sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Oscar 2006 e seus desdobramentos


O número mágico da noite do Oscar foi 3.

Vejamos.

Coube a King Kong o que era seu de direito, três prêmios técnicos: Melhor Edição de Som, Mixagem de Som e Efeitos Visuais.

Memórias de Uma Gueixa também cumpriu bem seu papel. Mesmo sendo esquecido na indicação de Melhor Atriz, o filme levou para casa três Oscars: Melhor Fotografia, Figurino e Direção de Arte & Cenários. Todos um show à parte.

O Segredo de Brokeback Moutain perdeu o principal prêmio da noite, é verdade, mas levou com honras três estatuetas douradas: Melhor Diretor para Ang Lee, Roteiro Adaptado e Trilha Sonora. Digamos que para um filme muito bom, mas nada de espetacular já está de bom tamanho. O burburinho pela perca da principal categoria foi gigantesco, mas temos de ser justos: mesmo quebrando paradigmas com seu tema de amor universal, O Segredo de Brokeback Moutain não é o melhor filme do ano. Posso citar pelo menos outros cinco filmes superiores a ele: O Jardineiro Fiel, Marcas da Violência, Ponto Final – Match Point (esses três injustamente não indicados para Melhor Filme), Boa Noite e Boa Sorte e Crash – No Limite. Para finalizar o assunto, Capote e Syriana são tão bons quanto o filme de Ang Lee, mas nem por isso receberam tantos prêmios ou badalação.

Philip Seymour Hoffman ganhou o Oscar de Melhor Ator pela sua personificação em Capote. Nada contra, ele está perfeito, assim como David Strathairn em Boa Noite e Boa Sorte. Será que podia dar empate? Vamos dizer que está em boas mãos. Os demais indicados têm atuações sóbrias, mas nada que superem os dois citados acima.

Mas Melhor Atriz, sei não... A indústria e suas estrelas fabricadas. Lembram de Gwyneth Paltrow?

Sim, aquela que venceu Fernanda Montenegro por Central do Brasil e Cate Blanchett por Elizabeth. Então. Temos mais uma americana vencedora do prêmio. Reese Whitherspoon, estrela de comédias românticas bobinhas como Doce Lar, Legalmente Loira 1 e 2, E Se Fosse Verdade, entre outros, abocanhou o prêmio de Melhor Atriz e transforma-se em estrela de primeira grandeza. A queridinha da América do momento. Felicity Huffman (da série de sucesso Desesperate Housewifes) arrasa como uma transexual em Transamérica, mas sabe como é, no momento Hollywood não está precisando de uma estrela feia e quarentona.

E George Clooney? Parecia que estava adivinhando. Quando recebeu sua estatueta de Melhor Ator Coadjuvante por Syriana – A Indústria do Petróleo, ele disparou sorrindo: “Isso quer dizer que não vou levar como Melhor Diretor”. Sim, seu filme Boa Noite e Boa Sorte, indicado em seis categorias sairia de mãos abanando, infelizmente. Elementar meu caro Clooney, você foi afagado com esse prêmio de consolação. Não que ele esteja mau no filme, longe disso, mas se tivéssemos merecimento para a categoria o vencedor seria Paul Giamatti, por A Luta Pela Esperança. E isso serviria como um ‘jab’ duplo, pois ano passado ele nem foi lembrado pela bela atuação em Sideways – Entre Umas e Outras. Fica para a próxima compensação.

Não esqueçamos de Rachel Weisz e sua representatividade em O Jardineiro Fiel. Ela venceu com méritos o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, mas parecia em conjunto, para ela e seu diretor, o esquecido do ano Fernando Meirelles, ao qual ela agradeceu merecidamente. Sim, a Academia nem chegou a indicar o brasileiro, num dos melhores e mais representativos filmes do ano.

E o que dizer da vitória, por que não, surpreendente de Crash – No Limite? Foram três Oscars: Melhor Filme, Roteiro Original e Edição. Bem, primeiro o filme que marca a estréia de Paul Haggis (roteirista oscarizado ano passado por Menina de Ouro) na direção é excepcional. Sem estrelas, sem efeitos especiais nem superprodução. O principal trunfo é seu roteiro engenhoso. A intolerância racial e humana, a violência das grandes cidades, o dia-a-dia tumultuado, o sistema que não funciona, o senso de não ser e ter. Tudo isso num mosaico de emoções e situações que nos colocam em contato com nossa própria realidade. Personagens tão diferentes e iguais, que se cruzam em estórias entrelaçadas pelo amor e ódio em doses bem distintas. Um filme para ser visto e estudado como um retrato do nosso tempo.

Mas apesar da premiação-surpresa de Crash - No Limite, a Academia continua apostando em coisas certinhas, aqui temos dois casos distintos para comentar: Quando será que Tim Burton vai levar seu Oscar para casa? No ano que tínhamos a maravilhosa obra de humor negro Noiva-Cadáver do mestre da imaginação Burton, a academia premiou o bacaninha Wallace e Gromit e a Batalha dos Vegetais como Melhor Animação. Sim, fazer o quê... E o melhor filme estrangeiro ficou para o melodrama Sul-Africano Tsotsi, vencendo o polêmico filme Israelense sobre os homens-bombas Paradise Now (vencedor do Globo de Ouro).

