sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
O Oscar 2006 e seus desdobramentos
O Prêmio da Indústria do Cinema, Também Conhecido Como Oscar
Como já era de se esperar, O Segredo de Brokeback Moutain lidera a lista com 8 indicações, em todas as principais categorias. È favorito em pelo menos três: Filme, Diretor-Ang Lee e Roteiro Adaptado. Talvez Trilha Sonora, vamos ver.
Como havia escrito, Munique (que foi considerado pela revista Time como o melhor filme do ano) de Spilberg conseguiu figurar entre os principais indicados. Tem 5 indicações (Melhor Filme, Diretor-Spilberg, Roteiro Adaptado, Edição e Trilha Sonora), é favorito para edição, mas sua campanha para as principais categorias está apenas começando.
Dando uma arrancada e levando 6 indicações temos o excelente Crash – No Limite, estréia na direção do roteirista de Menina de Ouro, Paul Haggis. Disputa Melhor Filme e Direção, entre outros, mas deve levar mesmo a estatueta de Melhor Roteiro Original.
Um grande destaque nas indicações chama-se George Clooney. Ele obteve 3 indicações no total. Pelo seu segundo filme na direção, Boa Noite e Boa Sorte, sobre a caça ás bruxas do comunismo nos EUA, foi indicado como Melhor Filme e Clooney está concorrendo como Melhor Diretor e na categoria de Melhor Roteiro Original. O filme concorre ainda em outras 3 categorias, mas deve levar apenas a estatueta pela sua belíssima fotografia em preto e branco. Sua terceira indicação para a premiação ocorre no inédito Syriana, agora como Ator Coadjuvante. Seu principal concorrente nessa categoria é Paul Giamati, em A Luta Pela Esperança, que pode tanto ser recompensado tanto pela não indicação em Sideways – Entre Umas e Outras, como também ser agraciado por seu belo trabalho na película.
Acertei em cheio em dois filmes na previsão das indicações: King Kong, que está apenas concorrendo (merecidamente) em Oscars técnicos, e Johnny & June (a história da vida do cantor country Johnny Cash e sua esposa June), que não conseguiu ser indicado como Melhor Filme, mas emplacou outras 5 indicações. Seus protagonistas, Joaquim Phoenix e Reese Whiterspoon (ambos ganhadores do Globo de Ouro), estão indicados, com amplo favoritismo para Whiterspoon como melhor atriz, apesar de concorrer com a também vencedora do Globo de Ouro Felicity Huffman, que faz um transexual em Transamerica (também indicado para Melhor Canção). Phoenix tem um concorrente de peso, Philip Seymour Hoffman, que também faz um personagem real, no caso o escritor Truman Capote, em Capote (indicado em outras 4 categorias, incluindo Filme e Diretor-Bennet Miller). Sua vitória pela personificação do escritor é praticamente certa.
Agora vamos para as decepções nas indicações: Começando pela mais dolorida ausência: O Jardineiro Fiel do brasileiro Fernando Meirelles. Ele está nas principais listas de melhores filmes do ano, mas falhou em ser indicado nas categorias mais importantes. O filme obteve apenas 4 indicações: Roteiro Adaptado, Edição, Trilha Sonora e Atriz Coadjuvante para Rachel Weizs, que por sinal é franca favorita para levar a estatueta para casa (além de merecido, vale também como consolação ao grande trabalho de Meirelles).
Descrito pelo próprio Woody Allen como seu melhor filme já feito, para Ponto Final - Match Point restou-lhe apenas no fim uma mísera indicação, à de Roteiro Original.
Marcas da Violência, uma grande obra do mestre David Cronemberg, foi indicado para Melhor Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante para o ótimo William Hurt, mas esqueceram de lhe conferir indicações de Filme, Diretor e (principalmente) Atriz para Maria Bello, que está magnífica.
E por fim, temos Memórias de uma Gueixa, superprodução de Rob Marshall (de Chicago), que está indicado em 6 categorias, mas nenhuma de grande expressão. Ainda assim deve levar Melhor Figurino, Direção de Arte e Trilha Sonora.
E para os favoritos, em termos de comparação, vale lembrar que os vencedores Chicago, Gladiador, Shakespeare Apaixonado e Conduzindo Miss Daisy, levaram Melhor Filme, mas não Diretor. Isso sem falar nos filmes de maiores nominações no ano que não repetiram a premiação como O Aviador, Gangues de Nova York, Bugsy e Apollo 13, que não levaram nada de significativo ou coisa nenhuma.
Agora é apreciar os indicados nos cinemas e acompanhar a premiação (não adianta torcer, aprendi isso com os anos), que acontecerá no dia 5 de Março, um domingo.
Vencedores e Perdedores rumo ao Oscar 2006
Sim, porque o Oscar é mais uma premiação de indústria do quê artística. Temos casos e mais casos que, ao longo dos anos, comprovam essa teoria. Temos exceções? Claro, mas como diz o dito popular: toda regra tem sua exceção, e no Oscar não poderia ser diferente.
Depois de abocanhar os principais prêmios da crítica do ano (a lista é grande: Leão de Ouro no Festival de Veneza 2005, Melhor Filme e Diretor pela Associação dos Críticos de Los Angeles, de Boston, de Dallas, de São Francisco, pelo Círculo de Críticos de Nova York e do Sudeste, e Melhor Diretor pelo National Board of Review. Ufa!), O Segredo de Brokeback Moutain (Brokeback Moutain, 2005), confirmou seu favoritismo e levou também 4 Globos de Ouro: Melhor Filme-Drama, Diretor-Ang Lee, Roteiro e Canção Original. Todas as previsões apontam que a estória do romance incomum entre dois cowboys nos EUA dos anos 60, receberá o maior número de indicações no próximo Oscar, refletindo também na premiação.
