito e excêntrico dono da mais fantástica fábrica de chocolate que já existiu. Da sua fábrica também saem as mais saborosas guloseimas já feitas.

Tim Burton é um recluso, milionário, esquisito e excêntrico dono de uma das mentes mais engenhosas do cinema moderno. Da sua mente também saem as mais belas fábulas cinematográficas.

Burton certa vez afirmou que um dos seus livros prediletos é exatamente Charlie e a Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl. E ninguém melhor do que Burton para levar as páginas de Dahl para o cinema com a precisão necessária, pois primeira vez o livro é fielmente adaptado para a película em A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and the Chocolate Factory, EUA/ING, 2005).

Quem gosta de cinema deve lembrar que essa não a primeira vez que o livro de Dahl é adaptado. Quem ainda não viu aquele filme de 1971 com mesmo nome e que tinha Gene Wilder como Willy Wonka, que vez ou outra passa sempre na tv aberta? As diferenças entre as duas versões são claras: no primeiro não existe um certo tom de tristeza que corretamente foi untado no filme de Burton, que acrescenta também flashbacks necessários, para contar a infância de Willy Wonka e fazendo-nos acreditar no porquê de sua personalidade ímpar. O final é diferente e ficou bem melhor, definido e fiel ao livro de Dhal.

E para não fazer feio na sua versão, Burton cercou-se de velhos e talentosos parceiros. Na pele de Wonka, temos o versátil Johnny Depp (com quem já havia trabalhado na fábula Edward Mãos-de-Tesoura de 1990, no soberbo Ed Wood de 1994, no ‘terrir’ de primeira A Lenda do Cavaleiro-Sem-Cabeça de 1999 e no humor negro de Noiva-Cadáver de 2005) que simplesmente passeia entre o agradável e o assustador com extrema sutileza.

Ainda no elenco Freddie Highmore (parceiro de cena de Depp em Em Busca da Terra do Nunca de 2004) como Charlie e Helena Boham-Carter (também parceira de cena de Depp em Noiva-Cadáver de 2005). A responsabilidade de adaptar o livro para as telas ficou a cargo de John August (do mágico Peixe Grande de 2003), enquanto a trilha sonora é do Ex-Oingo Boingo Danny Elfman (que simplesmente musicou todos os doze filmes de Burton para o cinema). Com o time completo, foi só correr para o abraço, com sucesso de público e crítica.


Uma excelente diversão irrestrita a idade, o DVD duplo contém uma série de extras que contemplam os espectadores com todo o processo de filmagem, cenas especiais e a construção de seus marcantes personagens. Assista e deleite-se com seu sabor nada amargo. Uma delícia.

> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 30/11/2005.

Trilha Sonora nas Caixetas: Stay, Oingo Boingo.

Bourne. Jason Bourne.

No ano das continuações no cinema, finalmente um filme realmente espetacular e com razão pra existir. Matt Damon retorna no capítulo final da trilogia de Jason Bourne (será?), O ULTIMATO BOURNE (The Bourne Ultimatum, 2007), mais uma vez sob o comando de Paul Greengass.


Fazendo uma conexão imediata com o capítulo anterior (A Supremacia Bourne, de 2004) Jason Bourne (Matt Damon) vai em busca de sua origem. Investigando seu próprio passado, Bourne viaja para Moscou, Paris Londres, Tanger, para finalmente chegar em Nova York, onde busca as respostas para solucionar seu caso, enquanto é perseguido pela CIA, Interpol e por grupos obscuros do governo americano.

Quem disse que um filme de ação não precisa ser inteligente e ter um roteiro redondo? O Ultimato Bourne possui essas qualidades e vai além: direção insana de Paul Greengass, edição inebriante, trilha sonora frenética, cenas absurdamente perfeitas e de tirar o fôlego, onde não se percebe a adição de efeitos especiais, tudo na marra. Além do elenco cheio de notáveis.


A começar pelo Bourne de Matt Damon. Um personagem de silêncios, algumas perguntas e muita pancada. As últimas escolhas de Damon foram sensacionais: Syriana – A Indústria do Petróleo (2005), O Bom Pastor (2006) e Os Infiltrados (2006).

Reprisando o papel do capítulo anterior, temos Joan Allen, como Pamela Landy, e Julia Stiles (presente na Trilogia Bourne) como Nicky Parsons. Allen (classuda) já foi indicada ao Oscar três vezes (sempre como coadjuvante), por Nixon (1995), As Bruxas de Salém (1996) e A Conspiração (2000). Stiles fez os sucessos de bilheteria 10 Coisas que Eu Odeio em Você (1999) e o remake de A Profecia (2006).

Mais do elenco. Em papéis importantes como agentes do alto escalão da CIA temos David Strathairn, indicado ao Oscar e Globo de Ouro de ator por Boa Noite, Boa Sorte (2005) e Scott Glenn, veterano de filmes como O Silêncio dos Inocentes (1991) e Dia de Treinamento (2001). Finalizando Albert Finney, num papel misterioso e importante para a conclusão da saga de Bourne. Finney já foi indicado cinco vezes ao Oscar, incluindo As Aventuras de Tom Jones (1963) e Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento (2000).


Falando especificamente das cenas de ação, são incontáveis as seqüências que primam pelos cortes rápidos e direção fulminante de Greengass, com destaque para a perseguição de carros em NY e a seqüência em que Bourne pula de um prédio para o outro, culminando com um quebra-pau sensacional. Sabemos que 007 é, sem dúvida, um ícone do cinema, mas em se tratando de desenvolvimento do personagem e o propósito de suas cenas de ação, ele tem que apreender para chegar à excelência alcançada por Jason Bourne na sua trilogia.

O Ultimato Bourne não é apenas mais um filme de ação, é um filmaço de adjetivos, com força suficiente para ser eternizado, sem exagero, como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos.

NOTA: 9,3

INFORMAÇÕES ESPECIAIS:

O diretor: Paul Greengass foi indicado ao Oscar de direção pelo sufocante Vôo United 93 (2006), e ganhou o BAFTA de diretor pelo mesmo filme. Pelo pungente Domingo Sangrento (2002) ele ganhou dois prêmios em Berlim: Urso de Prata de direção e Prêmio do Júri;

Os Filmes: estreando em 2002 sem muito alarde, A Identidade Bourne foi dirigido por Doug Liman (do agitado Sr. & Sra. Smith de 2005) e era baseado no livro de Robert Ludlum de mesmo nome. Com um sucesso considerável de bilheteria (U$ 121 milhões, somente no mercado americano), Paul Greengass foi contratado para dirigir sua continuação, A Supremacia Bourne (2004), também baseado no livro de mesmo nome. U$ 176 milhões depois, uma terceira parte (desta vez levemente baseado no livro de Robert Ludlum), O Ultimato Bourne (2007) foi inevitável;

Trilha sonora nas caixetas: Love and Peace or Else, U2

> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 21/08/2007.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Bond. James Bond.

Depois de 10 anos e quatro filmes depois com Pierce Brosnan à frente da franquia multimilionária de James Bond, os produtores decidiram dar uma guinada no personagem. E para isso tomaram duas decisões: Primeiro, adaptar um livro de Ian Fleming, chamado Cassino Royale, no qual ele descreve os primeiros passos do agente 007. Segundo, já que se trata do início da carreira do agente secreto mais famoso do mundo, o ator teria que ser um pouco mais jovem para tal empreitada.