É Isso aí. É o prêmio da indústria americana. E ano que vem tem mais. Mais injustiças, mais compensações, mais barbadas, mais surpresas, mais coisas certinhas, mais tudo de ‘novo-outra-vez-novamente’.

> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 08/03/2006.

Trilha Sonora nas Caixetas: Don´t No Why, Norah Jones.

O Prêmio da Indústria do Cinema, Também Conhecido Como Oscar


Bem, saíram as indicações para o Oscar 2006, o prêmio da indústria do cinema, ou como preferem os americanos, o maior prêmio do cinema. Ta bom, se fosse artisticamente justo, eu também diria isso.


Como já era de se esperar, O Segredo de Brokeback Moutain lidera a lista com 8 indicações, em todas as principais categorias. È favorito em pelo menos três: Filme, Diretor-Ang Lee e Roteiro Adaptado. Talvez Trilha Sonora, vamos ver.


Como havia escrito, Munique (que foi considerado pela revista Time como o melhor filme do ano) de Spilberg conseguiu figurar entre os principais indicados. Tem 5 indicações (Melhor Filme, Diretor-Spilberg, Roteiro Adaptado, Edição e Trilha Sonora), é favorito para edição, mas sua campanha para as principais categorias está apenas começando.


Dando uma arrancada e levando 6 indicações temos o excelente Crash – No Limite, estréia na direção do roteirista de Menina de Ouro, Paul Haggis. Disputa Melhor Filme e Direção, entre outros, mas deve levar mesmo a estatueta de Melhor Roteiro Original.


Um grande destaque nas indicações chama-se George Clooney. Ele obteve 3 indicações no total. Pelo seu segundo filme na direção, Boa Noite e Boa Sorte, sobre a caça ás bruxas do comunismo nos EUA, foi indicado como Melhor Filme e Clooney está concorrendo como Melhor Diretor e na categoria de Melhor Roteiro Original. O filme concorre ainda em outras 3 categorias, mas deve levar apenas a estatueta pela sua belíssima fotografia em preto e branco. Sua terceira indicação para a premiação ocorre no inédito Syriana, agora como Ator Coadjuvante. Seu principal concorrente nessa categoria é Paul Giamati, em A Luta Pela Esperança, que pode tanto ser recompensado tanto pela não indicação em Sideways – Entre Umas e Outras, como também ser agraciado por seu belo trabalho na película.


Acertei em cheio em dois filmes na previsão das indicações: King Kong, que está apenas concorrendo (merecidamente) em Oscars técnicos, e Johnny & June (a história da vida do cantor country Johnny Cash e sua esposa June), que não conseguiu ser indicado como Melhor Filme, mas emplacou outras 5 indicações. Seus protagonistas, Joaquim Phoenix e Reese Whiterspoon (ambos ganhadores do Globo de Ouro), estão indicados, com amplo favoritismo para Whiterspoon como melhor atriz, apesar de concorrer com a também vencedora do Globo de Ouro Felicity Huffman, que faz um transexual em Transamerica (também indicado para Melhor Canção). Phoenix tem um concorrente de peso, Philip Seymour Hoffman, que também faz um personagem real, no caso o escritor Truman Capote, em Capote (indicado em outras 4 categorias, incluindo Filme e Diretor-Bennet Miller). Sua vitória pela personificação do escritor é praticamente certa.


Agora vamos para as decepções nas indicações: Começando pela mais dolorida ausência: O Jardineiro Fiel do brasileiro Fernando Meirelles. Ele está nas principais listas de melhores filmes do ano, mas falhou em ser indicado nas categorias mais importantes. O filme obteve apenas 4 indicações: Roteiro Adaptado, Edição, Trilha Sonora e Atriz Coadjuvante para Rachel Weizs, que por sinal é franca favorita para levar a estatueta para casa (além de merecido, vale também como consolação ao grande trabalho de Meirelles).


Descrito pelo próprio Woody Allen como seu melhor filme já feito, para Ponto Final - Match Point restou-lhe apenas no fim uma mísera indicação, à de Roteiro Original.


Marcas da Violência, uma grande obra do mestre David Cronemberg, foi indicado para Melhor Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante para o ótimo William Hurt, mas esqueceram de lhe conferir indicações de Filme, Diretor e (principalmente) Atriz para Maria Bello, que está magnífica.


E por fim, temos Memórias de uma Gueixa, superprodução de Rob Marshall (de Chicago), que está indicado em 6 categorias, mas nenhuma de grande expressão. Ainda assim deve levar Melhor Figurino, Direção de Arte e Trilha Sonora.


E para os favoritos, em termos de comparação, vale lembrar que os vencedores Chicago, Gladiador, Shakespeare Apaixonado e Conduzindo Miss Daisy, levaram Melhor Filme, mas não Diretor. Isso sem falar nos filmes de maiores nominações no ano que não repetiram a premiação como O Aviador, Gangues de Nova York, Bugsy e Apollo 13, que não levaram nada de significativo ou coisa nenhuma.