Mas ainda não terminamos com os vencedores. George Clooney ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante por Syriana - A Indústria do Petróleo (Syriana, 2005), um filme corajoso sobre a indústria do petróleo e suas politicagens. Clooney, aliás, está muito cotado para sua primeira indicação ao Oscar tanto como Coadjuvante por Syriana, quanto como Diretor e Filme pelo muito bem recebido Boa Noite e Boa Sorte (Good Night and Good Luck, 2005), já que ganhou como Melhor Filme pelo National Board of Review, além de outras indicações.
O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener, 2005), produção internacional dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, ganhou apenas na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, para Rachel Weisz, mas vai com muita força para receber indicações nas principais categorias no próximo Oscar. E louvemos uma questão até então não levantada: Indicação também já é um prêmio. Sim, claro. Vejamos o caso do próprio Meirelles. Vamos repassar a lista dos indicados ao Globo de Ouro de Melhor Diretor: Woody Allen, por Ponto Final - Match Point (Match Point, 2005); Peter Jackson, por King Kong (Idem, 2005); Steven Spilberg, por Munique (Munich, 2005) e George Clooney, por Boa Noite e Boa Sorte (Good Night and Good Luck, 2005). Entrar nesta seleta lista já uma grande vitória.
Johnny & June (Walk The Line, 2005), cinebiografia do cantor de músicas country Johnny Cash, levou 3 Globos de Ouro: Melhor Filme-Comédia/Musical, Ator-Comédia/Musical (Joaquim Phoenix) e Atriz-Comédia/Musical (Reese Whiterspoon), alçando assim seus protagonistas a favoritos a indicações. Não creio muito na força do filme, mas com certeza Phoenix e Whisterspoon serão indicados.
Dois filmes saíram enfraquecidos da disputa, mas, que merecem toda a atenção são Ponto Final - Match Point (Match Point, 2005) de Woody Allen, e Crash – No Limite (Crash, 2005) de Paul Haggis. Suas indicações devem ficar restritas a Roteiro e Coadjuvantes, ficando de fora dos prêmios de Direção e Filme.
Philip Seymour Hoffman levou o prêmio de Melhor Ator-Drama, pela sua personificação do Truman Capote por Capote (Idem, 2005). Eis aqui um forte concorrente para o prêmio de Melhor Ator (juntamente com Russel Crowe por A Luta Pela Esperança e o já citado Phoenix). Melhor atriz-Drama foi para Felicity Huffman em Transamérica (Idem, 2005), mais conhecida pela série de sucesso Desesperate Housewifes, e com grandes chances de indicação no próximo Oscar.
Um filme que pode surpreender e ainda não citado é Memórias de uma Gueixa (Memoirs of a Geisha 2005) de Rob Marshall (do oscarizado Chicago). Venceu com Melhor Trilha Sonora Original, mas deve levar algumas indicações, incluindo o de Melhor Atriz para Ziyi Zhang (revelada por Ang Lee em O Tigre e o Dragão).
Marcas da Violência (A History of Violence, 2005) de David Cronemberg, saiu de mãos vazias, mas com sua estória forte e de grande tensão dramática, deve estar também entre os principais indicados (Filme e Atriz, principalmente).
Não esqueçamos de também de Munique (Munich, 2005) de Spilberg, que mesmo com um tema muito complicado nos EUA (o combate ao terrorismo, e também por ser longo, com pouco mais de 2 horas e 30), vem recebendo boa recepção dos críticos e público, além do Blockbuster King Kong, que para mim deve ater-se a figurar apenas nas categorias técnicas.
E será que teremos surpresas, azarões? Sim, claro. Principalmente nas indicações, que na minha opinião também funciona como uma forma de premiar os melhores da indústria cinematográfica mais rentável do mundo.
Ou seja, no Oscar, perder também é ganhar.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Pecado é não assistir
Bem, vou tentar expressar apenas minha impressão sobre a película então. Sin City – A Cidade do Pecado (Sin City, EUA, 2005), a adaptação de algumas de uma série de estórias publicadas em forma de graphic novel de mesmo nome do mestre dos quadrinhos Frank Miller, tem muitos méritos.
Tim Burton e Sua Fábrica de Sonhos
Tim Burton é um recluso, milionário, esquisito e excêntrico dono de uma das mentes mais engenhosas do cinema moderno. Da sua mente também saem as mais belas fábulas cinematográficas.
Burton certa vez afirmou que um dos seus livros prediletos é exatamente Charlie e a Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl. E ninguém melhor do que Burton para levar as páginas de Dahl para o cinema com a precisão necessária, pois primeira vez o livro é fielmente adaptado para a película em A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and the Chocolate Factory, EUA/ING, 2005).
Quem gosta de cinema deve lembrar que essa não a primeira vez que o livro de Dahl é adaptado. Quem ainda não viu aquele filme de 1971 com mesmo nome e que tinha Gene Wilder como Willy Wonka, que vez ou outra passa sempre na tv aberta? As diferenças entre as duas versões são claras: no primeiro não existe um certo tom de tristeza que corretamente foi untado no filme de Burton, que acrescenta também flashbacks necessários, para contar a infância de Willy Wonka e fazendo-nos acreditar no porquê de sua personalidade ímpar. O final é diferente e ficou bem melhor, definido e fiel ao livro de Dhal.
E para não fazer feio na sua versão, Burton cercou-se de velhos e talentosos parceiros. Na pele de Wonka, temos o versátil Johnny Depp (com quem já havia trabalhado na fábula Edward Mãos-de-Tesoura de 1990, no soberbo Ed Wood de 1994, no ‘terrir’ de primeira A Lenda do Cavaleiro-Sem-Cabeça de 1999 e no humor negro de Noiva-Cadáver de 2005) que simplesmente passeia entre o agradável e o assustador com extrema sutileza.