E assim chegamos a esse novo 007 – Cassino Royale, dirigido pelo mesmo Martin Campbell que já havia lançado Brosnan no papel de Bond, agora apostando mais uma vez num novo rosto para o agente secreto: Daniel Craig. O filme começa a todo vapor, mostrando Bond ganhando sua permissão para matar (exatamente a alcunha de “00”) numa audaciosa missão planejada por “M” (Judi Dench), sua chefe na Inteligência Britânica.

A partir daí surgem novos personagens e novas motivações. James Bond (Daniel Craig) em sua primeira missão oficial, tem de encontrar um banqueiro do crime chamado Le Criffre (Mads Mikkelsen) e impedi-lo de vencer um torneio de pôquer num cassino e usar o dinheiro para financiar o terrorismo e guerrilheiros. Para entrar no jogo milionário do Cassino Royale, Bond terá que entrar em ação com a ajuda de um informante local (Giancarlo Giannini) e uma agente do Tesouro Nacional (Eva Green) a tiracolo.

Como 007 – Cassino Royale é um filme que trata dos primeiros passos de James Bond, é interessante percebemos a estória como um começo de tudo. De como 007 moldou sua personalidade (em relação às mulheres, aos inimigos, ao trabalho), como ele foi descobrindo como tratar do ego no dia-a-dia e sua forma de utilizar a força física (que aqui é em alta voltagem), mas que com o passar dos anos passa a ser bem mais estratégico.

Daniel Craig é feio, carrancudo e carrega um bico por todo o filme, mas tem a imponência e a virilidade transbordando na tela num tom necessário para o ritmo da estória e a nova apresentação do personagem em si. Sua fórmula do Bond é simples, tem 10% de charme, 20% de físico e 70% de pura brutalidade, com um clima sombrio permeando o filme.

Está tudo no seu lugar: a abertura estilizada acompanhada de uma nova canção, cenas violentas, seqüências de ação de enlouquecer, paisagens perfeitas, mulheres sensuais, carros maravilhosos, algumas engenhocas (mas nada demais), o Martini e suas frases de efeito (“Bond. James Bond”), mas 15 minutos a menos de projeção não faria mal a ninguém.

INFORMAÇÕES ESPECIAIS

Martin Campbell: diretor de 007 Contra Goldeneye (1995), filme que lançou Pierce Brosnan como James Bond e trouxe de volta o sucesso à franquia de 007, Campbell também dirigiu o estrondo de bilheteria A Máscara do Zorro (1998), sua seqüência de razoável performance (A Lenda do Zorro de 2005) e Limite Vertical (2000);

Canção: You Know My Name, a canção que abre 007 – Cassino Royale é interpretado por Chris Cornell (vocalista da banda Audioslave), e foi feita especialmente para o filme em parceria com David Arnold, compositor da trilha sonora original de 007 – Cassino Royale;

Daniel Craig: Ator inglês que veio do teatro, Craig já fez pequenos, mas marcantes papéis em grandes filmes, como Elizabeth (1998), Estrada Para Perdição (2002) e Munique (2004). Atuou também no fraquíssimo Lara Croft: Tomb Raider (2001) e no curioso Camisa de Força (2005), mas dizem que os produtores o escolheram para 007 pelo papel em Nem Tudo É O Que Parece (2004);

Eva Green: francesa de encanto incomum, Green foi descoberta por ninguém menos que Bernardo Bertolucci, no qual a dirigiu em Os Sonhadores (2003). Emprestou também talento e beleza também para Ridlley Scott em Cruzada (2005);

Madds Mikkelsen: estreou em Hollywood com a nova versão de Rei Arthur (2004), o vilão Le Criffre veio da escola européia que filmava filmes de arte com base no movimento Dogma 95, como a trilogia Bledder;

Judi Dench: já interpretou “M”, a chefona de Bond, em outros quatro filmes da franquia (007 Contra Goldeneye de 1995; 007 – O Amanhã Nunca Morre de 1997; 007 – O Mundo Não é O Bastante de 1999; 007 – Um Novo Dia Para Morrer de 2002) e ganhou o Oscar de atriz coadjuvante por Shakespeare Apaixonado (1998);

Giancarlo Giannini: veterano ator italiano que faz pequenos papéis em produções hollywoodianas como Caminhando Nas Nuvens (1995), Hannibal (2001) e Chamas da Vingança (2004);

Roteiristas: escrito originalmente pela dupla Neal Purvis e Robert Wade, responsáveis também por 007 – O Amanhã Nunca Morre de 1997; 007 – O Mundo Não é O Bastante de 1999, o roteiro teve o acabamento final dado por Paul Haggis, vencedor de três Oscars, roteiro adaptado por Menina de Ouro (2004), roteiro original e filme por Crash – No Limite (2005);

> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 20/12/2006.

Nota: 8,6


Trilha sonora nas caixetas: Be Yourself, Audioslave.

Um Verdadeiro Sacrifício

Imagine um suspense que não assusta nem causa medo, e sequer prende atenção. Pronto, agora você entendeu o que é O Sacrifício, novo filme estrelado por Nicolas Cage. A película conta a história de um xerife de uma pequena cidade (Cage), que após passar por um traumático acidente entra de cabeça na investigação do desaparecimento de uma menina numa comunidade afastada, onde os moradores escondem um segredo terrível.

De início perturbador O Sacrifício é a refilmagem de O Homem de Palha (1973) filme B de suspense que tinha Christopher Lee no elenco. Apenas de início, porque depois de 20 minutos tudo que o longa provoca é sono no espectador. Cage (que também é produtor do filme) esforça-se para dar vazão ao personagem obcecado na busca da verdadeira história por trás do mistério do sumiço de uma garotinha, mas o filme simplesmente não decola. Leelee Sobieski (revelada por Stanley Kubrick em De Olhos Bem Fechados) e a veterana Ellen Burstyn (que esteve maravilhosa em Réquiem Para Um Sonho) passam vexame num filme fraco cheio de situações clichês e de diálogos bobos.

Totalmente fora de seu próprio padrão e gênero, o filme é dirigido pelo competente Neil LaBute que tem em seu currículo os excelentes Na Companhia dos Homens (1997), Seus Amigos, Seus Vizinhos (1998), A Enfermeira Betty (2001) e Possessão (2002). O verdadeiro sacrifício na verdade é conseguir assistir até o final do filme sem dar uma bela cochiladinha.

Cotação: Péssimo. Nota: 2,0

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 03/11/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Socorro, Arnaldo Antunes.

Salada de Bichos

Por vez ou outra os adultos reclamavam de levarem os menores aos cinemas, por acharem alguns filmes um porre ou bobagens onde só as crianças se divertiam. De uns tempos para cá, a situação está meio invertida. Os maiores esperam os desenhos mais bacanas entrarem em cartaz e correm para as salas de exibição, às vezes com uma vontade maior até que os próprios pequenos. A Casa Monstro, Os Sem-Floresta, Os Incríveis, Shrek 1 e 2, Procurando Nemo, FormiguinhaZ, Vida de Inseto, Monstros S/A, Toy Story 1 e 2, Aladdin, O Rei Leão, A Bela e a Fera, A Fuga das Galinhas e Wallace & Gromit estão aí para comprovar que animação é um divertimento sem rótulos ou contra-indicação, feita para todos que gostam de uma boa história e diversão garantida. Isso sem esquecer os sarcásticos e cativantes Noiva-Cadáver e O Estranho Mundo de Jack (ambos com o selo de qualidade Tim Burton) e o oriental e deslumbrante A Viagem de Chihiro.