Agora é apreciar os indicados nos cinemas e acompanhar a premiação (não adianta torcer, aprendi isso com os anos), que acontecerá no dia 5 de Março, um domingo.


> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 01/02/2006.


Trilha Sonora nas Caixetas: Make Your Own Kind of Music, Mama Cass.

Vencedores e Perdedores rumo ao Oscar 2006


Todo ano é assim. Após a premiação do Globo de Ouro 2006 (que funciona como uma prévia do Oscar), críticos e analistas apontam seus palpites sobre a maior premiação da indústria cinematográfica.


Sim, porque o Oscar é mais uma premiação de indústria do quê artística. Temos casos e mais casos que, ao longo dos anos, comprovam essa teoria. Temos exceções? Claro, mas como diz o dito popular: toda regra tem sua exceção, e no Oscar não poderia ser diferente.


Depois de abocanhar os principais prêmios da crítica do ano (a lista é grande: Leão de Ouro no Festival de Veneza 2005, Melhor Filme e Diretor pela Associação dos Críticos de Los Angeles, de Boston, de Dallas, de São Francisco, pelo Círculo de Críticos de Nova York e do Sudeste, e Melhor Diretor pelo National Board of Review. Ufa!), O Segredo de Brokeback Moutain (Brokeback Moutain, 2005), confirmou seu favoritismo e levou também 4 Globos de Ouro: Melhor Filme-Drama, Diretor-Ang Lee, Roteiro e Canção Original. Todas as previsões apontam que a estória do romance incomum entre dois cowboys nos EUA dos anos 60, receberá o maior número de indicações no próximo Oscar, refletindo também na premiação.


Mas ainda não terminamos com os vencedores. George Clooney ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante por Syriana - A Indústria do Petróleo (Syriana, 2005), um filme corajoso sobre a indústria do petróleo e suas politicagens. Clooney, aliás, está muito cotado para sua primeira indicação ao Oscar tanto como Coadjuvante por Syriana, quanto como Diretor e Filme pelo muito bem recebido Boa Noite e Boa Sorte (Good Night and Good Luck, 2005), já que ganhou como Melhor Filme pelo National Board of Review, além de outras indicações.


O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener, 2005), produção internacional dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, ganhou apenas na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, para Rachel Weisz, mas vai com muita força para receber indicações nas principais categorias no próximo Oscar. E louvemos uma questão até então não levantada: Indicação também já é um prêmio. Sim, claro. Vejamos o caso do próprio Meirelles. Vamos repassar a lista dos indicados ao Globo de Ouro de Melhor Diretor: Woody Allen, por Ponto Final - Match Point (Match Point, 2005); Peter Jackson, por King Kong (Idem, 2005); Steven Spilberg, por Munique (Munich, 2005) e George Clooney, por Boa Noite e Boa Sorte (Good Night and Good Luck, 2005). Entrar nesta seleta lista já uma grande vitória.


Johnny & June (Walk The Line, 2005), cinebiografia do cantor de músicas country Johnny Cash, levou 3 Globos de Ouro: Melhor Filme-Comédia/Musical, Ator-Comédia/Musical (Joaquim Phoenix) e Atriz-Comédia/Musical (Reese Whiterspoon), alçando assim seus protagonistas a favoritos a indicações. Não creio muito na força do filme, mas com certeza Phoenix e Whisterspoon serão indicados.


Dois filmes saíram enfraquecidos da disputa, mas, que merecem toda a atenção são Ponto Final - Match Point (Match Point, 2005) de Woody Allen, e Crash – No Limite (Crash, 2005) de Paul Haggis. Suas indicações devem ficar restritas a Roteiro e Coadjuvantes, ficando de fora dos prêmios de Direção e Filme.


Philip Seymour Hoffman levou o prêmio de Melhor Ator-Drama, pela sua personificação do Truman Capote por Capote (Idem, 2005). Eis aqui um forte concorrente para o prêmio de Melhor Ator (juntamente com Russel Crowe por A Luta Pela Esperança e o já citado Phoenix). Melhor atriz-Drama foi para Felicity Huffman em Transamérica (Idem, 2005), mais conhecida pela série de sucesso Desesperate Housewifes, e com grandes chances de indicação no próximo Oscar.


Um filme que pode surpreender e ainda não citado é Memórias de uma Gueixa (Memoirs of a Geisha 2005) de Rob Marshall (do oscarizado Chicago). Venceu com Melhor Trilha Sonora Original, mas deve levar algumas indicações, incluindo o de Melhor Atriz para Ziyi Zhang (revelada por Ang Lee em O Tigre e o Dragão).


Marcas da Violência (A History of Violence, 2005) de David Cronemberg, saiu de mãos vazias, mas com sua estória forte e de grande tensão dramática, deve estar também entre os principais indicados (Filme e Atriz, principalmente).