Ainda no elenco Freddie Highmore (parceiro de cena de Depp em Em Busca da Terra do Nunca de 2004) como Charlie e Helena Boham-Carter (também parceira de cena de Depp em Noiva-Cadáver de 2005). A responsabilidade de adaptar o livro para as telas ficou a cargo de John August (do mágico Peixe Grande de 2003), enquanto a trilha sonora é do Ex-Oingo Boingo Danny Elfman (que simplesmente musicou todos os doze filmes de Burton para o cinema). Com o time completo, foi só correr para o abraço, com sucesso de público e crítica.
Uma excelente diversão irrestrita a idade, o DVD duplo contém uma série de extras que contemplam os espectadores com todo o processo de filmagem, cenas especiais e a construção de seus marcantes personagens. Assista e deleite-se com seu sabor nada amargo. Uma delícia.
> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 30/11/2005.
Trilha Sonora nas Caixetas: Stay, Oingo Boingo.
Bourne. Jason Bourne.
Fazendo uma conexão imediata com o capítulo anterior (A Supremacia Bourne, de 2004) Jason Bourne (Matt Damon) vai em busca de sua origem. Investigando seu próprio passado, Bourne viaja para Moscou, Paris Londres, Tanger, para finalmente chegar em Nova York, onde busca as respostas para solucionar seu caso, enquanto é perseguido pela CIA, Interpol e por grupos obscuros do governo americano.
Quem disse que um filme de ação não precisa ser inteligente e ter um roteiro redondo? O Ultimato Bourne possui essas qualidades e vai além: direção insana de Paul Greengass, edição inebriante, trilha sonora frenética, cenas absurdamente perfeitas e de tirar o fôlego, onde não se percebe a adição de efeitos especiais, tudo na marra. Além do elenco cheio de notáveis.
A começar pelo Bourne de Matt Damon. Um personagem de silêncios, algumas perguntas e muita pancada. As últimas escolhas de Damon foram sensacionais: Syriana – A Indústria do Petróleo (2005), O Bom Pastor (2006) e Os Infiltrados (2006).
Reprisando o papel do capítulo anterior, temos Joan Allen, como Pamela Landy, e Julia Stiles (presente na Trilogia Bourne) como Nicky Parsons. Allen (classuda) já foi indicada ao Oscar três vezes (sempre como coadjuvante), por Nixon (1995), As Bruxas de Salém (1996) e A Conspiração (2000). Stiles fez os sucessos de bilheteria 10 Coisas que Eu Odeio em Você (1999) e o remake de A Profecia (2006).
Mais do elenco. Em papéis importantes como agentes do alto escalão da CIA temos David Strathairn, indicado ao Oscar e Globo de Ouro de ator por Boa Noite, Boa Sorte (2005) e Scott Glenn, veterano de filmes como O Silêncio dos Inocentes (1991) e Dia de Treinamento (2001). Finalizando Albert Finney, num papel misterioso e importante para a conclusão da saga de Bourne. Finney já foi indicado cinco vezes ao Oscar, incluindo As Aventuras de Tom Jones (1963) e Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento (2000).
Falando especificamente das cenas de ação, são incontáveis as seqüências que primam pelos cortes rápidos e direção fulminante de Greengass, com destaque para a perseguição de carros em NY e a seqüência em que Bourne pula de um prédio para o outro, culminando com um quebra-pau sensacional. Sabemos que 007 é, sem dúvida, um ícone do cinema, mas em se tratando de desenvolvimento do personagem e o propósito de suas cenas de ação, ele tem que apreender para chegar à excelência alcançada por Jason Bourne na sua trilogia.
O Ultimato Bourne não é apenas mais um filme de ação, é um filmaço de adjetivos, com força suficiente para ser eternizado, sem exagero, como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos.
NOTA: 9,3
INFORMAÇÕES ESPECIAIS:
O diretor: Paul Greengass foi indicado ao Oscar de direção pelo sufocante Vôo United 93 (2006), e ganhou o BAFTA de diretor pelo mesmo filme. Pelo pungente Domingo Sangrento (2002) ele ganhou dois prêmios em Berlim: Urso de Prata de direção e Prêmio do Júri;
Os Filmes: estreando em 2002 sem muito alarde, A Identidade Bourne foi dirigido por Doug Liman (do agitado Sr. & Sra. Smith de 2005) e era baseado no livro de Robert Ludlum de mesmo nome. Com um sucesso considerável de bilheteria (U$ 121 milhões, somente no mercado americano), Paul Greengass foi contratado para dirigir sua continuação, A Supremacia Bourne (2004), também baseado no livro de mesmo nome. U$ 176 milhões depois, uma terceira parte (desta vez levemente baseado no livro de Robert Ludlum), O Ultimato Bourne (2007) foi inevitável;
Trilha sonora nas caixetas: Love and Peace or Else, U2
> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 21/08/2007.
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Bond. James Bond.
E assim chegamos a esse novo 007 – Cassino Royale, dirigido pelo mesmo Martin Campbell que já havia lançado Brosnan no papel de Bond, agora apostando mais uma vez num novo rosto para o agente secreto: Daniel Craig. O filme começa a todo vapor, mostrando Bond ganhando sua permissão para matar (exatamente a alcunha de “00”) numa audaciosa missão planejada por “M” (Judi Dench), sua chefe na Inteligência Britânica.
A partir daí surgem novos personagens e novas motivações. James Bond (Daniel Craig) em sua primeira missão oficial, tem de encontrar um banqueiro do crime chamado Le Criffre (Mads Mikkelsen) e impedi-lo de vencer um torneio de pôquer num cassino e usar o dinheiro para financiar o terrorismo e guerrilheiros. Para entrar no jogo milionário do Cassino Royale, Bond terá que entrar em ação com a ajuda de um informante local (Giancarlo Giannini) e uma agente do Tesouro Nacional (Eva Green) a tiracolo.