Infelizmente esse novo O Bicho Vai Pegar, primeiro longa-metragem da Sony Pictures Animation, não chega nem perto dos citados anteriormente. Não que seja um filme chato. É engraçadinho e bem feito, mas conta uma história já vista anteriormente em outros filmes (bem melhores). Entenda o porquê: pegue um parceiro que perturba, mas é uma comédia (lembram de o Burro de Shrek?), lance cenas politicamente incorretas de apreciação de fast food (lembram de Os Sem-Floresta?) e um personagem principal que é uma atração adestrada de um parque florestal, mas devia ser um legítimo selvagem e, na verdade, não conhece a natureza nem os perigos da selva (lembram de Madagascar?).

A história gira em torno de Boog (no original feito pelo comediante Martin Lawrence, de Vovô...Zona), um urso pardo domesticado e bem acomodado por uma guarda florestal com comidinha e cantinho quente pra dormir, sem esquecer do ursinho de pelúcia Pimpão. Tudo ia bem até conhecer um cervo amalucado chamado Elliot (dublado por Ashton Kutcher, de Cara, Cadê Meu Carro?), que o leva a cometer atos de rebeldia. Despejado do seu cantinho, Boog é levado de volta para a floresta. Pior: às vésperas da temporada de caça.

A tentativa de ser um divertimento apenas para os pequenos é próximo do ideal, com as confusões de Boog e Elliot no centro das questões, inserindo ainda uma mensagem de companheirismo, amizade e contra a violência. Mas com uma história um pouco batida e ainda com o uso de algumas canções (melosas) permeando o filme, O Bicho Vai Pegar fica no meio termo entre diversão ligeira e uma animação exclusivamente infantil.

O BICHO VAI PEGAR (Open Season, EUA, 2006). De Roger Allers, Jill Culton e Anthony Stacchi. Vozes de Ashton Kutcher e Martin Lawrence. 86 min.

Cotação: Regular. Nota: 6,0

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Vida & Arte, em 12/10/2006.

Trilha Sonora nas Caixetas: Brainstorm, Artic Monkeys.

Dois Dedos de Bobagem

(título original: Muita Besteira e Dois Dedos de Bobagem)


Daniel Filho é um diretor de televisão respeitável. Dono de um currículo interminável na telinha, Filho fez no longínquo ano de 1983 o longa-metragem O Cangaceiro Trapalhão. Retornou a tela grande em 2001 com o bem recebido A Partilha. Partiu para a comédia fantástica com o sucesso de público A Dona da História, em 2004. Animado veio no começo do ano com a comédia besteirol Se Eu Fosse Você, com resultados (de público) ainda mais fantásticos. Sem esfriar nem a cadeira de diretor, Daniel Filho espera um resultado no mínimo igual com o novo e fraquíssimo Muito Gelo e Dois Dedos D´Agua, uma comédia pra lá de besta.




A história gira em torno de Suzana e Roberta (respectivamente Paloma Duarte e Mariana Ximenes) que detestam a avó (Laura Cardoso) e bolam um plano para seqüestrá-la, mas acabam envolvendo em suas confusões um advogado careta (Ângelo Paes Leme) e o marido de Suzana, um médico boboca (Thiago Lacerda).

Amplamente divulgado como uma nova comédia dos criadores de Os Normais (que é bacana), Muito Gelo... é tão idiota que parece um quadro malfadado de Zorra Total. Suas gags são televisivas e primárias, fazendo uso de desenho animado, cores e sons com a finalidade de fazer graça com as situações. Pior para os atores, como a veterana Laura Cardoso que tem de passar por cada cena ridícula, enquanto Thiago Lacerda age como um completo retardado mediante as situações mais patéticas possíveis. Lamentável desperdício de tempo, dinheiro e celulóide, bem que o título poderia ser Muita Besteira e Dois Dedos de Bobagem, no barato.

MUITO GELO E DOIS DEDOS D´AGUA (IDEM, BRA, 2006). De Daniel Filho. Com Mariana Ximenes, Paloma Duarte, Ângelo Paes Leme, Laura Cardoso e Thiago Lacerda. 108 min.

Cotação: Péssimo. Nota: 1,1

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 29/09/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Riot Van, Artic Monkeys.

Dália Morna

Los Angeles anos 40. Uma bela aspirante à atriz (Mia Kirshner) é brutalmente assassinada, num crime que se tornou conhecido como o assassinato da Dália Negra. Uma dupla de policiais conhecidos pela mídia por Fogo (Aaron Eckhart) e Gelo (Josh Hartnett) embrenha-se no submundo do crime organizado, sexo, prostituição, dos ricos e poderosos de Hollywood em busca da verdade.
Baseado num romance de James Ellroy (o mesmo de Los Angeles - Cidade Proibida), Dália Negra é um filme noir por natureza, recheado de mulheres fatais, cenas subjetivas, trilha característica, imagens estilosas, triângulo amoroso e narração em off. Mas tudo isso não o torna um grande filme. Dirigido pelo calejado Brian De Palma (dos fantásticos e longínquos Os Intocáveis e Scarface), o filme começa bem, tem fotografia primorosa, frases de efeito e algumas cenas "De Palminianas" (em especial a do descobrimento do corpo e a sequência da escadaria). Mas prejudicado por suas soluções pouco prováveis e com clima excessivamente arrastado, De Palma nos apresenta a uma história cheia de pontas soltas e ritmo frouxo.

Sem falar nas más atuações de duas excelentes atrizes, que aqui fazem mulheres fatais: Scarlett Johansson, desperdiçando sua beleza e brincando com sua piteira; e Hilary Swank, totalmente perdida num papel sem nenhuma inspiração. Apenas corretos estão Josh Hartnett e Aaron Eckhart, enquanto Mia Kirshner simplesmente seduz com seu jeito de menina e olhos penetrantes.

Baseado em fatos reais e por tudo que prometia, Dália Negra poderia ter sido um filmaço. Longe de ser ruim, esse novo De Palma é um suspense policial morno e deixa uma sensação de que está faltando alguma coisa em sua essência.


DÁLIA NEGRA (The Black Dahlia, EUA/ALE, 2006). De Brian DePalma.
Com Josh Hartnett, Aaron Eckhart, Scarlett Johansson, Hilary Swank e Mia Kirshner. 121 min.

Cotação: Regular. Nota: 6,0

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 13/10/2006.

Trilha Sonora nas Caixetas: Tal Segredo, Karranka.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Cinema-denúncia numa verdade filmada

A exploração sexual e conseqüente prostituição infantil é crime. Isso o já mundo sabe. Mas em alguns casos por todo o Brasil não existe denúncia ou ação que dê jeito. E o que acontece diariamente é exposto nesse novo Anjos do Sol, produção brasileira e estréia do gaúcho Rudi Lagemann em longas.

No início tomamos logo um tapa na cara: aliciador (Chico Diaz, nojentamente perfeito) chega numa aldeia de pescadores para levar menininhas para trabalhar. Um casal tenta vender filha mais velha, mas como está com piolhos, joga Maria (Fernanda Carvalho) de apenas 12 anos na negociação. Detalhe: eles supõem que ela irá trabalhar para famílias em outro estado. Transportadas às escondidas e como carga, Maria se junta a outras mercadorias, meninas assim como ela, prestes a serem mais uma vez colocadas à venda.