Não esqueçamos de também de Munique (Munich, 2005) de Spilberg, que mesmo com um tema muito complicado nos EUA (o combate ao terrorismo, e também por ser longo, com pouco mais de 2 horas e 30), vem recebendo boa recepção dos críticos e público, além do Blockbuster King Kong, que para mim deve ater-se a figurar apenas nas categorias técnicas.
E será que teremos surpresas, azarões? Sim, claro. Principalmente nas indicações, que na minha opinião também funciona como uma forma de premiar os melhores da indústria cinematográfica mais rentável do mundo.


Ou seja, no Oscar, perder também é ganhar.


> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 18/01/2006.


Trilha Sonora nas Caixetas: Tristes Versos, Enverso.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Pecado é não assistir

O que dizer além do que já foi dito?

“Melhor filme do ano!”.
“Melhor adaptação de quadrinhos já feita!”.

Bem, vou tentar expressar apenas minha impressão sobre a película então. Sin City – A Cidade do Pecado (Sin City, EUA, 2005), a adaptação de algumas de uma série de estórias publicadas em forma de graphic novel de mesmo nome do mestre dos quadrinhos Frank Miller, tem muitos méritos.


Primeiro louvemos o multi-funcional Robert Rodriguez, o cara é diretor, roteirista, produtor, músico e editor dos próprios filmes (ele mesmo tem uma fábrica de filmes na própria casa!). Rodriguez insistiu e não só conseguiu realizar o filme com a benção de Frank Miller, como também o convenceu a estrear na co-direção do longa. E ainda teve a honra de ter Quentin Tarantino como diretor convidado (!) Sim, é isso mesmo. Ele dirige apenas uma cena, e ganhou 1 dólar por isso, simbólico, sabe. Quer saber qual é a cena? Uma seqüência na qual Clive Owen (Closer - Perto Demais) e Benicio Del Toro (21 Gramas) dialogam.



Então, e nem chegamos ainda no elenco...
Além dos já citados (Owen e Del Toro), temos ainda Bruce Willis (Duro de Matar), Britanny Murphy (8 Mile – Rua das Ilusões), Rosário Dawson (Alexandre - O Grande), Michael Clarke Duncan (À Espera de Um Milagre), Michael Madsen (Cães de Aluguel), Jessica Alba (Quarteto Fantástico), Nick Stahl (Entre 4 Paredes), Mickey Rouke (9 ½ Semanas de Amor), Rutger Hauer (Blade Runner - O Caçador de Andróides), Elijah Wood (Trilogia O Senhor dos Anéis), Carla Gugino (Olhos de Serpente), Josh Hartnett (Pearl Harbor)...


A historia, ah sim, temos um prólogo, três estórias entrelaçadas e um pequeno epílogo, todos banhados de sangue, ação e altas doses de humor negro, com mocinhas em apuros, bandidos boa-praça, sujeitos deploráveis, anti-heróis, policiais corruptos, mulheres fatais e assassinos. Nada convencional, apenas sensacional. Parece que estamos vendo quadrinhos em movimento, com tamanho grafismo e um uso soberbo do preto e branco, enquanto as cores e as luzes servem exatamente para nos subjetivar idéias, cutucar o espectador.




O que posso escrever mais: o que é que vocês estão esperando?
Vão logo assistir.
Já viram?
Então vejam de novo, nunca é demais.


Que venham os já prometidos Sin City 2 e 3.

Nota: 9,0

> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 07/12/2005.

Trilha Sonora nas Caixetas: Black Dog, Led Zeppelin.

Tim Burton e Sua Fábrica de Sonhos

Willy Wonka é um recluso, milionário, esquisito e excêntrico dono da mais fantástica fábrica de chocolate que já existiu. Da sua fábrica também saem as mais saborosas guloseimas já feitas.

Tim Burton é um recluso, milionário, esquisito e excêntrico dono de uma das mentes mais engenhosas do cinema moderno. Da sua mente também saem as mais belas fábulas cinematográficas.

Burton certa vez afirmou que um dos seus livros prediletos é exatamente Charlie e a Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl. E ninguém melhor do que Burton para levar as páginas de Dahl para o cinema com a precisão necessária, pois primeira vez o livro é fielmente adaptado para a película em A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and the Chocolate Factory, EUA/ING, 2005).

Quem gosta de cinema deve lembrar que essa não a primeira vez que o livro de Dahl é adaptado. Quem ainda não viu aquele filme de 1971 com mesmo nome e que tinha Gene Wilder como Willy Wonka, que vez ou outra passa sempre na tv aberta? As diferenças entre as duas versões são claras: no primeiro não existe um certo tom de tristeza que corretamente foi untado no filme de Burton, que acrescenta também flashbacks necessários, para contar a infância de Willy Wonka e fazendo-nos acreditar no porquê de sua personalidade ímpar. O final é diferente e ficou bem melhor, definido e fiel ao livro de Dhal.