Como 007 – Cassino Royale é um filme que trata dos primeiros passos de James Bond, é interessante percebemos a estória como um começo de tudo. De como 007 moldou sua personalidade (em relação às mulheres, aos inimigos, ao trabalho), como ele foi descobrindo como tratar do ego no dia-a-dia e sua forma de utilizar a força física (que aqui é em alta voltagem), mas que com o passar dos anos passa a ser bem mais estratégico.
Daniel Craig é feio, carrancudo e carrega um bico por todo o filme, mas tem a imponência e a virilidade transbordando na tela num tom necessário para o ritmo da estória e a nova apresentação do personagem em si. Sua fórmula do Bond é simples, tem 10% de charme, 20% de físico e 70% de pura brutalidade, com um clima sombrio permeando o filme.
Está tudo no seu lugar: a abertura estilizada acompanhada de uma nova canção, cenas violentas, seqüências de ação de enlouquecer, paisagens perfeitas, mulheres sensuais, carros maravilhosos, algumas engenhocas (mas nada demais), o Martini e suas frases de efeito (“Bond. James Bond”), mas 15 minutos a menos de projeção não faria mal a ninguém.
INFORMAÇÕES ESPECIAIS
Martin Campbell: diretor de 007 Contra Goldeneye (1995), filme que lançou Pierce Brosnan como James Bond e trouxe de volta o sucesso à franquia de 007, Campbell também dirigiu o estrondo de bilheteria A Máscara do Zorro (1998), sua seqüência de razoável performance (A Lenda do Zorro de 2005) e Limite Vertical (2000);
Canção: You Know My Name, a canção que abre 007 – Cassino Royale é interpretado por Chris Cornell (vocalista da banda Audioslave), e foi feita especialmente para o filme em parceria com David Arnold, compositor da trilha sonora original de 007 – Cassino Royale;
Daniel Craig: Ator inglês que veio do teatro, Craig já fez pequenos, mas marcantes papéis em grandes filmes, como Elizabeth (1998), Estrada Para Perdição (2002) e Munique (2004). Atuou também no fraquíssimo Lara Croft: Tomb Raider (2001) e no curioso Camisa de Força (2005), mas dizem que os produtores o escolheram para 007 pelo papel em Nem Tudo É O Que Parece (2004);
Eva Green: francesa de encanto incomum, Green foi descoberta por ninguém menos que Bernardo Bertolucci, no qual a dirigiu em Os Sonhadores (2003). Emprestou também talento e beleza também para Ridlley Scott em Cruzada (2005);
Madds Mikkelsen: estreou em Hollywood com a nova versão de Rei Arthur (2004), o vilão Le Criffre veio da escola européia que filmava filmes de arte com base no movimento Dogma 95, como a trilogia Bledder;
Judi Dench: já interpretou “M”, a chefona de Bond, em outros quatro filmes da franquia (007 Contra Goldeneye de 1995; 007 – O Amanhã Nunca Morre de 1997; 007 – O Mundo Não é O Bastante de 1999; 007 – Um Novo Dia Para Morrer de 2002) e ganhou o Oscar de atriz coadjuvante por Shakespeare Apaixonado (1998);
Giancarlo Giannini: veterano ator italiano que faz pequenos papéis em produções hollywoodianas como Caminhando Nas Nuvens (1995), Hannibal (2001) e Chamas da Vingança (2004);
Roteiristas: escrito originalmente pela dupla Neal Purvis e Robert Wade, responsáveis também por 007 – O Amanhã Nunca Morre de 1997; 007 – O Mundo Não é O Bastante de 1999, o roteiro teve o acabamento final dado por Paul Haggis, vencedor de três Oscars, roteiro adaptado por Menina de Ouro (2004), roteiro original e filme por Crash – No Limite (2005);
> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 20/12/2006.
Nota: 8,6
Trilha sonora nas caixetas: Be Yourself, Audioslave.
Um Verdadeiro Sacrifício
De início perturbador O Sacrifício é a refilmagem de O Homem de Palha (1973) filme B de suspense que tinha Christopher Lee no elenco. Apenas de início, porque depois de 20 minutos tudo que o longa provoca é sono no espectador. Cage (que também é produtor do filme) esforça-se para dar vazão ao personagem obcecado na busca da verdadeira história por trás do mistério do sumiço de uma garotinha, mas o filme simplesmente não decola. Leelee Sobieski (revelada por Stanley Kubrick em De Olhos Bem Fechados) e a veterana Ellen Burstyn (que esteve maravilhosa em Réquiem Para Um Sonho) passam vexame num filme fraco cheio de situações clichês e de diálogos bobos.
Totalmente fora de seu próprio padrão e gênero, o filme é dirigido pelo competente Neil LaBute que tem em seu currículo os excelentes Na Companhia dos Homens (1997), Seus Amigos, Seus Vizinhos (1998), A Enfermeira Betty (2001) e Possessão (2002). O verdadeiro sacrifício na verdade é conseguir assistir até o final do filme sem dar uma bela cochiladinha.
Cotação: Péssimo. Nota: 2,0
> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 03/11/2006.
Trilha sonora nas caixetas: Socorro, Arnaldo Antunes.
Salada de Bichos
Infelizmente esse novo O Bicho Vai Pegar, primeiro longa-metragem da Sony Pictures Animation, não chega nem perto dos citados anteriormente. Não que seja um filme chato. É engraçadinho e bem feito, mas conta uma história já vista anteriormente em outros filmes (bem melhores). Entenda o porquê: pegue um parceiro que perturba, mas é uma comédia (lembram de o Burro de Shrek?), lance cenas politicamente incorretas de apreciação de fast food (lembram de Os Sem-Floresta?) e um personagem principal que é uma atração adestrada de um parque florestal, mas devia ser um legítimo selvagem e, na verdade, não conhece a natureza nem os perigos da selva (lembram de Madagascar?).