Agora vem o soco no estômago: repassadas para uma madame (Vera Holtz), elas serão tratadas para irem a leilão, compradas por poderosos, políticos e fazendeiros. Aí tome, bebidas goela abaixo, estupro, violência e prostituição. E acreditem, ainda fica pior.

Funcionando incisivamente como denúncia o filme é perfeito, cruel e real, fazendo uso de cenas fortes e de apelo social, mas dramaticamente a estória escorrega um pouco, tentando fazer com que o espectador torça para que algo de positivo aconteça as protagonistas. Mas temos que lembrar que todo o tema abordado pelo filme infelizmente acontece com maior ou menor gravidade no nosso país, naturalmente.


O elenco infantil está bem calibrado, com uma dose de inocência permeando os olhares e atitudes das meninas, apesar do clima pesado atingido pelo filme. Os veteranos Vera Holtz e Chico Diaz estão ótimos, mas é impossível não ficar enojado (no bom sentido) com as atuações fantásticas de Otávio Augusto e de Antônio Calloni, esse sim, o dono do filme, simplesmente genial.

A ferida está aberta, e o que o diretor pretende com o filme é alertar para algo que já sabemos, mas que parecemos não nos importar. E o que Lagemann coloca na tela implora para ser discutido e denunciado, assim como todo problema social no Brasil.

Deve ser muito dolorido para uma mãe assistir ao filme e inevitavelmente não pensar em suas filhas, mas ainda assim merece ser visto por todos pelo tema duro e real, como uma verdade filmada.

INFORMAÇÕES ESPECIAIS

Festival de Gramado: Anjos do Sol (dividindo com Serras da Desordem) levou o Kikito de Melhor Filme 34º Festival de Gramado. Ganharam também Antonio Calloni (ator), Otávio Augusto (coadjuvante), Mary Scheila (atriz coadjuvante.), roteiro e edição;

Festival de Miami: No Festival Internacional de Cinema de Miami, em março de 2006, Anjos do Sol ganhou pelo júri popular como melhor longa de ficção ibero-americano;

Elenco: Vera Holtz, Chico Diaz, Antônio Calonni e Otávio Augusto, participaram do filme pela causa, topando ganhar um cachê simbólico, não revelado;

Rudi Lagemann: diretor de Anjos do Sol, escreveu também o roteiro, fez a co-edição e produziu o longa.

> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 25/10/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Se no meio do que você tá fazendo você pára, Arnaldo Antunes.

Quebra-Cabeça

Para quem gosta de um enredo com várias reviravoltas, vai se deliciar com esse Xeque-Mate. Emoldurando um quebra-cabeça intricado e bem escrito, um elenco de caras conhecidas: Josh Hartnett, Bruce Willis, Morgan Freeman, Ben Kingsley, Lucy Liu, Stanley Tucci e Danny Aiello.

Contar muito sobre o filme antes de assisti-lo não seria nem um pouco bacana, aqui conto apenas um esboço da história: confundido com outra pessoa, Slevin (Hartnett) entra num jogo de mortes e traição entre dois gângsters (Freeman e Kingsley) e um matador profissional (Willis). Ao mesmo tempo envolve-se com sua vizinha, uma bela legista (Liu).

A cada passo os desdobramentos vão aumentando e as cenas tornam-se cada vez mais interessantes, com um detalhe: é um filme policial, mas quase não contém cenas de ação e ainda assim consegue prender o espectador. Esse é o poder de uma boa história.

Tentar adivinhar o que sucede a cada cena é bobagem. Concentre-se e receba tudo que passa na tela como um grande blefe, mas positivamente. Assim, você poderá absorver todas as surpresas que são jogadas na tela com bastante estilo pelo diretor Paul McGuigan (de Amor à Flor da Pele).

Com um final imprevisível, Xeque-Mate lembra muito os filmes do diretor Guy Ritchie (Snatch - Porcos e Diamantes; Jogos, Trapaças & Dois Canos Fumengantes) e funciona como algo entre Jackie Brown e um sub Pulp Fiction - Tempo de Violência.

XEQUE-MATE (Lucky Number Slevin, EUA/ALE, 2006). De Paul McGuigan.
Com Josh Hartnett, Bruce Willis, Morgan Freeman, Ben Kingsley, Lucy Liu, Stanley Tucci, Danny Aiello, Mykelti Williamson e Sam Jaeger.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 29/09/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Nonono, Conjunto Roque Moreira.

Uma vez já é demais

em 2005 foi lançado uma comédia chamada Penetras Bons de Bico. Foi um estouro e consolidou a carreira do grandalhão Vince Vaughn e do aloirado Owen Wilson, dando cacife para que eles fossem produtores de seus próximos filmes. Vaughn produziu e atuou em Separados pelo Casamento, uma comédia romântica bacana que obteve sucesso de público e crítica.



Já Wilson produziu e estrelou nesse novo Dois É Bom, Três É Demais que se denomina uma comédia. Uma comédia que ora quer ser pastelão, ora tenta ser uma comédia inteligente, uma pitadinha de romance, mas que de tão irregular não consegue achar seu tom ideal.

A história gira em torno de Carl (Matt Dillon, indicado para o Oscar de Coadjuvante por Crash - No Limite) e Molly (Kate Hudson, linda!), que após casarem têm de agüentar o padrinho de casamento (Wilson) instalado na sua casa temporariamente.

O amalucado Wilson têm algumas tiradas cômicas, todas elas físicas e de pouca sutileza, mas nada que faça o filme decolar, beirando até a forçação de barra.

Com um enredo que a gente sabe onde vai dar, tudo que esperamos é que surja uma cena que nos faça pelo menos dar uma bela risada. Mas o que vemos na tela causa apenas alguns sorrisos amarelos. Muito pouco para quem já fez meio mundo se esbaldar de rir com Penetras Bons de Bico (com Owen Wilson) e se divertir com uma inteligente comédia romântica Como Perder Um Homem Em 10 Dias (com Kate Hudson).

Ah, e Michael Douglas faz uma ponta como o pai (durão) da noiva. Nessas alturas, já não importa tanto. Para quem curte uma comédia bobinha, vale arriscar.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 22/09/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Vendedor de Cajuína, Conjunto Roque Moreira.

Trash, trash, trash!

Os produtores tinham tudo planejado para fazer mais um filme cult. Escolheram um roteiro podreira que ninguém queria filmar há anos. Soltaram na internet notícias que o filme era um conceito de sucesso. Contrataram um diretor afeito ao tema sangue versus risos (David R. Ellis, de Premonição 2) e um astro que topa qualquer parada (Samuel L. Jackson, indicado ao Oscar de melhor coadjuvante por Pulp Fiction, lembram?).


Sim, topa qualquer parada, porque esse novo Serpentes à Bordo é simplesmente um lixo!

O fiapo de história: testemunha ocular de um perigoso criminoso embarca num avião escoltado pelo agente do FBI Neville Flynn (Jackson) rumo à Los Angeles. Para eliminá-lo, o mafioso Chen solta em pleno vôo mais de 400 serpentes venenosas prontas para atacar.

E agora, o que fazer? Chamar o Chapolin Colorado? Não! Samuel L. Jackson (com a maior pose de bonzão) resolve a parada! Além de ser um filme extremamente previsível, o que assistimos na tela é um festival de frases toscas e atuações (ou gritos) dignas de Framboesa de Ouro, com uma série de cenas nojentas, bizarras e absurdamente engraçadas (o cachorrinho, as mortes no banheiro, o braço podre do pirralho e uma 'homenagem' a outro trash Anaconda...), refletindo tudo isso na sua bilheteria, bem aquém do esperado.