E para não fazer feio na sua versão, Burton cercou-se de velhos e talentosos parceiros. Na pele de Wonka, temos o versátil Johnny Depp (com quem já havia trabalhado na fábula Edward Mãos-de-Tesoura de 1990, no soberbo Ed Wood de 1994, no ‘terrir’ de primeira A Lenda do Cavaleiro-Sem-Cabeça de 1999 e no humor negro de Noiva-Cadáver de 2005) que simplesmente passeia entre o agradável e o assustador com extrema sutileza.

Ainda no elenco Freddie Highmore (parceiro de cena de Depp em Em Busca da Terra do Nunca de 2004) como Charlie e Helena Boham-Carter (também parceira de cena de Depp em Noiva-Cadáver de 2005). A responsabilidade de adaptar o livro para as telas ficou a cargo de John August (do mágico Peixe Grande de 2003), enquanto a trilha sonora é do Ex-Oingo Boingo Danny Elfman (que simplesmente musicou todos os doze filmes de Burton para o cinema). Com o time completo, foi só correr para o abraço, com sucesso de público e crítica.


Uma excelente diversão irrestrita a idade, o DVD duplo contém uma série de extras que contemplam os espectadores com todo o processo de filmagem, cenas especiais e a construção de seus marcantes personagens. Assista e deleite-se com seu sabor nada amargo. Uma delícia.

> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 30/11/2005.

Trilha Sonora nas Caixetas: Stay, Oingo Boingo.

Bourne. Jason Bourne.

No ano das continuações no cinema, finalmente um filme realmente espetacular e com razão pra existir. Matt Damon retorna no capítulo final da trilogia de Jason Bourne (será?), O ULTIMATO BOURNE (The Bourne Ultimatum, 2007), mais uma vez sob o comando de Paul Greengass.


Fazendo uma conexão imediata com o capítulo anterior (A Supremacia Bourne, de 2004) Jason Bourne (Matt Damon) vai em busca de sua origem. Investigando seu próprio passado, Bourne viaja para Moscou, Paris Londres, Tanger, para finalmente chegar em Nova York, onde busca as respostas para solucionar seu caso, enquanto é perseguido pela CIA, Interpol e por grupos obscuros do governo americano.

Quem disse que um filme de ação não precisa ser inteligente e ter um roteiro redondo? O Ultimato Bourne possui essas qualidades e vai além: direção insana de Paul Greengass, edição inebriante, trilha sonora frenética, cenas absurdamente perfeitas e de tirar o fôlego, onde não se percebe a adição de efeitos especiais, tudo na marra. Além do elenco cheio de notáveis.


A começar pelo Bourne de Matt Damon. Um personagem de silêncios, algumas perguntas e muita pancada. As últimas escolhas de Damon foram sensacionais: Syriana – A Indústria do Petróleo (2005), O Bom Pastor (2006) e Os Infiltrados (2006).

Reprisando o papel do capítulo anterior, temos Joan Allen, como Pamela Landy, e Julia Stiles (presente na Trilogia Bourne) como Nicky Parsons. Allen (classuda) já foi indicada ao Oscar três vezes (sempre como coadjuvante), por Nixon (1995), As Bruxas de Salém (1996) e A Conspiração (2000). Stiles fez os sucessos de bilheteria 10 Coisas que Eu Odeio em Você (1999) e o remake de A Profecia (2006).

Mais do elenco. Em papéis importantes como agentes do alto escalão da CIA temos David Strathairn, indicado ao Oscar e Globo de Ouro de ator por Boa Noite, Boa Sorte (2005) e Scott Glenn, veterano de filmes como O Silêncio dos Inocentes (1991) e Dia de Treinamento (2001). Finalizando Albert Finney, num papel misterioso e importante para a conclusão da saga de Bourne. Finney já foi indicado cinco vezes ao Oscar, incluindo As Aventuras de Tom Jones (1963) e Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento (2000).


Falando especificamente das cenas de ação, são incontáveis as seqüências que primam pelos cortes rápidos e direção fulminante de Greengass, com destaque para a perseguição de carros em NY e a seqüência em que Bourne pula de um prédio para o outro, culminando com um quebra-pau sensacional. Sabemos que 007 é, sem dúvida, um ícone do cinema, mas em se tratando de desenvolvimento do personagem e o propósito de suas cenas de ação, ele tem que apreender para chegar à excelência alcançada por Jason Bourne na sua trilogia.

O Ultimato Bourne não é apenas mais um filme de ação, é um filmaço de adjetivos, com força suficiente para ser eternizado, sem exagero, como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos.

NOTA: 9,3

INFORMAÇÕES ESPECIAIS:

O diretor: Paul Greengass foi indicado ao Oscar de direção pelo sufocante Vôo United 93 (2006), e ganhou o BAFTA de diretor pelo mesmo filme. Pelo pungente Domingo Sangrento (2002) ele ganhou dois prêmios em Berlim: Urso de Prata de direção e Prêmio do Júri;

Os Filmes: estreando em 2002 sem muito alarde, A Identidade Bourne foi dirigido por Doug Liman (do agitado Sr. & Sra. Smith de 2005) e era baseado no livro de Robert Ludlum de mesmo nome. Com um sucesso considerável de bilheteria (U$ 121 milhões, somente no mercado americano), Paul Greengass foi contratado para dirigir sua continuação, A Supremacia Bourne (2004), também baseado no livro de mesmo nome. U$ 176 milhões depois, uma terceira parte (desta vez levemente baseado no livro de Robert Ludlum), O Ultimato Bourne (2007) foi inevitável;

Trilha sonora nas caixetas: Love and Peace or Else, U2

> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 21/08/2007.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Bond. James Bond.