A história gira em torno de Boog (no original feito pelo comediante Martin Lawrence, de Vovô...Zona), um urso pardo domesticado e bem acomodado por uma guarda florestal com comidinha e cantinho quente pra dormir, sem esquecer do ursinho de pelúcia Pimpão. Tudo ia bem até conhecer um cervo amalucado chamado Elliot (dublado por Ashton Kutcher, de Cara, Cadê Meu Carro?), que o leva a cometer atos de rebeldia. Despejado do seu cantinho, Boog é levado de volta para a floresta. Pior: às vésperas da temporada de caça.
A tentativa de ser um divertimento apenas para os pequenos é próximo do ideal, com as confusões de Boog e Elliot no centro das questões, inserindo ainda uma mensagem de companheirismo, amizade e contra a violência. Mas com uma história um pouco batida e ainda com o uso de algumas canções (melosas) permeando o filme, O Bicho Vai Pegar fica no meio termo entre diversão ligeira e uma animação exclusivamente infantil.
O BICHO VAI PEGAR (Open Season, EUA, 2006). De Roger Allers, Jill Culton e Anthony Stacchi. Vozes de Ashton Kutcher e Martin Lawrence. 86 min.
Dois Dedos de Bobagem
Daniel Filho é um diretor de televisão respeitável. Dono de um currículo interminável na telinha, Filho fez no longínquo ano de 1983 o longa-metragem O Cangaceiro Trapalhão. Retornou a tela grande em 2001 com o bem recebido A Partilha. Partiu para a comédia fantástica com o sucesso de público A Dona da História, em 2004. Animado veio no começo do ano com a comédia besteirol Se Eu Fosse Você, com resultados (de público) ainda mais fantásticos. Sem esfriar nem a cadeira de diretor, Daniel Filho espera um resultado no mínimo igual com o novo e fraquíssimo Muito Gelo e Dois Dedos D´Agua, uma comédia pra lá de besta.
A história gira em torno de Suzana e Roberta (respectivamente Paloma Duarte e Mariana Ximenes) que detestam a avó (Laura Cardoso) e bolam um plano para seqüestrá-la, mas acabam envolvendo em suas confusões um advogado careta (Ângelo Paes Leme) e o marido de Suzana, um médico boboca (Thiago Lacerda).
Amplamente divulgado como uma nova comédia dos criadores de Os Normais (que é bacana), Muito Gelo... é tão idiota que parece um quadro malfadado de Zorra Total. Suas gags são televisivas e primárias, fazendo uso de desenho animado, cores e sons com a finalidade de fazer graça com as situações. Pior para os atores, como a veterana Laura Cardoso que tem de passar por cada cena ridícula, enquanto Thiago Lacerda age como um completo retardado mediante as situações mais patéticas possíveis. Lamentável desperdício de tempo, dinheiro e celulóide, bem que o título poderia ser Muita Besteira e Dois Dedos de Bobagem, no barato.
MUITO GELO E DOIS DEDOS D´AGUA (IDEM, BRA, 2006). De Daniel Filho. Com Mariana Ximenes, Paloma Duarte, Ângelo Paes Leme, Laura Cardoso e Thiago Lacerda. 108 min.
Cotação: Péssimo. Nota: 1,1
> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 29/09/2006.
Trilha sonora nas caixetas: Riot Van, Artic Monkeys.
Dália Morna
Baseado num romance de James Ellroy (o mesmo de Los Angeles - Cidade Proibida), Dália Negra é um filme noir por natureza, recheado de mulheres fatais, cenas subjetivas, trilha característica, imagens estilosas, triângulo amoroso e narração em off. Mas tudo isso não o torna um grande filme. Dirigido pelo calejado Brian De Palma (dos fantásticos e longínquos Os Intocáveis e Scarface), o filme começa bem, tem fotografia primorosa, frases de efeito e algumas cenas "De Palminianas" (em especial a do descobrimento do corpo e a sequência da escadaria). Mas prejudicado por suas soluções pouco prováveis e com clima excessivamente arrastado, De Palma nos apresenta a uma história cheia de pontas soltas e ritmo frouxo.
Sem falar nas más atuações de duas excelentes atrizes, que aqui fazem mulheres fatais: Scarlett Johansson, desperdiçando sua beleza e brincando com sua piteira; e Hilary Swank, totalmente perdida num papel sem nenhuma inspiração. Apenas corretos estão Josh Hartnett e Aaron Eckhart, enquanto Mia Kirshner simplesmente seduz com seu jeito de menina e olhos penetrantes.
Baseado em fatos reais e por tudo que prometia, Dália Negra poderia ter sido um filmaço. Longe de ser ruim, esse novo De Palma é um suspense policial morno e deixa uma sensação de que está faltando alguma coisa em sua essência.
DÁLIA NEGRA (The Black Dahlia, EUA/ALE, 2006). De Brian DePalma.
Com Josh Hartnett, Aaron Eckhart, Scarlett Johansson, Hilary Swank e Mia Kirshner. 121 min.
Cotação: Regular. Nota: 6,0
> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 13/10/2006.
Trilha Sonora nas Caixetas: Tal Segredo, Karranka.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Cinema-denúncia numa verdade filmada
No início tomamos logo um tapa na cara: aliciador (Chico Diaz, nojentamente perfeito) chega numa aldeia de pescadores para levar menininhas para trabalhar. Um casal tenta vender filha mais velha, mas como está com piolhos, joga Maria (Fernanda Carvalho) de apenas 12 anos na negociação. Detalhe: eles supõem que ela irá trabalhar para famílias em outro estado. Transportadas às escondidas e como carga, Maria se junta a outras mercadorias, meninas assim como ela, prestes a serem mais uma vez colocadas à venda.
Agora vem o soco no estômago: repassadas para uma madame (Vera Holtz), elas serão tratadas para irem a leilão, compradas por poderosos, políticos e fazendeiros. Aí tome, bebidas goela abaixo, estupro, violência e prostituição. E acreditem, ainda fica pior.