Se você tiver tempo não o perca nesse filme, a não ser que masoquismo e dinheiro sobrando para torrar numa porcaria não seja um problema.

SERPENTES À BORDO (Snakes on the Plane, EUA/ALE, 2006).
De David R. Ellis. Com Samuel L. Jackson, Julianna Margulies e Nathan Phillips. 105 min.


> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 08/09/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Insônia, Cosmotone.

Tensão Inútil

Hollywood anda mesmo sem idéias. Mais uma refilmagem chega aos cinemas, Poseidon (no original O Destino de Poseidon de 1972) sem novidades, apenas com efeitos especiais de primeira e uma estória ainda mais rala que o original.

Vamos ao fiapo de roteiro: Uma onda gigante e traiçoeira faz o milionário transatlântico Poseidon tombar em plena comemoração de Ano Novo. Submersos em agonia, os passageiros tentam desesperadamente sobreviver a todo custo. Inundações, incêndios, explosões, desabamentos e uma contagem de corpos altíssima comprovam a intenção de ser filme-catástofre, que só não é realmente uma catástofre graças a duas coisas: ao veterano diretor Wolfgang Petersen (de Mar em Fúria e Tróia), que tem habilidade de sobra para manejar cenas com alto nível de tensão e conta com um arsenal de efeitos especiais de última geração. Toda tensão que U$ 160 milhões de dólares possam pagar.

Mas tudo isso não consegue comprar um roteiro em que apenas acompanham-se as cenas de perigo, mas sem o envolvimento dramático com os personagens (diferentemente do original). Percebem-se atores sem rumo (Kurt Russell, Richard Dreyfuss, Emmy Rossum e Josh Lucas) com personagens nada trabalhados e afogados em diálogos pífios e risíveis.

Se fosse um filme mudo seria perfeito, vale como diversão passageira e só.

POSEIDON (idem, EUA, 2006). De Wolfgang Petersen.
Com Kurt Russell, Richard Dreyfuss, Emmy Rossum e Josh Lucas. 96 min.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Vida & Arte, em 30/06/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Liar, Cliftons.

Narfs, Scrunts, Tartutics e a grande Eatlon

Bem vindo ao mundo mágico de M. Night Shyamalan. Você pode não ter ouvido falar nesse nome, mas com certeza já assistiu a algum filme dele. Diretor, roteirista e produtor de seus filmes (além de fazer pontas como ator), Shyamalan nos apresenta em A Dama na Água mais uma vez um mundo particular com personagens estranhos e de situações incomuns. Tão diferente quanto igual aos anteriores. De diferente percebe-se o tema, de uma mitologia tão irreal como qualquer outra. De igual percebemos temas subjetivos (alguns até demais), sustos e seu clima de mistério.

Cleveland Heep (Paul Giamatti, tímido e cômico naturalmente) descobre uma Narf (Bryce Dallas Howard, maravilhosa de tão pura e frágil), uma criatura vinda do Mundo Azul para ajudar os homens, em especial um escritor, que tem como missão escrever algo que vai inspirar toda a humanidade a escutar sua voz interior, a voz da razão, do sentimento puro e da paz.

Sabe quem interpreta o escritor? O próprio Shyamalan! Será uma mensagem que ele precisa de inspiração? Bem, inspiração ele tem de sobra e suas viagens estão cada vez mais altas (mas isso não é sinônimo de cada vez melhores).

De narrativa irregular, seu roteiro por vezes consegue transparecer com simplicidade suas mensagens de fé, mas seus sentimentos nem sempre fazem da sua fábula uma perfeita estória de ninar. À medida que a estória avança, seu nível de suspense compete de igual para igual com lances de comédia involuntária e frases de efeito.

Como cenário temos um condomínio, que funciona como um microcosmo do mundo, habitados por tipos esquisitos que beiram o caricatural, com analogias a sentimentos de perda, proteção e sua busca de um sentido maior para a vida.

Mas quem são os Scrunts, os Tartutics e a Grande Eatlon? Personagens do seu mundo particular que habitam esse A Dama na Água, onde tudo que Shyamalan pede é que escute sua voz interior e acredite no que se passa na tela grande. Afinal, o cinema ainda é um lugar mágico em que podemos sonhar.

INFORMAÇÕES ESPECIAIS

M. Night Shyamalan: Diretor, roteirista, produtor e ator em seus filmes, Shyamalan possui grandes sucesos no currículo (O Sexto Sentido – indicado para o Oscar, Corpo Fechado, Sinais e A Vila);

Livro: Após gerar mais de 1 bilhão de dólares para os cofres da Disney, Shyamalan foi removido de fazer A Dama na Água na Disney por que a mesma queria modificar a essência de sua estória e não queria que ele participasse do filme como um de seus atores. O livro chama-se The Man Who Heard Voices: Or, How M. Night Shyamalan Risked His Career on a Fairy Tale ("O Homem que Ouvia Vozes ou como M. Night Shyamalan Arriscou Sua Carreira com um Conto de Fadas") e foi escrito em parceria com o jornalista Michael Bamberger;

Bryce Dallas Howard: Filha do diretor de cinema Ron Howard (Oscar por Uma Mente Brilhante), Bryce já foi dirigida por Shyamalan com destaque em A Vila e por Lars Von Trier no polêmico Manderlay (continuação do explosivo Dogville);

*Paul Giamatti: Indicado para o Oscar de Melhor Ator por Anti-Herói Americano, brilhou também em O Mundo de Andy e Sideways – Ente Umas e Outras;

James Newton Howard: Indicado em 6 oportunidades ao Oscar, Howard colaborou em outros filmes de Shyamalan e teve sua última indicação ao Oscar por A Vila (2004).

> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 20/09/2006.

*Coreção: Indicado ao Oscar de ator coadjuvante por A Luta Pela Esperança (2004).

Trilha sonora nas caixetas: Rótulo, Enverso.

O Mundo Mágico de Shyamalan

M. Night Shyamalan. Você pode não ter ouvido falar nesse nome, mas com certeza já assistiu a algum filme dele. Diretor, roteirista e produtor de seus filmes (além de fazer pontas como ator), Shyamalan surpreendeu o mundo com O Sexto Sentido, intrigou com Corpo Fechado, assustou com Sinais e espantou com A Vila. Agora Shyamalan nos traz A Dama na Água, tão diferente quanto igual aos anteriores. De diferente percebe-se o tema, de uma mitologia tão irreal como qualquer outra. De igual percebemos temas subjetivos (alguns até demais), sustos e seu clima de mistério.

Cleveland Heep (Paul Giamatti, tímido e cômico naturalmente) descobre uma Narf (Bryce Dallas Howard, maravilhosa de tão pura e frágil), uma criatura vinda do Mundo Azul para ajudar os homens, em especial um escritor, que tem como missão escrever algo que vai inspirar toda a humanidade a escutar sua voz interior, a voz da razão, do sentimento puro e da paz.

De narrativa irregular, seu roteiro por vezes consegue transparecer com simplicidade suas mensagens de fé, mas seus sentimentos nem sempre fazem da sua fábula uma perfeita história de ninar. À medida que a história avança, seu nível de suspense compete de igual para igual com lances de comédia involuntária e frases de efeito.