Depois de 10 anos e quatro filmes depois com Pierce Brosnan à frente da franquia multimilionária de James Bond, os produtores decidiram dar uma guinada no personagem. E para isso tomaram duas decisões: Primeiro, adaptar um livro de Ian Fleming, chamado Cassino Royale, no qual ele descreve os primeiros passos do agente 007. Segundo, já que se trata do início da carreira do agente secreto mais famoso do mundo, o ator teria que ser um pouco mais jovem para tal empreitada.


E assim chegamos a esse novo 007 – Cassino Royale, dirigido pelo mesmo Martin Campbell que já havia lançado Brosnan no papel de Bond, agora apostando mais uma vez num novo rosto para o agente secreto: Daniel Craig. O filme começa a todo vapor, mostrando Bond ganhando sua permissão para matar (exatamente a alcunha de “00”) numa audaciosa missão planejada por “M” (Judi Dench), sua chefe na Inteligência Britânica.

A partir daí surgem novos personagens e novas motivações. James Bond (Daniel Craig) em sua primeira missão oficial, tem de encontrar um banqueiro do crime chamado Le Criffre (Mads Mikkelsen) e impedi-lo de vencer um torneio de pôquer num cassino e usar o dinheiro para financiar o terrorismo e guerrilheiros. Para entrar no jogo milionário do Cassino Royale, Bond terá que entrar em ação com a ajuda de um informante local (Giancarlo Giannini) e uma agente do Tesouro Nacional (Eva Green) a tiracolo.

Como 007 – Cassino Royale é um filme que trata dos primeiros passos de James Bond, é interessante percebemos a estória como um começo de tudo. De como 007 moldou sua personalidade (em relação às mulheres, aos inimigos, ao trabalho), como ele foi descobrindo como tratar do ego no dia-a-dia e sua forma de utilizar a força física (que aqui é em alta voltagem), mas que com o passar dos anos passa a ser bem mais estratégico.

Daniel Craig é feio, carrancudo e carrega um bico por todo o filme, mas tem a imponência e a virilidade transbordando na tela num tom necessário para o ritmo da estória e a nova apresentação do personagem em si. Sua fórmula do Bond é simples, tem 10% de charme, 20% de físico e 70% de pura brutalidade, com um clima sombrio permeando o filme.

Está tudo no seu lugar: a abertura estilizada acompanhada de uma nova canção, cenas violentas, seqüências de ação de enlouquecer, paisagens perfeitas, mulheres sensuais, carros maravilhosos, algumas engenhocas (mas nada demais), o Martini e suas frases de efeito (“Bond. James Bond”), mas 15 minutos a menos de projeção não faria mal a ninguém.

INFORMAÇÕES ESPECIAIS

Martin Campbell: diretor de 007 Contra Goldeneye (1995), filme que lançou Pierce Brosnan como James Bond e trouxe de volta o sucesso à franquia de 007, Campbell também dirigiu o estrondo de bilheteria A Máscara do Zorro (1998), sua seqüência de razoável performance (A Lenda do Zorro de 2005) e Limite Vertical (2000);

Canção: You Know My Name, a canção que abre 007 – Cassino Royale é interpretado por Chris Cornell (vocalista da banda Audioslave), e foi feita especialmente para o filme em parceria com David Arnold, compositor da trilha sonora original de 007 – Cassino Royale;

Daniel Craig: Ator inglês que veio do teatro, Craig já fez pequenos, mas marcantes papéis em grandes filmes, como Elizabeth (1998), Estrada Para Perdição (2002) e Munique (2004). Atuou também no fraquíssimo Lara Croft: Tomb Raider (2001) e no curioso Camisa de Força (2005), mas dizem que os produtores o escolheram para 007 pelo papel em Nem Tudo É O Que Parece (2004);

Eva Green: francesa de encanto incomum, Green foi descoberta por ninguém menos que Bernardo Bertolucci, no qual a dirigiu em Os Sonhadores (2003). Emprestou também talento e beleza também para Ridlley Scott em Cruzada (2005);

Madds Mikkelsen: estreou em Hollywood com a nova versão de Rei Arthur (2004), o vilão Le Criffre veio da escola européia que filmava filmes de arte com base no movimento Dogma 95, como a trilogia Bledder;

Judi Dench: já interpretou “M”, a chefona de Bond, em outros quatro filmes da franquia (007 Contra Goldeneye de 1995; 007 – O Amanhã Nunca Morre de 1997; 007 – O Mundo Não é O Bastante de 1999; 007 – Um Novo Dia Para Morrer de 2002) e ganhou o Oscar de atriz coadjuvante por Shakespeare Apaixonado (1998);

Giancarlo Giannini: veterano ator italiano que faz pequenos papéis em produções hollywoodianas como Caminhando Nas Nuvens (1995), Hannibal (2001) e Chamas da Vingança (2004);

Roteiristas: escrito originalmente pela dupla Neal Purvis e Robert Wade, responsáveis também por 007 – O Amanhã Nunca Morre de 1997; 007 – O Mundo Não é O Bastante de 1999, o roteiro teve o acabamento final dado por Paul Haggis, vencedor de três Oscars, roteiro adaptado por Menina de Ouro (2004), roteiro original e filme por Crash – No Limite (2005);

> Originalmente publicado no site http://www.opovo.com.br/ (coluna Script), em 20/12/2006.