Funcionando incisivamente como denúncia o filme é perfeito, cruel e real, fazendo uso de cenas fortes e de apelo social, mas dramaticamente a estória escorrega um pouco, tentando fazer com que o espectador torça para que algo de positivo aconteça as protagonistas. Mas temos que lembrar que todo o tema abordado pelo filme infelizmente acontece com maior ou menor gravidade no nosso país, naturalmente.
O elenco infantil está bem calibrado, com uma dose de inocência permeando os olhares e atitudes das meninas, apesar do clima pesado atingido pelo filme. Os veteranos Vera Holtz e Chico Diaz estão ótimos, mas é impossível não ficar enojado (no bom sentido) com as atuações fantásticas de Otávio Augusto e de Antônio Calloni, esse sim, o dono do filme, simplesmente genial.
A ferida está aberta, e o que o diretor pretende com o filme é alertar para algo que já sabemos, mas que parecemos não nos importar. E o que Lagemann coloca na tela implora para ser discutido e denunciado, assim como todo problema social no Brasil.
Deve ser muito dolorido para uma mãe assistir ao filme e inevitavelmente não pensar em suas filhas, mas ainda assim merece ser visto por todos pelo tema duro e real, como uma verdade filmada.
INFORMAÇÕES ESPECIAIS
Festival de Gramado: Anjos do Sol (dividindo com Serras da Desordem) levou o Kikito de Melhor Filme 34º Festival de Gramado. Ganharam também Antonio Calloni (ator), Otávio Augusto (coadjuvante), Mary Scheila (atriz coadjuvante.), roteiro e edição;
Festival de Miami: No Festival Internacional de Cinema de Miami, em março de 2006, Anjos do Sol ganhou pelo júri popular como melhor longa de ficção ibero-americano;
Elenco: Vera Holtz, Chico Diaz, Antônio Calonni e Otávio Augusto, participaram do filme pela causa, topando ganhar um cachê simbólico, não revelado;
Rudi Lagemann: diretor de Anjos do Sol, escreveu também o roteiro, fez a co-edição e produziu o longa.
> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 25/10/2006.
Trilha sonora nas caixetas: Se no meio do que você tá fazendo você pára, Arnaldo Antunes.
Quebra-Cabeça
Contar muito sobre o filme antes de assisti-lo não seria nem um pouco bacana, aqui conto apenas um esboço da história: confundido com outra pessoa, Slevin (Hartnett) entra num jogo de mortes e traição entre dois gângsters (Freeman e Kingsley) e um matador profissional (Willis). Ao mesmo tempo envolve-se com sua vizinha, uma bela legista (Liu).
A cada passo os desdobramentos vão aumentando e as cenas tornam-se cada vez mais interessantes, com um detalhe: é um filme policial, mas quase não contém cenas de ação e ainda assim consegue prender o espectador. Esse é o poder de uma boa história.
Tentar adivinhar o que sucede a cada cena é bobagem. Concentre-se e receba tudo que passa na tela como um grande blefe, mas positivamente. Assim, você poderá absorver todas as surpresas que são jogadas na tela com bastante estilo pelo diretor Paul McGuigan (de Amor à Flor da Pele).
Com um final imprevisível, Xeque-Mate lembra muito os filmes do diretor Guy Ritchie (Snatch - Porcos e Diamantes; Jogos, Trapaças & Dois Canos Fumengantes) e funciona como algo entre Jackie Brown e um sub Pulp Fiction - Tempo de Violência.
Uma vez já é demais
Já Wilson produziu e estrelou nesse novo Dois É Bom, Três É Demais que se denomina uma comédia. Uma comédia que ora quer ser pastelão, ora tenta ser uma comédia inteligente, uma pitadinha de romance, mas que de tão irregular não consegue achar seu tom ideal.
A história gira em torno de Carl (Matt Dillon, indicado para o Oscar de Coadjuvante por Crash - No Limite) e Molly (Kate Hudson, linda!), que após casarem têm de agüentar o padrinho de casamento (Wilson) instalado na sua casa temporariamente.
O amalucado Wilson têm algumas tiradas cômicas, todas elas físicas e de pouca sutileza, mas nada que faça o filme decolar, beirando até a forçação de barra.
Com um enredo que a gente sabe onde vai dar, tudo que esperamos é que surja uma cena que nos faça pelo menos dar uma bela risada. Mas o que vemos na tela causa apenas alguns sorrisos amarelos. Muito pouco para quem já fez meio mundo se esbaldar de rir com Penetras Bons de Bico (com Owen Wilson) e se divertir com uma inteligente comédia romântica Como Perder Um Homem Em 10 Dias (com Kate Hudson).
Ah, e Michael Douglas faz uma ponta como o pai (durão) da noiva. Nessas alturas, já não importa tanto. Para quem curte uma comédia bobinha, vale arriscar.
> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 22/09/2006.
Trilha sonora nas caixetas: Vendedor de Cajuína, Conjunto Roque Moreira.
Trash, trash, trash!
Sim, topa qualquer parada, porque esse novo Serpentes à Bordo é simplesmente um lixo!
O fiapo de história: testemunha ocular de um perigoso criminoso embarca num avião escoltado pelo agente do FBI Neville Flynn (Jackson) rumo à Los Angeles. Para eliminá-lo, o mafioso Chen solta em pleno vôo mais de 400 serpentes venenosas prontas para atacar.E agora, o que fazer? Chamar o Chapolin Colorado? Não! Samuel L. Jackson (com a maior pose de bonzão) resolve a parada! Além de ser um filme extremamente previsível, o que assistimos na tela é um festival de frases toscas e atuações (ou gritos) dignas de Framboesa de Ouro, com uma série de cenas nojentas, bizarras e absurdamente engraçadas (o cachorrinho, as mortes no banheiro, o braço podre do pirralho e uma 'homenagem' a outro trash Anaconda...), refletindo tudo isso na sua bilheteria, bem aquém do esperado.
Se você tiver tempo não o perca nesse filme, a não ser que masoquismo e dinheiro sobrando para torrar numa porcaria não seja um problema.