Como cenário temos um condomínio, que funciona como um microcosmo do mundo, habitados por tipos esquisitos que beiram o caricatural, com analogias a sentimentos de perda, proteção e sua busca de um sentido maior para a vida.
Mas quem são os Scrunts, os Tartutics e a Grande Eatlon? Personagens do seu mundo particular que habitam esse A Dama na Água, onde tudo que Shyamalan pede é que escute sua voz interior e acredite no que se passa na tela grande. Afinal, o cinema ainda é um lugar mágico.


A DAMA NA ÁGUA (Lady in the Water, EUA, 2006).
De M. Night Shyamalan. Com Paul Giamatti, Bryce Dallas Howard, Jeffrey Wright, Bob Balaban, Freddy Rodriguez e M. Night Shyamalan. 110 min.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 08/09/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Temporal, Enverso.

É pra rir ou pra assustar?

Ano 2000. Após uma enxurrada de fitas de terror adolescente que vieram na cola do sucesso-surpresa de 1996, Pânico, estreava na cidade outro do gênero. Os mais novos vibraram com mais um filme em cartaz que pudessem assustá-los. Tudo apontava para o lugar comum. Foi aí que aconteceu a (boa) surpresa. Com o título de Premonição, o filme era dirigido por um veterano da série de tv Arquivo X e trazia uma história de jovens que escapavam de um desastre de avião graças a uma visão premonitória de um dos rapazes. A partir daí, a morte passa a persegui-los e nós contemplados com boas doses de sustos e cenas morbidamente bem boladas. Com seu sucesso de bilheteria, fazer uma continuação foi inevitável.


Premonição 2 trazia no elenco apenas uma sobrevivente do filme anterior e dessa vez somos apresentados a um acidente rodoviário, numa incrível seqüência de colisões numa auto estrada. O início prometia, mas depois a seqüência dá uma descambada para cenas em que o riso é inevitável. Ficou no meio termo, assim um terror engraçadinho. Alguns milhões de dólares depois chegamos a esse Premonição 3.

Agora não existe mais nenhum personagem de ligação entre os filmes, apenas o nome como franquia e a mesma história contada de novo. Garota prevê um acidente fatal para todos os ocupantes de uma montanha-russa. Desacreditada é retirada do brinquedo na companhia de alguns conhecidos, porém sua premonição torna-se realidade. Aí começa uma luta pela sobrevivência. Tudo que os anteriores tinham de bacana (mortes criativas, cenas aterrorizantes e um sentido para a história) transformam-se em coisa nenhuma. Aqui temos personagens estereotipados em situações forçadas e tudo que esperamos acontecer são novas formas de morrer estupidamente. Nem mesmo o retorno do diretor original, James Wong, ajudou no produto final. Na verdade esse é o pior filme dos três.

O mote da série Premonição é que os personagens sempre tentam enganar a morte, mas dessa vez com mais risos (involuntários) do que sustos.

PREMONIÇÃO 3 (Final Destination III, EUA, 2006).
De James Wong. Com Mary Elizabeth Winstead, Ryan Merriman, Kris Lemche, Alexz Johnson, Sam Easton e Jesse Moss. 93 min

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 21/07/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Asas, Maskavo.

Garfield para as crianças

Ele é o rei do pedaço. Fofo e inteligente. Seu prato predileto é uma bela lasanha. Odeia as segundas-feiras. Adora se esticar no sofá. O controle remoto da TV sempre fica com ele. Suas falas são cínicas e cheias de graça. Seus maus modos são apenas detalhes. É folgado e está sempre metido em confusões. Quem é? Garfield, é claro! Criado em 1978 por Jim Davis no formato de tirinhas para jornal, o personagem aparece mais uma vez nos cinemas, agora com sua segunda aventura, Garfield 2 (Garfield: A Tail Of a Two Kities, EUA, 2006) e com um enredo feito para atingir ainda mais a criançada.

Jon (Breckin Meyer) viaja para a Inglaterra com a intenção de pedir sua namorada Liz (Jennifer Love Hewitt) em casamento. Como não poderiam ficar de fora, Garfield e o cachorro Odie também embarcam e acabam se envolvendo numa troca de identidades. Garfield é confundido com Prince, um gato de uma família real e herdeiro de uma fortuna. Preterido no testamento, Lord Dagis (Billy Connolly) tenta a todo custo livrar-se do gato afortunado, para transformar toda a propriedade num spa e hotel, destruindo assim fazenda e eliminado todos os animais.

O início até agrada aos adultos, parecendo ser melhor que o primeiro exemplar, com um Garfield falastrão em cena. Mas logo em seguida o filme mostra-se extremamente infantil, com a adição de muitos animais falantes como personagens na tentativa de deixar os menores ainda mais interessados na película. Centrando no objetivo de entreter as crianças, beneficia-se também de sua curta duração e da utilização do humor físico. Garfield 2 foi feito para levar a criançada ao cinema como uma diversão ligeira. E consegue. E os adultos que agüentem.

GARFIELD 2 (Grafield: A Tale of a Two Kitties, EUA/ING, 2006).
De Tim Hill. Com Breckin Meye, Jennifer Love Hewitt, Billy Connolly e Bill Murray (voz). 76 min.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 23/06/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Balança a Pema, Jorge Ben Jor.

Mais do Mesmo

Beleza é fundamental?

Na (mais) comédia (do que) romântica Apenas Amigos (Just Friends, EUA, 2005), a questão da beleza exterior versus a beleza interior é mais uma vez apresentada na tela grande, sem grandes novidades.


O adolescente Chris Brander (Ryan Reynolds) é inteligente, gordinho e apaixonado por Jamie Palamino (Amy Smart), a garota mais bonita da escola. Ao finalmente declarar seu amor, é vítima de chacota de toda sua turma, além de perceber que todos seus sentimentos não passam de uma bela amizade para Jamie. É nesse momento que decide mudar o rumo da sua vida, saindo da suburbana New Jersey para a metrópole de Nova York.

Anos depois, Chris é um bem sucedido executivo do mercado fonográfico, sarado e mulherengo. Numa viagem de negócios seu avião tem problemas e faz um pouso forçado justamente em New Jersey, mas com um agravante: traz consigo uma jovem popstar (Anna Farris), ninfomaníaca que insiste em comporta-se como sua namorada. O retorno à pequena Jersey transforma-se num ajuste de contas com seu coração.

Ryan Reynolds tem lá seu carisma, mas com um roteiro repleto de clichês seu personagem perde força junto com a história, afundando as possibilidades com cenas forçadamente sem graça (como a seqüência do jogo de hóquei no gelo com as crianças). Numa clara alusão do que seria uma junção parodiada de Britney Spears e Christina Aguilera, temos Anna Farris como a popstar Samantha James. Suas intervenções beiram o exagero, mas são inspiradamente engraçadas.

Mesmo não ambientada nos anos 80, percebe-se claramente o uso da mesma fórmula desgastada de duas décadas atrás, cheia de situações banais e frases da profundidade de um pires. A abordagem inicial, cheia de bom humor, não salva o filme do lugar comum, passando simplesmente para o escracho trivial e apinhado de situações previsíveis. Mais do mesmo.

APENAS AMIGOS (Just Friends, EUA, 2005).
De Roger Kumble. Com Ryan Reynolds, Amy Smart, Anna Farris e Chris Klein. 96 min.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 16/06/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Cool, Gwen Stefani.

