sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Oscar 2006 e seus desdobramentos


O número mágico da noite do Oscar foi 3.

Vejamos.

Coube a King Kong o que era seu de direito, três prêmios técnicos: Melhor Edição de Som, Mixagem de Som e Efeitos Visuais.

Memórias de Uma Gueixa também cumpriu bem seu papel. Mesmo sendo esquecido na indicação de Melhor Atriz, o filme levou para casa três Oscars: Melhor Fotografia, Figurino e Direção de Arte & Cenários. Todos um show à parte.

O Segredo de Brokeback Moutain perdeu o principal prêmio da noite, é verdade, mas levou com honras três estatuetas douradas: Melhor Diretor para Ang Lee, Roteiro Adaptado e Trilha Sonora. Digamos que para um filme muito bom, mas nada de espetacular já está de bom tamanho. O burburinho pela perca da principal categoria foi gigantesco, mas temos de ser justos: mesmo quebrando paradigmas com seu tema de amor universal, O Segredo de Brokeback Moutain não é o melhor filme do ano. Posso citar pelo menos outros cinco filmes superiores a ele: O Jardineiro Fiel, Marcas da Violência, Ponto Final – Match Point (esses três injustamente não indicados para Melhor Filme), Boa Noite e Boa Sorte e Crash – No Limite. Para finalizar o assunto, Capote e Syriana são tão bons quanto o filme de Ang Lee, mas nem por isso receberam tantos prêmios ou badalação.

Philip Seymour Hoffman ganhou o Oscar de Melhor Ator pela sua personificação em Capote. Nada contra, ele está perfeito, assim como David Strathairn em Boa Noite e Boa Sorte. Será que podia dar empate? Vamos dizer que está em boas mãos. Os demais indicados têm atuações sóbrias, mas nada que superem os dois citados acima.

Mas Melhor Atriz, sei não... A indústria e suas estrelas fabricadas. Lembram de Gwyneth Paltrow?

Sim, aquela que venceu Fernanda Montenegro por Central do Brasil e Cate Blanchett por Elizabeth. Então. Temos mais uma americana vencedora do prêmio. Reese Whitherspoon, estrela de comédias românticas bobinhas como Doce Lar, Legalmente Loira 1 e 2, E Se Fosse Verdade, entre outros, abocanhou o prêmio de Melhor Atriz e transforma-se em estrela de primeira grandeza. A queridinha da América do momento. Felicity Huffman (da série de sucesso Desesperate Housewifes) arrasa como uma transexual em Transamérica, mas sabe como é, no momento Hollywood não está precisando de uma estrela feia e quarentona.

E George Clooney? Parecia que estava adivinhando. Quando recebeu sua estatueta de Melhor Ator Coadjuvante por Syriana – A Indústria do Petróleo, ele disparou sorrindo: “Isso quer dizer que não vou levar como Melhor Diretor”. Sim, seu filme Boa Noite e Boa Sorte, indicado em seis categorias sairia de mãos abanando, infelizmente. Elementar meu caro Clooney, você foi afagado com esse prêmio de consolação. Não que ele esteja mau no filme, longe disso, mas se tivéssemos merecimento para a categoria o vencedor seria Paul Giamatti, por A Luta Pela Esperança. E isso serviria como um ‘jab’ duplo, pois ano passado ele nem foi lembrado pela bela atuação em Sideways – Entre Umas e Outras. Fica para a próxima compensação.

Não esqueçamos de Rachel Weisz e sua representatividade em O Jardineiro Fiel. Ela venceu com méritos o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, mas parecia em conjunto, para ela e seu diretor, o esquecido do ano Fernando Meirelles, ao qual ela agradeceu merecidamente. Sim, a Academia nem chegou a indicar o brasileiro, num dos melhores e mais representativos filmes do ano.

E o que dizer da vitória, por que não, surpreendente de Crash – No Limite? Foram três Oscars: Melhor Filme, Roteiro Original e Edição. Bem, primeiro o filme que marca a estréia de Paul Haggis (roteirista oscarizado ano passado por Menina de Ouro) na direção é excepcional. Sem estrelas, sem efeitos especiais nem superprodução. O principal trunfo é seu roteiro engenhoso. A intolerância racial e humana, a violência das grandes cidades, o dia-a-dia tumultuado, o sistema que não funciona, o senso de não ser e ter. Tudo isso num mosaico de emoções e situações que nos colocam em contato com nossa própria realidade. Personagens tão diferentes e iguais, que se cruzam em estórias entrelaçadas pelo amor e ódio em doses bem distintas. Um filme para ser visto e estudado como um retrato do nosso tempo.

Mas apesar da premiação-surpresa de Crash - No Limite, a Academia continua apostando em coisas certinhas, aqui temos dois casos distintos para comentar: Quando será que Tim Burton vai levar seu Oscar para casa? No ano que tínhamos a maravilhosa obra de humor negro Noiva-Cadáver do mestre da imaginação Burton, a academia premiou o bacaninha Wallace e Gromit e a Batalha dos Vegetais como Melhor Animação. Sim, fazer o quê... E o melhor filme estrangeiro ficou para o melodrama Sul-Africano Tsotsi, vencendo o polêmico filme Israelense sobre os homens-bombas Paradise Now (vencedor do Globo de Ouro).

É Isso aí. É o prêmio da indústria americana. E ano que vem tem mais. Mais injustiças, mais compensações, mais barbadas, mais surpresas, mais coisas certinhas, mais tudo de ‘novo-outra-vez-novamente’.

> Originalmente publicado no site http://www.solcultura.com.br/ (coluna Iscrípite), em 08/03/2006.

Trilha Sonora nas Caixetas: Don´t No Why, Norah Jones.

Um comentário:

Moni S. disse...

vai atualizar mais não?
saudades!