SERPENTES À BORDO (Snakes on the Plane, EUA/ALE, 2006).
De David R. Ellis. Com Samuel L. Jackson, Julianna Margulies e Nathan Phillips. 105 min.
> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 08/09/2006.
Trilha sonora nas caixetas: Insônia, Cosmotone.
Tensão Inútil
Vamos ao fiapo de roteiro: Uma onda gigante e traiçoeira faz o milionário transatlântico Poseidon tombar em plena comemoração de Ano Novo. Submersos em agonia, os passageiros tentam desesperadamente sobreviver a todo custo. Inundações, incêndios, explosões, desabamentos e uma contagem de corpos altíssima comprovam a intenção de ser filme-catástofre, que só não é realmente uma catástofre graças a duas coisas: ao veterano diretor Wolfgang Petersen (de Mar em Fúria e Tróia), que tem habilidade de sobra para manejar cenas com alto nível de tensão e conta com um arsenal de efeitos especiais de última geração. Toda tensão que U$ 160 milhões de dólares possam pagar.
Mas tudo isso não consegue comprar um roteiro em que apenas acompanham-se as cenas de perigo, mas sem o envolvimento dramático com os personagens (diferentemente do original). Percebem-se atores sem rumo (Kurt Russell, Richard Dreyfuss, Emmy Rossum e Josh Lucas) com personagens nada trabalhados e afogados em diálogos pífios e risíveis.
Se fosse um filme mudo seria perfeito, vale como diversão passageira e só.
POSEIDON (idem, EUA, 2006). De Wolfgang Petersen.
Com Kurt Russell, Richard Dreyfuss, Emmy Rossum e Josh Lucas. 96 min.
> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Vida & Arte, em 30/06/2006.
Trilha sonora nas caixetas: Liar, Cliftons.
Narfs, Scrunts, Tartutics e a grande Eatlon
Cleveland Heep (Paul Giamatti, tímido e cômico naturalmente) descobre uma Narf (Bryce Dallas Howard, maravilhosa de tão pura e frágil), uma criatura vinda do Mundo Azul para ajudar os homens, em especial um escritor, que tem como missão escrever algo que vai inspirar toda a humanidade a escutar sua voz interior, a voz da razão, do sentimento puro e da paz.
Sabe quem interpreta o escritor? O próprio Shyamalan! Será uma mensagem que ele precisa de inspiração? Bem, inspiração ele tem de sobra e suas viagens estão cada vez mais altas (mas isso não é sinônimo de cada vez melhores).
De narrativa irregular, seu roteiro por vezes consegue transparecer com simplicidade suas mensagens de fé, mas seus sentimentos nem sempre fazem da sua fábula uma perfeita estória de ninar. À medida que a estória avança, seu nível de suspense compete de igual para igual com lances de comédia involuntária e frases de efeito.
Como cenário temos um condomínio, que funciona como um microcosmo do mundo, habitados por tipos esquisitos que beiram o caricatural, com analogias a sentimentos de perda, proteção e sua busca de um sentido maior para a vida.
Mas quem são os Scrunts, os Tartutics e a Grande Eatlon? Personagens do seu mundo particular que habitam esse A Dama na Água, onde tudo que Shyamalan pede é que escute sua voz interior e acredite no que se passa na tela grande. Afinal, o cinema ainda é um lugar mágico em que podemos sonhar.
INFORMAÇÕES ESPECIAIS
M. Night Shyamalan: Diretor, roteirista, produtor e ator em seus filmes, Shyamalan possui grandes sucesos no currículo (O Sexto Sentido – indicado para o Oscar, Corpo Fechado, Sinais e A Vila);
Livro: Após gerar mais de 1 bilhão de dólares para os cofres da Disney, Shyamalan foi removido de fazer A Dama na Água na Disney por que a mesma queria modificar a essência de sua estória e não queria que ele participasse do filme como um de seus atores. O livro chama-se The Man Who Heard Voices: Or, How M. Night Shyamalan Risked His Career on a Fairy Tale ("O Homem que Ouvia Vozes ou como M. Night Shyamalan Arriscou Sua Carreira com um Conto de Fadas") e foi escrito em parceria com o jornalista Michael Bamberger;
Bryce Dallas Howard: Filha do diretor de cinema Ron Howard (Oscar por Uma Mente Brilhante), Bryce já foi dirigida por Shyamalan com destaque em A Vila e por Lars Von Trier no polêmico Manderlay (continuação do explosivo Dogville);
*Paul Giamatti: Indicado para o Oscar de Melhor Ator por Anti-Herói Americano, brilhou também em O Mundo de Andy e Sideways – Ente Umas e Outras;
James Newton Howard: Indicado em 6 oportunidades ao Oscar, Howard colaborou em outros filmes de Shyamalan e teve sua última indicação ao Oscar por A Vila (2004).
> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 20/09/2006.
*Coreção: Indicado ao Oscar de ator coadjuvante por A Luta Pela Esperança (2004).
Trilha sonora nas caixetas: Rótulo, Enverso.
O Mundo Mágico de Shyamalan
A DAMA NA ÁGUA (Lady in the Water, EUA, 2006).
De M. Night Shyamalan. Com Paul Giamatti, Bryce Dallas Howard, Jeffrey Wright, Bob Balaban, Freddy Rodriguez e M. Night Shyamalan. 110 min.
É pra rir ou pra assustar?
Premonição 2 trazia no elenco apenas uma sobrevivente do filme anterior e dessa vez somos apresentados a um acidente rodoviário, numa incrível seqüência de colisões numa auto estrada. O início prometia, mas depois a seqüência dá uma descambada para cenas em que o riso é inevitável. Ficou no meio termo, assim um terror engraçadinho. Alguns milhões de dólares depois chegamos a esse Premonição 3.