Nota: 8,6


Trilha sonora nas caixetas: Be Yourself, Audioslave.

Um Verdadeiro Sacrifício

Imagine um suspense que não assusta nem causa medo, e sequer prende atenção. Pronto, agora você entendeu o que é O Sacrifício, novo filme estrelado por Nicolas Cage. A película conta a história de um xerife de uma pequena cidade (Cage), que após passar por um traumático acidente entra de cabeça na investigação do desaparecimento de uma menina numa comunidade afastada, onde os moradores escondem um segredo terrível.

De início perturbador O Sacrifício é a refilmagem de O Homem de Palha (1973) filme B de suspense que tinha Christopher Lee no elenco. Apenas de início, porque depois de 20 minutos tudo que o longa provoca é sono no espectador. Cage (que também é produtor do filme) esforça-se para dar vazão ao personagem obcecado na busca da verdadeira história por trás do mistério do sumiço de uma garotinha, mas o filme simplesmente não decola. Leelee Sobieski (revelada por Stanley Kubrick em De Olhos Bem Fechados) e a veterana Ellen Burstyn (que esteve maravilhosa em Réquiem Para Um Sonho) passam vexame num filme fraco cheio de situações clichês e de diálogos bobos.

Totalmente fora de seu próprio padrão e gênero, o filme é dirigido pelo competente Neil LaBute que tem em seu currículo os excelentes Na Companhia dos Homens (1997), Seus Amigos, Seus Vizinhos (1998), A Enfermeira Betty (2001) e Possessão (2002). O verdadeiro sacrifício na verdade é conseguir assistir até o final do filme sem dar uma bela cochiladinha.

Cotação: Péssimo. Nota: 2,0

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 03/11/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Socorro, Arnaldo Antunes.

Salada de Bichos

Por vez ou outra os adultos reclamavam de levarem os menores aos cinemas, por acharem alguns filmes um porre ou bobagens onde só as crianças se divertiam. De uns tempos para cá, a situação está meio invertida. Os maiores esperam os desenhos mais bacanas entrarem em cartaz e correm para as salas de exibição, às vezes com uma vontade maior até que os próprios pequenos. A Casa Monstro, Os Sem-Floresta, Os Incríveis, Shrek 1 e 2, Procurando Nemo, FormiguinhaZ, Vida de Inseto, Monstros S/A, Toy Story 1 e 2, Aladdin, O Rei Leão, A Bela e a Fera, A Fuga das Galinhas e Wallace & Gromit estão aí para comprovar que animação é um divertimento sem rótulos ou contra-indicação, feita para todos que gostam de uma boa história e diversão garantida. Isso sem esquecer os sarcásticos e cativantes Noiva-Cadáver e O Estranho Mundo de Jack (ambos com o selo de qualidade Tim Burton) e o oriental e deslumbrante A Viagem de Chihiro.

Infelizmente esse novo O Bicho Vai Pegar, primeiro longa-metragem da Sony Pictures Animation, não chega nem perto dos citados anteriormente. Não que seja um filme chato. É engraçadinho e bem feito, mas conta uma história já vista anteriormente em outros filmes (bem melhores). Entenda o porquê: pegue um parceiro que perturba, mas é uma comédia (lembram de o Burro de Shrek?), lance cenas politicamente incorretas de apreciação de fast food (lembram de Os Sem-Floresta?) e um personagem principal que é uma atração adestrada de um parque florestal, mas devia ser um legítimo selvagem e, na verdade, não conhece a natureza nem os perigos da selva (lembram de Madagascar?).

A história gira em torno de Boog (no original feito pelo comediante Martin Lawrence, de Vovô...Zona), um urso pardo domesticado e bem acomodado por uma guarda florestal com comidinha e cantinho quente pra dormir, sem esquecer do ursinho de pelúcia Pimpão. Tudo ia bem até conhecer um cervo amalucado chamado Elliot (dublado por Ashton Kutcher, de Cara, Cadê Meu Carro?), que o leva a cometer atos de rebeldia. Despejado do seu cantinho, Boog é levado de volta para a floresta. Pior: às vésperas da temporada de caça.

A tentativa de ser um divertimento apenas para os pequenos é próximo do ideal, com as confusões de Boog e Elliot no centro das questões, inserindo ainda uma mensagem de companheirismo, amizade e contra a violência. Mas com uma história um pouco batida e ainda com o uso de algumas canções (melosas) permeando o filme, O Bicho Vai Pegar fica no meio termo entre diversão ligeira e uma animação exclusivamente infantil.