A Profecia do Marketing

A 20 Century Fox, detentora dos direitos da série A Profecia, iniciada em 1976, não podia perder essa oportunidade. No dia 06, no mês 06, do ano de 2006... Lançar uma refilmagem do clássico de suspense, utilizando novos efeitos, astros em ascensão, um diretor sedento pelo sucesso e um garotinho de olhos assustadores. A Fox teve até o cuidado de refazer a trilha aterradora do primeiro filme. Pronto, a receita básica está completa, apenas esperando que a profecia do marketing aconteça e os mais curiosos possam fazer desse novo filme um grande sucesso de bilheteria.

Vamos a história do 'novo' A Profecia (The Omen, 2006). Ao saber da morte de seu filho lodo após o parto, o embaixador americano (Liev Schreiber), aceita um recém-nascido órfão (Seamus Davey-Fitzpatrick), sem que sua esposa (Julia Stiles) saiba do ocorrido. Depois de estranhos fatos, os pais suspeitam que a nova criança é o anticristo.

Um susto aqui, uma cena movimentada ali, e muito jogo de cena, com a trilha sonora cortando as imagens e o uso de cores e visual bem frio. O roteiro atualiza sua história original, atrelando fatos cruciais da história moderna (tsunamis, o atentado de 11 de setembro, a explosão de um foguete, etc...) a profecias religiosas, inicialmente deixando o terror bem vivo no nosso dia-a-dia. Mas depois, apenas restam mortes até impressionantes, que não mudam o resultado final de um filme bem morno e com uma resolução bastante previsível. O trailer simples e assustador não passou de um blefe muito bem feito.

Tudo isso apenas atesta mais uma vez a falta de criatividade de Hollywood. Refilmagens são feitas sem nenhum objetivo artístico, senão o de lucrar com franquias já existentes, ou filmes com nomes gravados na história da sétima arte. A conta é fácil: os produtores sempre esperam atrair tanto uma parte da base dos fãs originais, quanto atingir os novos espectadores, que não tiveram a oportunidade de acompanhar os clássicos na tela grande.

A PROFECIA (The Omen, EUA, 2006).
De John Moore. Com Julia Stiles, Mia Farrow, David Thewlis. 110min

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 09/06/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Little Wild One, The Wonders.

A Doce Volta por Cima

Mais um exemplar do bom cinema argentino aporta nos cinemas. Depois dos bem sucedidos O Filho da Noiva, Nove Rainhas e O Clube da Lua, a boa safra hermana continua com o engraçado Não é Você, Sou Eu (No Sos Vos, Soy Yo), filme produzido em 2004, que só agora ganha exibição na cidade.

Na história ecoam elementos da última crise econômica Argentina: Javier e Maria moram juntos há dois anos, mas a condição financeira do casal não é das melhores. Decidem então repetir uma experiência passada de Maria: passar uma temporada em Miami e tentar o sonho americano, a terra das oportunidades. Para isso casam-se formalmente e planejam que, Maria vai antes, fica um tempo na casa de amigos da família até equilibrar-se, para depois viabilizar a ida de Javier. Mas quando ele decide ir, um surge algo inesperado.

Na abertura já se percebe o tom do filme, com créditos coloridos e música descontraída. Proveniente de seriados da TV Argentina, o diretor e co-roteirista Juan Taratuto imprime um ritmo ligeiro, com uma série de situações seqüenciais, permeando o filme com cenas cotidianas e casuais, tornando-o mais leve e espirituoso.

Indicado em 2005 para a premiação Argentina Silver Condor, na categoria de Melhor Primeiro Filme, a película ensina ao seu protagonista que a volta por cima pode ser difícil, mas quando ela finalmente acontece, é doce. E o caminho até o fim dessa jornada mostra-se muito divertida para o espectador.

NÃO É VOCÊ, SOU EU (No sos vos, soy yo, ARG/ESP, 2004).
De Juan Taratuto. Com Diego Peretti, Soledad Villamil, Cecilia Dopazo, Hernán Jiménez, Marcos Mundstock, Luis Brandoni, Ricardo Merkin. 105 min.

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 02/06/2006.
Trilha sonora nas caixetas: Feelin´Alright, Joe Cocker.

A Construção de um Mito

Bob Dylan, apontado como poeta maldito de uma geração para os americanos mais puritanos, mas para os verdadeiros apreciadores da arte de versos e sons aprisionados em sua música, um gênio.

No Direction Home (Idem, EUA, 2005), é um documentário musical que direcionam suas câmeras e microfones desde o início, na infância dessa lenda viva da música até a chegada do sucesso em meados dos anos 60. Mas não pára por aí, temos um vasto material para ser apreciado no recheio da história, com entrevistas de diferentes épocas de Dylan, apresentações raras somam-se a interpretações de inúmeros sucessos e depoimentos de personalidades do mundo da música. São cerca de 208 minutos distribuídos em DVD duplo com altíssima qualidade de imagem e som.

Importante lembrar que a direção da película ficou a cargo de nada mais nada menos que o Sr. Martin Scorsese, que depois de quase de três décadas retorna ao gênero do documentário musical (em 1978 dirigiu The Last Waltz), e em grande estilo. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes de Melhor Filme por Taxi Driver (1976) e de Melhor Direção por Depois de Horas (1985), do Globo de Ouro de Melhor Diretor por Gangues de Nova York (2002), mas sempre esnobado em todas as ocasiões pelo Oscar (O Aviador de 2004, Gangues de Nova York de 2002, Os Bons Companheiros de 1991, A Última Tentação de Cristo de 1988), Scorsese imprime um ritmo agradável ao filme, exatamente evitando com que a experiência do espectador nessa verdadeira viagem musical não esbarre na chatice, mas sim, seja repleto de descobertas agradáveis.
Imprescindível para os fãs e indispensável para aqueles que desejam saber mais sobre o homem, a artista, o poeta, o trovador moderno, a lenda e único Bob Dylan.

> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 23/11/2005.
Trilha Sonora nas Caixetas: Like a Rolling Stone, Bob Dylan.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Melhores (e Piores) Filmes de 2007

Nesse ano listei os dez melhores e uma dupla menção honrosa, um para os músculos e outro para o coração, além dos lixos, os piores. Depois de mais de 300 filmes vistos no decorrer no ano, fazer a lista dos melhores parece estar cada vez mais difícil, enquanto o número de porcarias cresce assustadoramente.

Em 2007, o cinema nacional se destacou positivamente, pontuando três filmes dentre os melhores, com nível de realização internacional. Importante ressaltar a ausência de vários filmes que disputarão os principais prêmios internacionais, porque suas estréias estão programadas apenas para 2008. Portanto que me atenho a escrever sobre os filmes que foram lançados comercialmente no Brasil durante o ano de 2007 (em cartaz a partir de 1º de janeiro de 2007 a 31 de dezembro de 2007), independente do ano de produção dos mesmos.

Que venham mais e melhores filmes em 2008, que possam transmitir emoções e sentimentos através do som e das imagens em movimento, enfim a magia do cinema.

Abaixo segue a lista dos MELHORES FILMES de 2007:


1. Ratatouille (Ratatouille, 2007).
Nas mãos do chef, ops, diretor e roteirista Brad Bird (de Os Incríveis) o que poderia parecer mais um prato feito hollyodiano ganha contornos de receita especial, feita para ser apreciada sem contra indicação e com muito apetite.