Agora não existe mais nenhum personagem de ligação entre os filmes, apenas o nome como franquia e a mesma história contada de novo. Garota prevê um acidente fatal para todos os ocupantes de uma montanha-russa. Desacreditada é retirada do brinquedo na companhia de alguns conhecidos, porém sua premonição torna-se realidade. Aí começa uma luta pela sobrevivência. Tudo que os anteriores tinham de bacana (mortes criativas, cenas aterrorizantes e um sentido para a história) transformam-se em coisa nenhuma. Aqui temos personagens estereotipados em situações forçadas e tudo que esperamos acontecer são novas formas de morrer estupidamente. Nem mesmo o retorno do diretor original, James Wong, ajudou no produto final. Na verdade esse é o pior filme dos três.
O mote da série Premonição é que os personagens sempre tentam enganar a morte, mas dessa vez com mais risos (involuntários) do que sustos.
PREMONIÇÃO 3 (Final Destination III, EUA, 2006).
De James Wong. Com Mary Elizabeth Winstead, Ryan Merriman, Kris Lemche, Alexz Johnson, Sam Easton e Jesse Moss. 93 min
> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 21/07/2006.
Trilha sonora nas caixetas: Asas, Maskavo.
Garfield para as crianças
Mais do Mesmo
Trilha sonora nas caixetas: Cool, Gwen Stefani.
A Profecia do Marketing
A Doce Volta por Cima
A Construção de um Mito
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Melhores (e Piores) Filmes de 2007
Em 2007, o cinema nacional se destacou positivamente, pontuando três filmes dentre os melhores, com nível de realização internacional. Importante ressaltar a ausência de vários filmes que disputarão os principais prêmios internacionais, porque suas estréias estão programadas apenas para 2008. Portanto que me atenho a escrever sobre os filmes que foram lançados comercialmente no Brasil durante o ano de 2007 (em cartaz a partir de 1º de janeiro de 2007 a 31 de dezembro de 2007), independente do ano de produção dos mesmos.
Que venham mais e melhores filmes em 2008, que possam transmitir emoções e sentimentos através do som e das imagens em movimento, enfim a magia do cinema.
Abaixo segue a lista dos MELHORES FILMES de 2007:
1. Ratatouille (Ratatouille, 2007).
Nas mãos do chef, ops, diretor e roteirista Brad Bird (de Os Incríveis) o que poderia parecer mais um prato feito hollyodiano ganha contornos de receita especial, feita para ser apreciada sem contra indicação e com muito apetite.
2. O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum, 2007).
Quem disse que um filme de ação não precisa ser inteligente e ter um roteiro redondo? Direção insana de Paul Greengass, edição inebriante, trilha sonora frenética, cenas absurdamente perfeitas e de tirar o fôlego, onde não se percebe a adição de efeitos especiais, tudo na marra. Um filmaço de adjetivos, com força suficiente para ser eternizado, sem exagero, como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos.
3. Tropa de Elite (2007).
Fenômeno antes mesmo da estréia (cópia vazada), crava seu nome na história do cinema nacional (e quiçá mundial) com sua história crua (que por vezes até faz rir), cenas nervosas em estilo documental, roteiro muito bem costurado com a ação e atuações de perder o fôlego. Aqui missão dada, é missão cumprida!
4. Saneamento Básico (2007).
Uma comédia inteligente, com um roteiro de rara perspicácia, que faz rir com maestria e que ainda possui elenco inspirado. Livre das saídas fáceis com seu roteiro criativo, recheando as cenas com seus diálogos excepcionais, o filme é imperdível e muito bo-ni-to de se ver. Assista e entenda o por quê.
5. Medo da Verdade (Gone Baby Gone, 2007).
A estréia na direção de Ben Affleck é surpreendente em todos os sentidos. Baseado num livro do mesmo autor de Sobre Meninos e Lobos, o filme sobre o desaparecimento de uma garotinha investigada por um detetive particular vai além, com atuação marcante de Casey Affleck, resolução engenhosa, denso e elenco de apoio sensacional.
6. O Cheiro do Ralo (Idem, 2007).
O texto é genial (baseado num livro de Lourenço Murtarelli), repleto de diálogos e frases que fazem efeito (“a vida é dura”, entre outras). Um Selton Mello visceral, situações bizarramente divertidas e até mesmo com ecos criativos variando entre Tarantino e Guy Ritchie, transformando o filme numa experiência insana e imperdível.
7. O Hospedeiro (The Host,2007) O que você diria ao se deparar com um filme de monstro vindo da Coréia do Sul? Nem pense em desistir. É envolvente, tem trilha sonora flertando com Hitchcock, cenas de paralisar o coração e que ao mesmo tempo consegue divertir com suas piadas ingênuas. Extremamente bem dirigido, funciona como suspense (na maioria das vezes), funciona como comédia (em alguns momentos) e ainda dá uma clara cutucada nos EUA.
8. Conduta de Risco (Michael Clayton, 2007) Com uma edição que valoriza muito o início e final, consegue equilibrar bem o drama (em doses maiores) e suspense. Mesmo com um bom tom de conspiração no roteiro, o coração pulsante do filme são as atuações do trio Clooney (destroçado por dentro e forte por fora), Wilkinson e Swinton.
Piaf – Um Hino ao Amor (La Vie en Rose/La Môme, 2007).
1. O Magnata (2007).
2. Turistas (Turistas, 2007).
3. Norbit (Norbit, 2007).
4. Desbravadores (Pathfinder, 2006).
5. A Última Legião (Last Legion, 2007).
6. As Férias de Mr. Bean (Mr. Bean´s Holiday, 2007).
7. Motoqueiros Selvagens (Wild Hogs, 2007).
8. A Estranha Perfeita (Perfect Stranger, 2007).
9. A Colheita do Mal (The Reapering, 2007).
10. Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider, 2007) e O Vidente (Next, 2007).
A Lenda de Beowulf (Beowulf, 2007).
Jogos Mortais IV (Saw IV, 2007).