O BICHO VAI PEGAR (Open Season, EUA, 2006). De Roger Allers, Jill Culton e Anthony Stacchi. Vozes de Ashton Kutcher e Martin Lawrence. 86 min.

Cotação: Regular. Nota: 6,0

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Vida & Arte, em 12/10/2006.

Trilha Sonora nas Caixetas: Brainstorm, Artic Monkeys.

Dois Dedos de Bobagem

(título original: Muita Besteira e Dois Dedos de Bobagem)


Daniel Filho é um diretor de televisão respeitável. Dono de um currículo interminável na telinha, Filho fez no longínquo ano de 1983 o longa-metragem O Cangaceiro Trapalhão. Retornou a tela grande em 2001 com o bem recebido A Partilha. Partiu para a comédia fantástica com o sucesso de público A Dona da História, em 2004. Animado veio no começo do ano com a comédia besteirol Se Eu Fosse Você, com resultados (de público) ainda mais fantásticos. Sem esfriar nem a cadeira de diretor, Daniel Filho espera um resultado no mínimo igual com o novo e fraquíssimo Muito Gelo e Dois Dedos D´Agua, uma comédia pra lá de besta.




A história gira em torno de Suzana e Roberta (respectivamente Paloma Duarte e Mariana Ximenes) que detestam a avó (Laura Cardoso) e bolam um plano para seqüestrá-la, mas acabam envolvendo em suas confusões um advogado careta (Ângelo Paes Leme) e o marido de Suzana, um médico boboca (Thiago Lacerda).

Amplamente divulgado como uma nova comédia dos criadores de Os Normais (que é bacana), Muito Gelo... é tão idiota que parece um quadro malfadado de Zorra Total. Suas gags são televisivas e primárias, fazendo uso de desenho animado, cores e sons com a finalidade de fazer graça com as situações. Pior para os atores, como a veterana Laura Cardoso que tem de passar por cada cena ridícula, enquanto Thiago Lacerda age como um completo retardado mediante as situações mais patéticas possíveis. Lamentável desperdício de tempo, dinheiro e celulóide, bem que o título poderia ser Muita Besteira e Dois Dedos de Bobagem, no barato.

MUITO GELO E DOIS DEDOS D´AGUA (IDEM, BRA, 2006). De Daniel Filho. Com Mariana Ximenes, Paloma Duarte, Ângelo Paes Leme, Laura Cardoso e Thiago Lacerda. 108 min.

Cotação: Péssimo. Nota: 1,1

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 29/09/2006.

Trilha sonora nas caixetas: Riot Van, Artic Monkeys.

Dália Morna

Los Angeles anos 40. Uma bela aspirante à atriz (Mia Kirshner) é brutalmente assassinada, num crime que se tornou conhecido como o assassinato da Dália Negra. Uma dupla de policiais conhecidos pela mídia por Fogo (Aaron Eckhart) e Gelo (Josh Hartnett) embrenha-se no submundo do crime organizado, sexo, prostituição, dos ricos e poderosos de Hollywood em busca da verdade.
Baseado num romance de James Ellroy (o mesmo de Los Angeles - Cidade Proibida), Dália Negra é um filme noir por natureza, recheado de mulheres fatais, cenas subjetivas, trilha característica, imagens estilosas, triângulo amoroso e narração em off. Mas tudo isso não o torna um grande filme. Dirigido pelo calejado Brian De Palma (dos fantásticos e longínquos Os Intocáveis e Scarface), o filme começa bem, tem fotografia primorosa, frases de efeito e algumas cenas "De Palminianas" (em especial a do descobrimento do corpo e a sequência da escadaria). Mas prejudicado por suas soluções pouco prováveis e com clima excessivamente arrastado, De Palma nos apresenta a uma história cheia de pontas soltas e ritmo frouxo.

Sem falar nas más atuações de duas excelentes atrizes, que aqui fazem mulheres fatais: Scarlett Johansson, desperdiçando sua beleza e brincando com sua piteira; e Hilary Swank, totalmente perdida num papel sem nenhuma inspiração. Apenas corretos estão Josh Hartnett e Aaron Eckhart, enquanto Mia Kirshner simplesmente seduz com seu jeito de menina e olhos penetrantes.

Baseado em fatos reais e por tudo que prometia, Dália Negra poderia ter sido um filmaço. Longe de ser ruim, esse novo De Palma é um suspense policial morno e deixa uma sensação de que está faltando alguma coisa em sua essência.


DÁLIA NEGRA (The Black Dahlia, EUA/ALE, 2006). De Brian DePalma.
Com Josh Hartnett, Aaron Eckhart, Scarlett Johansson, Hilary Swank e Mia Kirshner. 121 min.

Cotação: Regular. Nota: 6,0

> Originalmente publicado no jornal O Povo, caderno Guia Vida & Arte, em 13/10/2006.

Trilha Sonora nas Caixetas: Tal Segredo, Karranka.