2. O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum, 2007).
Quem disse que um filme de ação não precisa ser inteligente e ter um roteiro redondo? Direção insana de Paul Greengass, edição inebriante, trilha sonora frenética, cenas absurdamente perfeitas e de tirar o fôlego, onde não se percebe a adição de efeitos especiais, tudo na marra. Um filmaço de adjetivos, com força suficiente para ser eternizado, sem exagero, como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos.


3. Tropa de Elite (2007).
Fenômeno antes mesmo da estréia (cópia vazada), crava seu nome na história do cinema nacional (e quiçá mundial) com sua história crua (que por vezes até faz rir), cenas nervosas em estilo documental, roteiro muito bem costurado com a ação e atuações de perder o fôlego. Aqui missão dada, é missão cumprida!


4. Saneamento Básico (2007).
Uma comédia inteligente, com um roteiro de rara perspicácia, que faz rir com maestria e que ainda possui elenco inspirado. Livre das saídas fáceis com seu roteiro criativo, recheando as cenas com seus diálogos excepcionais, o filme é imperdível e muito bo-ni-to de se ver. Assista e entenda o por quê.


5. Medo da Verdade (Gone Baby Gone, 2007).
A estréia na direção de Ben Affleck é surpreendente em todos os sentidos. Baseado num livro do mesmo autor de Sobre Meninos e Lobos, o filme sobre o desaparecimento de uma garotinha investigada por um detetive particular vai além, com atuação marcante de Casey Affleck, resolução engenhosa, denso e elenco de apoio sensacional.


6. O Cheiro do Ralo (Idem, 2007).
O texto é genial (baseado num livro de Lourenço Murtarelli), repleto de diálogos e frases que fazem efeito (“a vida é dura”, entre outras). Um Selton Mello visceral, situações bizarramente divertidas e até mesmo com ecos criativos variando entre Tarantino e Guy Ritchie, transformando o filme numa experiência insana e imperdível.


7. O Hospedeiro (The Host,2007) O que você diria ao se deparar com um filme de monstro vindo da Coréia do Sul? Nem pense em desistir. É envolvente, tem trilha sonora flertando com Hitchcock, cenas de paralisar o coração e que ao mesmo tempo consegue divertir com suas piadas ingênuas. Extremamente bem dirigido, funciona como suspense (na maioria das vezes), funciona como comédia (em alguns momentos) e ainda dá uma clara cutucada nos EUA.


8. Conduta de Risco (Michael Clayton, 2007) Com uma edição que valoriza muito o início e final, consegue equilibrar bem o drama (em doses maiores) e suspense. Mesmo com um bom tom de conspiração no roteiro, o coração pulsante do filme são as atuações do trio Clooney (destroçado por dentro e forte por fora), Wilkinson e Swinton.

9. Os Simpsons – O Filme (The Simpsons Movie, 2007).
Consegue fazer graça de tudo que se passa na tela (no filme os principais temas são meio-ambiente e família), onde citar as cenas mais engraçadas torna-se uma covardia. O filme TODO é estupidamente hilário.

10. Zodíaco (Zodiac, 2007).
Prende a atenção do espectador com atuações de primeira e tem em David Fincher um diretor que consegue subverter todas as questões de filmes policiais a favor de uma história (baseado em fatos reais) bem contada e de clima angustiante. E que atuação de Robert Downey Jr.!
(Dupla) Menção Honrosa:
300 (300, 2007).
Adaptação da graphic novel de Frank Miller impressiona com o visual arrasador, cenas de ação incríveis e frases de efeito. Preparem-se para a glória. Isso é Esparta!

Piaf – Um Hino ao Amor (La Vie en Rose/La Môme, 2007).
Concentrado nas principais passagens da vida de Edith Piaf, promove uma verdadeira ressurreição na interpretação arrebatadora de Marion Cotillard. E se possível lembrem do conselho de Piaf, e façam como ela fez com sua vida, em cada momento: ame.
INFORMAÇÕES ESPECIAIS: OS PIORES FILMES de 2007
Em 2007 as salas de cinema também receberam filmes que não valem nem o ingresso. Em 2006 Nicolas Cage apareceu na lista dos piores com o sonolento O Sacrifício, e nesse ano ele aparece em outros dois fiascos. Abaixo as bombas:

1. O Magnata (2007).
De Chorão ou de chorar? Precisa dizer mais alguma coisa? Tem alguma nota abaixo de ZERO?

2. Turistas (Turistas, 2007).
Polêmica em torno de um filme ruim só faz com que as pessoas percebam mais ainda tamanha ruindade, um filminho de terror que faz piada com o Brasil. E aqui nós falamos espanhol. Risível.

3. Norbit (Norbit, 2007).
Eddie Murphy numa comédia que não faz rir, apenas embaraça o espectador com situações de mau gosto e muitas doses de incorreção, no pior sentido possível. Dizer que é ruim é elogiar.

4. Desbravadores (Pathfinder, 2006).
Filme de aventura que sonha em ser épico. Um arremedo de uma violenta sessão da tarde ou apenas uma ridícula tentativa de fazer cinema. Os dois.

5. A Última Legião (Last Legion, 2007).
Aventura capa e espada classe Z, caracterizações toscas dos personagens, com perucas e barbas postiças ao estilo Zorra Total. Até Sir Ben Kingsley está pífio.

6. As Férias de Mr. Bean (Mr. Bean´s Holiday, 2007).
Foi anunciado como a última aparição de Rowan Atkinson como o personagem Mr. Bean. Para o bem da humanidade, tudo tem seu limite. Pelo menos no cinema, já vai tarde Mr. Bean. Talvez as crianças bem pequenas curtam uma ou outra cena quase engraçada.

7. Motoqueiros Selvagens (Wild Hogs, 2007).
Comédia completamente patética, onde até Peter Fonda tenta fazer piada de si mesmo e do clássico Sem Destino, mas de tão vergonhoso nem escapa um sorriso amarelo.

8. A Estranha Perfeita (Perfect Stranger, 2007).
Halle Berry e Bruce Willis. Pense num casal sem química num suspense onde não existe suspense, apenas provoca risos das idiotices de um roteiro infantil que tenta a todo custo surpreender o espectador com suas ‘reviralvoltas’. Tá bom...

9. A Colheita do Mal (The Reapering, 2007).
Suspense com um pé no sobrenatural, que mistura pragas bíblicas, ceticismo e maldições seculares, que funciona como uma montanha russa sem graça e com sustos-clichê. Com uma conclusão tranqueira, ainda temos que testemunhar Hilary Swank fazendo caras e bocas. Pode?

10. Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider, 2007) e O Vidente (Next, 2007).
Dose dupla de Nicolas Cage. No primeiro: clima juvenil, efeitos razoáveis e um herói desconhecido, num filme para esquecer. No segundo: roteiro cheio de rombos, atuações desastrosas e efeitos não tão especiais. E que peruca ridícula Cage!
(Dupla) Menção Desonrosa:
A Lenda de Beowulf (Beowulf, 2007).
Robert Zemeckis dirigiu a Trilogia De Volta Para o Futuro e o premiado Forrest Gump, mas aqui o arremedo de lenda e contos aventurescos do guerreiro Beowulf e a captura de movimentos dos atores resultou numa obra que beira o tosco. E dá sono.

Jogos Mortais IV (Saw IV, 2007).
A saga de Jigsaw está cada vez mais sangrenta. E pior. O filme afunda no seu próprio sangue, que jorra sem dó na tela.
Trilha sonora nas caixetas: Flourescente Adolescent, Artic Monkeys.
> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 09/01/2008.